Aumento de 1,5 ponto percentual da Selic é insuficiente para ancorar as expectativas para inflação, dizem especialistas

Economistas comentam a decisão do Copom de elevar a Selic para 7,75% ao ano; veja o que fazer com seus investimentos

Anderson Figo

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SÃO PAULO — O aumento de 1,5 ponto percentual na Selic, anunciado nesta quarta-feira (27) pelo Banco Central, é insuficiente para ancorar as expectativas do mercado para a economia brasileira. A avaliação é de especialistas ouvidos pelo InfoMoney, na esteira da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), que levou a taxa básica de juros a 7,75% ao ano.

Para Luana Miranda, economista da Gap Asset, o aumento da Selic deveria ter sido de pelo menos 2 pontos percentuais. “O BC está sendo visto como atrás da curva o tempo inteiro. Essa sensação de ‘desancoragem’ das expectativas, de perda de credibilidade com o anúncio de mudança da regra do teto de gastos ou o furo no teto de gastos que seria incluído na PEC dos Precatórios, isso dá uma sensação de fragilização da nossa âncora fiscal e consequentemente aumenta nosso juro neutro”, disse.

“Esse ajuste maior do que 150 pontos-base [na Selic] seria para o BC sair de trás da curva e tomar o domínio sobre as expectativas para a inflação. Isso para evitar uma perda de controle, o que geraria uma deterioração ainda maior e juros ainda mais altos no futuro. (…) Ficou muito claro que o BC não mudou sua forma de atuar. Ele vai continuar com um ciclo de aumento de juros e não um ajuste forte, como a gente achou que poderia ser”, completou.

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A economista destacou que o BC admitiu uma inflação de 4,1% para o ano que vem, muito acima da meta de 3,5%. “O mercado, no geral, espera mais. Aqui nós projetamos 4,6%”, disse. “Tudo indica que a Selic deve voltar aos dois dígitos no ano que vem. Aqui na Gap, a gente espera duas elevações de 150 pontos-base. Uma ele já indicou que deve fazer na próxima reunião, fazendo a Selic terminar este ano em 9,25% ao ano. E depois devem ter mais duas elevações, uma de 0,75 ponto percentual e outra de 0,5 ponto percentual, levando a taxa para 10,5%.”

Patrícia Palomo, sócia da Sonata Gestão de Patrimônio, afirmou que o fato de o BC ter reforçado seu compromisso com metas inflacionárias é importante. “Ele tem clareza em relação ao mandato dele”, disse. “Ele citou esse risco maior fiscal, o que mostra que existe uma dependência da política monetária em relação à dinâmica fiscal. De fato tem que haver uma coordenação, que hoje não está sendo correta”, completou.

Ela citou que a inflação mais alta tem um componente externo, com o aumento nos preços das commodities, e um componente importante local, que foi a desvalorização do real. “Existe um efeito que é o câmbio se desvalorizando, o que impacta preços. E temos também uma questão do custo energético. Há uma crise hídrica, falta de chuva e as hidrelétricas não estão dando conta, aumentando o custo da energia. Além do choque do preço do petróleo”, afirmou.

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Alexandre Lohmann, economista da Constância Investimentos, disse que o Copom decidiu ser cauteloso. “A postura cautelosa serviu até no cenário deles. Eles estão prevendo uma inflação de 4,1% em 2022, uma alta importante na comparação com o Copom anterior, em que a previsão era de 3,7%. Mas o mercado já está vendo uma inflação bem pior, com a inflação superior a 4,4% e, com as novas atualizações, projetando uma inflação acima do teto da meta, ou seja, em torno de 5%”, disse.

“O cenário piorou bastante, mas o BC ainda ficou com um pé atrás, esperando para avaliar melhor a situação e não podemos descartar que o ritmo de alta da taxa Selic acelere na próxima reunião. Porém, no cenário-base, deu uma taxa de mais de 1,5 ponto e uma taxa final na casa dos 11,50%, que seria atingido em março”, completou o economista.

