Ata do Fomc: diretores discutiram hipótese de elevar juros, caso seja necessário

Segundo a ata da reunião encerrada em 1º de maio, "vários participantes" do Fomc mencionaram a disposição de apertar ainda mais a política; incerteza sobre a persistência da inflação foi o principal motivo

Roberto de Lira

Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Jim Bourg/Reuters)

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A falta de confiança por parte dos diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) com a continuidade do processo de desinflação foi o tom da ata da última reunião do Fomc, o comitê de política monetária, que aconteceu nos dias 30 de abril e 1º de maio. Segundo o documento divulgado nesta quarta-feira (22), “vários participantes” mencionaram a disposição de apertar ainda mais a política, “caso os riscos para a inflação se materializem de forma que tal ação se torne apropriada”.

Os participantes, no geral, “observaram sua incerteza sobre a persistência da inflação e concordaram que os dados recentes não aumentaram sua confiança de que a inflação estava se movendo de forma sustentável em direção a 2%”.

De acordo com a ata, alguns participantes apontaram para eventos geopolíticos ou outros fatores que resultam em gargalos de oferta mais severos ou custos de transporte mais altos, o que poderia pressionar os preços para cima e pesar sobre o crescimento econômico.

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Para esses diretores, a possibilidade de que eventos geopolíticos possam gerar aumentos nos preços das commodities também foi vista como um risco de alta para a inflação.

Além disso, alguns participantes registaram incerteza quanto ao grau de restrição das condições financeiras atuais e ao risco associado de que tais condições não fossem suficientemente restritivas para a demanda agregada e a inflação.

Mas vários participantes comentaram que o aumento da eficiência e as inovações tecnológicas poderiam aumentar o crescimento da produtividade de forma sustentada, o que poderia permitir que a economia crescesse mais rápido sem aumentar a inflação.

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Os participantes também observaram riscos de baixa para a atividade econômica, incluindo desaceleração do crescimento econômico na China, deterioração das condições nos mercados domésticos de CRE ou um forte aperto nas condições financeiras.

Assim ao ponderar sobre os riscos e incertezas em torno das perspectivas econômicas, os participantes do Fomc decidiram mais uma vez manter o intervalo das taxas de juros entre 5,25% e 5,5% ao ano.

Condições econômicas

Em suas discussões de política monetária, os membros do comitê concordaram na reunião que a atividade econômica continuou a se expandir em um ritmo sólido, que os ganhos de emprego permaneceram fortes e que a taxa de desemprego permaneceu baixa. Ele também reconheceram que inflação diminuiu desde o ano passado, mas que permaneceu elevada.

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“Os membros também concordaram que, nos últimos meses, houve falta de mais progresso em direção à meta de inflação de 2% do Comitê e concordaram em reconhecer esse desenvolvimento no comunicado pós-reunião”, diz a ata.

Os membros também avaliaram as perspectivas econômicas como incertas e concordaram que permaneceriam altamente atentos aos riscos de inflação.

Mercado de trabalho

Sobre o mercado de trabalho, foi lembrado que a demanda e a oferta de mão de obra continuaram a se equilibrar melhor, embora a velocidade desse realinhamento pareça ter desacelerado nos últimos meses. O emprego total não agrícola, por exemplo, aumentou a um ritmo médio mensal mais rápido no primeiro trimestre de 2024 do que no quarto trimestre de 2023.

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A taxa de desemprego caiu para 3,8% em março, enquanto a taxa de participação na força de trabalho e a taxa de emprego em relação à população subiram 0,2 ponto percentual. A taxa de desemprego para os afro-americanos aumentou e a taxa para os hispânicos diminuiu. Ambas as taxas foram maiores do que as de asiáticos e brancos.

As variações de 12 meses no índice de custo do emprego (ECI, na sigla em inglês) e no rendimento médio por hora de todos os empregados diminuíram em março em relação ao ano anterior, “mas a variação de 3 meses no ECI aumentou visivelmente em relação ao ritmo médio que prevaleceu no segundo semestre de 2023”, diz a ata.

Inflação do PCE

Sobre a inflação de preços ao consumidor, os preços totais do PCE (medida ligada ao consumo preferida pelo Fed) aumentaram 2,7% nos 12 meses encerrados em março, enquanto o núcleo da inflação de preços do PCE – que exclui as variações de energia e de alimentos – ficou em 2,8% na mesma comparação.

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“Ambas as medidas de inflação foram consideravelmente menores do que seus níveis do ano anterior, mas surpreenderam para o lado positivo. Embora algumas medidas de expectativas de inflação de curto prazo tenham subido, as expectativas de longo prazo foram pouco alteradas e ficaram em níveis consistentes com os que prevaleciam antes da pandemia.”

PIB

Sobre a atividade econômica, o documento diz que, de acordo com a estimativa antecipada, o PIB real subiu modestamente no primeiro trimestre. No entanto, as compras finais domésticas privadas – que compreende o PCE e o investimento fixo privado e que muitas vezes fornece um sinal melhor do que o PIB do impulso econômico subjacente – registraram um aumento semelhante aos ganhos sólidos vistos no segundo semestre de 2023.

“As exportações reais de bens e serviços cresceram a um ritmo morno no primeiro trimestre, com os ganhos nas exportações de alimentos, bens de consumo e bens de capital sendo compensados principalmente por quedas nas exportações de suprimentos industriais”, apontou a ata.

Em contrapartida, diz o documento, as importações reais aumentaram a um ritmo acelerado, impulsionadas em parte por um grande aumento das compras de bens de capital. Ao todo, as exportações líquidas contribuíram negativamente de forma significativa para o crescimento do PIB dos EUA no primeiro trimestre, afirma a ata.