Ata do Copom reforça visão de Selic elevada por mais tempo, mas dados fracos podem fazer BC “esperar para ver”

BBI acredita que ciclo de alta se encerrará com Selic a 11,5%, abaixo do consenso de mercado, enquanto XP acredita que BC olhará para dados do 1º tri

Lara Rizério

Fachada do Banco Central do Brasil

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SÃO PAULO – A ata divulgada nesta última terça-feira (14) da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que elevou a Selic para 9,25% ao ano, reforçou o discurso hawkish (duro, preocupado com a inflação) do Banco Central. No documento, foi revelado que “o Copom concluiu que o ciclo de aperto monetário deverá ser mais contracionista do que o utilizado no cenário básico por todo o horizonte relevante”.

O Copom considerou ainda acelerar o ritmo de aperto, mas concluiu que “o ritmo de ajuste de 1,50 ponto percentual, neste momento, é adequado para atingir, ao longo do ciclo de aperto monetário, um patamar suficientemente contracionista para não somente garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante, mas também consolidar a ancoragem das expectativas de prazos mais longos.”

Para a XP, o Copom está ganhando tempo para avaliar melhor o estado da economia global e doméstica no primeiro trimestre do ano que vem. Enquanto isso, ele manterá o tom duro e aumentará a Selic em outros 1,5 ponto em sua reunião de fevereiro para manter as expectativas ancoradas.

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“Considerando que a atividade já está perdendo fôlego e que boa parte do aperto monetário ainda não atingiu a economia, ainda acreditamos que, até março, o Copom se sentirá confortável em reduzir o ritmo para 0,75 ponto e, a partir daí, entrará em modo de ‘esperar para ver’ com a taxa Selic em 11,50%. Mas reconhecemos que o risco está integralmente inclinado para cima”, avalia.

Depois da ata dura do Copom, o Goldman Sachs apontou que a determinação do Copom é em adotar uma postura significativamente restritiva e perseverar até que o processo de desinflação se consolide e as expectativas de inflação se ancorem novamente às respectivas metas.

Além disso, para o banco, o Copom não parece ter se desviado ou estar excessivamente sensível ao fraco perfil de crescimento doméstico e às incertas perspectivas globais de crescimento e de novas variantes da Covid-19. Assim, o Goldman projeta outro aumento de 1,5 ponto na reunião do início de fevereiro de 2022, para 10,75%, e uma taxa Selic terminal entre 11,75% -12% no final do primeiro trimestre do ano que vem, com cortes modestos provisoriamente previstos para o final de 2022.

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Já o Itaú vê a ata indicando que as autoridades planejam aumentar a taxa Selic para a casa dos 12%, se não além, e manter a taxa básica em patamar contracionista por um período prolongado. “Isso claramente contraria as expectativas de que o Copom possa realizar cortes de juros já no final de 2022. Por enquanto, esperamos que as autoridades encerrem o ciclo de alta em março, com a Selic em 11,75% ao ano, mas os riscos vão na direção de juros mais elevados’,  ressalta.

O Bradesco BBI, por sua vez, ressalta que a ata do Copom de hoje esclarece os motivos pelos quais o Banco Central  continua mantendo o forte ritmo de alta da taxa Selic, bem como sua postura agressiva. De fato, em relação ao balanço de riscos, a mensagem reforçou as preocupações do BC quanto à fragilidade do arcabouço fiscal, bem como com a persistência da inflação corrente ainda elevada e sua difusão, ao mesmo tempo em que enfatizou a perda de tração da atividade econômica como nas mensagens anteriores. Porém, desta vez, o foco foi mais na desancoragem das expectativas de inflação no longo prazo.

Contudo, os economistas do banco apontam que está tendo uma redução das taxas futuras dos principais contratos nas últimas sessões devido aos dados recentes de atividade econômica muito fracos, juntamente com o IPCA de novembro abaixo do esperado na sexta-feira passada.

“Embora muita coisa possa acontecer até a próxima reunião do Copom em fevereiro, a desaceleração da atividade econômica, aliada aos primeiros sinais de arrefecimento da inflação (principalmente do IPCA), nos leva por ora a manter nossa expectativa de taxa Selic em um pico de 11,50 % em março”, avaliam.

Cabe ressaltar que, também nesta terça, foi divulgado do dado de volume de serviços de outubro, que recuou 1,2% na passagem de setembro para outubro, segunda taxa negativa consecutiva, acumulando uma retração de 1,9% em dois meses, segundo divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O BBI aponta que outubro repetiu a tendência recente de números decepcionantes da atividade econômica – desta vez novamente para os três principais indicadores (serviços, vendas no varejo e produção industrial).

“De fato, embora existam muitas razões para explicar tal comportamento (por exemplo, alto desemprego, gargalos na cadeia de abastecimento, alta inflação, alta incerteza, alta da Selic, entre outros), o fato é que a economia entrou em recessão técnica, com o segundo e o terceiro trimestres apresentando números negativos na margem, e as perspectivas para o quarto trimestre continuam decepcionando as estimativas já baixas.

O único lado positivo (e exceção entre os agrupamentos da Pesquisa Mensal de Serviços), os serviços prestados às famílias seguem em trajetória de recuperação, inclusive com aceleração no ritmo de alta entre setembro e outubro (de 1,6% para 2,7%). Essa dinâmica ainda reflete os benefícios da reabertura econômica e aumento da interação social, aponta a XP.

Para o BBI, esse número de serviços, além de reforçar a sua expectativa de alta da Selic terminal abaixo do consenso de mercado (de 11,5% no primeiro trimestre do no que vem), reforça a estimativa de um crescimento baixo do PIB, de 0,2% para 2022.

Ainda nesta semana, serão divulgados ainda na quarta (15) os dados do IBC-Br de outubro, considerado a prévia do PIB do Banco Central, com os economistas do Itaú projetando queda de 0,3% na comparação mensal, levando o acumulado em 12 meses para baixa de 0,8%. Já na quinta (16), o Banco Central apresenta o Relatório Trimestral de Inflação.

Os dois eventos podem tornar mais claros quais serão os próximos passos da autoridade monetária, em um cenário de inflação ainda alta, mas com alguns sinais iniciais de que a economia mais fraca já pode ter reflexo nos preços. Declarações de Roberto Campos Neto, presidente do BC, também são importantes.

Hoje, ele reforçou que a inflação brasileira está claramente descolando, com elementos de disseminação bastante ampliada. “Partes mais voláteis do IPCA começaram a mostrar alguma estabilidade, como alimentação no domicílio. Precisamos esperar como isso vai se comportar para frente”, ressaltou.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.