Gustavo Cruz, estrategista da RB investimentos, citou que o BC já “anunciou” um novo aumento de 1,5 ponto percentual da Selic na reunião do Copom de dezembro, mas disse que a autoridade monetária deveria deixar esse aumento em aberto, principalmente porque há uma parcela do mercado que acredita ser necessária uma alta ainda maior que isso.

“Teremos mais dados de inflação daqui até a próxima reunião do Copom, que podem vir piores, bem altos, e que também não dão qualquer tipo de segurança para o BC de que a meta [de inflação] do ano que vem está tranquila de ser cumprida, nem a de 2023”, afirmou o estrategista da RB.

João Leal, economista da Rio Bravo Investimentos, achou “cauteloso” o tom do BC em sua avaliação fiscal, mas citou que pelo menos a autoridade monetária destacou que houve uma deterioração no balanço de riscos. “O comitê foi mais duro na avaliação da inflação, apontando que há uma pressão mais disseminada afetando os itens subjacentes”, afirmou.

“Os modelos apontam que o juro em 9,75% seria suficiente para levar a inflação de 2023 para baixo da meta, o que indica que pode não haver muito espaço para Selic ir além desse nível. O cenário base não muda com mais uma alta de 150 pontos-base para dezembro, mas o nível da Selic ao final de ciclo dependerá dos próximos dados e se haverá maior deterioração na situação fiscal”, completou o economista.

O que fazer com os investimentos?

João Beck, economista e sócio da BRA, achou o comunicado do BC “firme, objetivo e passando a mensagem de que irresponsabilidade fiscal será remediada com mais juros”. “Foi um comunicado de um Banco Central independente e que persegue a meta de inflação”, afirmou.

Para cenários em que a taxa de juros está cada vez maior e superando expectativas, o economista da BRA disse que o pós-fixado é o produto mais indicado. “Quem acaba se prejudicando são os investidores que investiram em prefixados meses atrás porque esses produtos foram a expectativa de tempos passados. Quem comprou no início do ano, por exemplo, carrega uma taxa inferior a que está agora, afinal não havia a expectativa de uma alta elevada em tão pouco tempo. Cada vez mais a expectativa de alta da Selic sobe. Quem fica prejudicado é o prefixado e quem ganha é o pós-fixado”, disse.

Beck afirmou ainda que os títulos indexados à inflação também são boas opções nesse momento, pois contam com remuneração “bem atrativa para aqueles investidores que têm pretensão de carregar o título até o vencimento”. “Basta que o investidor escolha o título que entenda que não será preciso se desfazer no meio do caminho para alguma necessidade de curto prazo”, afirmou.

Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos, concorda que os investidores devem ficar de olho em aplicações pós-fixadas devido às elevações da Selic. “Chamo a atenção para o fator Imposto de Renda. Se o cliente de renda fixa puder evitar aplicar em produtos que tenham IR, serão beneficiados nesse cenário de aumento de inflação e de juros. De maneira prática, vale se atentar a aplicações em LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures.”

“Em renda variável, é válido procurar ativos em Bolsa que ganhem com a alta de inflação e juros como os setores de bancos, seguradoras e energia porque neles as empresas fazem o repasse de inflação para os preços. O investidor deve procurar também diversificar investimentos ao redor do mundo, apesar do dólar mais alto. O brasileiro está aprendendo que não existe só Bolsa de Valores no Brasil e tem comprado mais BDRs e abrindo contas em outros países”, completou.

“Os juros no Brasil vão continuar subindo. As taxas de juros futuras já anteciparam esse movimento. O mercado atual não olha para a taxa atual da Selic, mas sim para a curva de juros. Se o investidor aproveitar a inclinação da curva e aplicar no curto prazo, o risco de perder dinheiro é pouco. Então, no prefixado é possível ter maiores rendimentos do que no pós-fixado”, concluiu Costa.

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Anderson Figo

Editor de Minhas Finanças do InfoMoney, cobre temas como consumo, tecnologia, negócios e investimentos.