Armínio Fraga: Brasil não está condenado a crescer só 2%

Segundo dia do evento Onde Investir 2020 contou com as participações do ex-presidente do Banco Central e da economista Zeina Latif

Lara Rizério

Publicidade

SÃO PAULO – O Brasil está saindo de uma recessão profunda, com a retomada do crescimento e com um bom trabalho feito pelo Banco Central em cortar os juros. Contudo, o País pode mais, avalia Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e gestor da Gávea, em painel do evento Onde Investir 2020 realizado nesta terça-feira (14).

“Não vejo o Brasil estruturalmente condenado a crescer 2% [ao ano] para sempre”, apontou o economista, em debate que também contou com a presença de Zeina Latif, consultora econômica.

Para isso, avalia Armínio, é necessária uma mudança de mentalidade, que passa tanto pela alteração na estrutura do gasto público do Brasil, ainda muito atrelado ao funcionalismo e previdência, quanto pela maior atenção em combater as desigualdades sociais.

Masterclass

As Ações mais Promissoras da Bolsa

Baixe uma lista de 10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de valorização para os próximos meses e anos, e assista a uma aula gratuita

E-mail inválido!

Ao informar os dados, você concorda com a nossa Política de Privacidade.

“Dá para ver o copo meio cheio. Se tudo [no Brasil] é mais ou menos, dá para melhorar, mas depende de uma governança maior, de um governo que tenha uma certa visão abrangente, o que se relaciona à questão da forte desigualdade social”, avalia.

Para o economista, o país é um ponto fora da curva, não só em questão de desigualdade absoluta, mas também pela falta de oportunidades. “Hoje, há muitos movimentos de rua pelo mundo que tem um pouco a ver com desigualdade, mas talvez tenham mais a ver com a perda de esperança, falta de expectativa de que as coisas que elas vão melhorar”.

No caso específico brasileiro, avalia, uma correção de rumo seria positiva para o crescimento, com maior investimento em educação, saúde e educação.  Neste caso, é importante contar com a participação do setor privado, com o governo como condutor.

Continua depois da publicidade

“Conectando tudo isso com o mercado, vemos o mercado financeiro feliz, mas sem uma contrapartida na economia real. O ciclo [de recuperação] da economia está vindo, mas o fundamental vem do investimento. É através dele que a recuperação deixa de ser só cíclica e faz com que o Brasil tenha potencial para crescer mais que 2% e 2,5%”, afirma.

Porém, apesar de avaliar que a bolsa brasileira não está barata, Armínio acredita que não estamos numa bolha. “Talvez [a Bolsa esteja] um pouquinho cara para a visão geral do país.” Por outro lado, ele avalia que as empresas estão se financiando com juros mais baixos e isso tudo aponta numa direção positiva, de desenvolvimento do mercado de capitais.

Reforma “caprichada”

Sobre as reformas, a da Previdência, aprovada em outubro de 2019, foi vista como essencial para retomar a confiança. Contudo, o economista também aponta que será necessária em breve outra reforma previdenciária: dada a estrutura populacional, nosso sistema não deveria exibir os déficits que existem atualmente.

Além disso, na sua avaliação, será necessária uma reforma do estado “caprichada” para reduzir os gastos públicos e cortar as despesas com funcionalismo.

Tais mudanças, por sinal, serão cruciais para apontar se o Brasil continuará em sua trajetória de taxa de juros baixas. Atualmente, a Selic está numa mínima histórica de 4,5% ao ano.

“Tudo é um processo, que vai depender de consistência e persistência durante muitos anos. Um juro de 3,5%, 4,5% dos títulos públicos brasileiros indexados à inflação com vencimento mais longo é bem mais razoável do que os 6%, 6,5% do que nós já tivemos. Porém, se nós relaxarmos, nada garante que o cenário pior não volte (…) Com frequência, nos últimos 40 anos, tomamos decisão errada, com um modelo de crescimento que deu pouca atenção à educação, à inovação e ao empreendedorismo e investimento mais básico”, avalia o economista.

No painel com mediação de Giuliana Napolitano, editora-chefe do InfoMoney, Armínio ainda falou sobre o cenário de investimento estrangeiro para o Brasil e perspectivas para o câmbio. Você pode conferir o painel completo no vídeo acima.

Onde Investir 2020 continua

Nesta quarta-feira (15), o Onde Investir 2020 começa com painel sobre as perspectivas para a bolsa brasileira em 2020 e por que vale a pena investir. Confira a programação completa do evento aqui.

Perdeu algum painel? Não se preocupe, todo o conteúdo ficará disponível no canal do YouTube do InfoMoney.

Quer aplicar o que aprendeu no evento e investir melhor?Abra uma conta gratuita na XP. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.