Ata do Copom: Intensificação do ritmo de cortes de juros é pouco provável

Confiança para acelerar viria apenas com mudança da dinâmica da inflação, especialmente de serviços, e reancoragem sólida das expectativas

Roberto de Lira

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de cortes de juros, uma vez que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária à frente. A afirmação está na Ata da última reunião do colegiado, realizada no dia 20 e que decidiu por um novo corte de 50 pontos-base na taxa Selic, que foi reduzida para 12,75% ao ano.

Segundo o documento, essa confiança viria apenas com uma alteração significativa dos fundamentos da dinâmica da inflação, tais como uma reancoragem mais sólida das expectativas, uma abertura contundente do hiato do produto ou uma dinâmica “substancialmente mais benigna do que a esperada da inflação de serviços”.

O ritmo de 0,50 ponto percentual foi considerado pelos diretores do BC como apropriado nas próximas reuniões para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

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“Tal ritmo conjuga, de um lado, o firme compromisso com a reancoragem de expectativas e a dinâmica desinflacionária e, de outro, o ajuste no nível de aperto monetário em termos reais diante da dinâmica mais benigna da inflação antecipada nas projeções do cenário de referência”, diz o texto da Ata.

Segundo o documento, foi avaliada ainda que não há evidência de que esteja em curso um aperto além do que seria necessário para a convergência da inflação para a meta e que o cenário ainda inspira cautela, reforçando a visão de serenidade e moderação que o Comitê tem expressado.

Preocupação com o fiscal

Sobre as expectativas de inflação, o Copom considera que, após apresentarem reancoragem parcial, elas seguem sendo um fator de preocupação. “O Comitê seguiu avaliando que, entre as possibilidades que justificariam observarmos expectativas de inflação acima da meta estariam as preocupações no âmbito fiscal, receios com a desinflação global e a possível percepção, por parte de analistas, de que o Copom, ao longo do tempo, poderia se tornar mais leniente no combate à inflação”, diz o texto.

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“Desse modo, o Comitê avalia que a redução das expectativas virá por meio de uma atuação firme, em consonância com o objetivo de fortalecer a credibilidade e a reputação tanto das instituições como dos arcabouços econômicos.”

Para o Comitê, parte da incerteza observada nos mercados, com elevação de prêmios de risco e da inflação implícita, estava anteriormente mais em torno do desenho final do arcabouço fiscal e atualmente se refere mais à execução das medidas de receita e despesas compatíveis com o arcabouço e o atingimento das metas fiscais.

“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas.”

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O Copom ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se uma maior persistência das pressões inflacionárias globais e uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado.

Entre os riscos de baixa, foram destacadas a desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

Em sua decisão sobre juros, o Comitê considerou que a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação com reancoragem parcial, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

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“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.”

Para os diretores do BC, em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, reforçaram no documento que anteveem redução de juros de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

“O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

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Cenários externo e interno

Segundo a avaliação dos diretores do BC, o ambiente externo mostra-se mais incerto, com a continuidade do processo de desinflação, a despeito de núcleos de inflação ainda elevados e resiliência nos mercados de trabalho de diversos países.

Ainda segundo a Ata do Copom, em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, “seja dando continuidade a seus ciclos de aperto monetário, seja sinalizando um período prolongado de juros elevados para combater as pressões inflacionárias ou indicando um período de pausa ainda em um ciclo de elevação de juros.”

O Comitê destacou também a elevação das taxas de juros de longo prazo dos Estados Unidos e a perspectiva de menor crescimento na China, “ambas exigindo maior atenção por parte de países emergentes”.

No âmbito doméstico, a avaliação é que o conjunto de indicadores recentes indica um cenário de maior resiliência da atividade econômica. “Os dados referentes à atividade econômica do segundo trimestre, em particular a divulgação do PIB, indicam que setores não cíclicos da economia mantiveram dinamismo, mas também se observou um crescimento no componente da demanda referente ao consumo das famílias”, diz a Ata.

Para o BC, de modo geral, nos indicadores setoriais, observou-se alguma desaceleração no setor de comércio, moderada reaceleração na indústria e estabilidade do crescimento no setor de serviços, após ritmo mais forte nos trimestres anteriores. “O mercado de trabalho segue resiliente, mas com alguma moderação na margem.”

Para os diretores, a inflação ao consumidor segue com uma dinâmica corrente mais benigna, exibindo desaceleração tanto na inflação de serviços quanto nos núcleos de inflação. “Os indicadores que agregam os componentes mais sensíveis ao ciclo econômico e à política monetária, que possuem maior inércia inflacionária, apresentaram menor inflação, mas mantêm-se acima da meta.”

As expectativas de inflação para 2023 estão em 4,9%, as de 2024 se situam em 3,9%, e as de 2025 são de 3,5%.