Apesar de vendas acima do esperado, varejo deve seguir impactado por inflação e juros altos

Vendas do comércio em novembro surpreenderam, mas a maioria dos segmentos continua com desempenho negativo

Mitchel Diniz

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Depois do avanço inesperado do setor de serviços, agora foi o varejo brasileiro que surpreendeu positivamente. As vendas cresceram 0,6% entre outubro e novembro do ano passado, interrompendo uma sequência de três quedas mensais. O consenso Refinitiv dos economistas do mercado financeiro apontavam para a estabilidade do indicador e muitas casas de análise apostavam em uma retração. Será um sinal de reversão de tendência?

Mesmo vindo melhor que o esperado, o indicador não trouxe apenas boas notícias. Cinco das oito atividades que compõem a Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) tiveram resultado negativo no período, ou seja, não dá para dizer que a expansão do varejo foi ampla. Vendas de combustíveis e lubrificantes e de móveis e eletrodomésticos estão em queda há seis meses consecutivos.

A atividade varejista em novembro se beneficiou do aumento de 0,9% nas vendas de alimentos e bebidas, de 1,2% em produtos farmacêuticos e de 2,2% em outros bens de uso pessoal, que costumam ser impulsionadas pela Black Friday. Ainda assim, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) destacou o desempenho mais fraco da data em 2021, na comparação com anos anteriores. Problemas na cadeia de suprimentos contribuíram com esse impacto negativo.

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“Esse resultado mostra que, com a aceleração da inflação, as famílias priorizaram o consumo de itens básicos (alimentos) em detrimento de bens duráveis e semi-duráveis”, afirma João Leal, economista da Rio Bravo. Para ele, o avanço do setor “continua com um qualitativo frágil.”

Rodolfo Margato, economista da XP, afirma que as atividades varejistas têm sido prejudicadas pela inflação bastante pressionada, salários baixos, aperto das condições financeiras e deslocamento de maior proporção dos gastos das famílias do mercado de bens para serviços, com a reabertura da economia.

“Logo, não interpretamos a surpresa positiva com o desempenho das vendas em novembro como um sinal de reversão de tendência”, afirma Margato. Segundo o economista, ainda que as estatísticas do mercado de crédito sigam sólidas, a combinação de alta dos juros e o crescente comprometimento de renda das famílias tende a arrefecer empréstimos ao longo de 2022.

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Para o Itaú BBA, o crescimento das vendas no varejo não deve alterar as apostas para o próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) “de nova dose de alta da Selic de 150 pontos-base [1,5 ponto percentual]”.

“Além disso, o aumento [de casos] da variante Ômicron provavelmente também afetará a atividade de varejo (embora menos do que serviços), particularmente em pontos de venda de alta densidade”, escreveram os analistas do Goldman Sachs.

Já Felipe Sichel, estrategista-chefe do Modalmais, avalia que o avanço da pandemia pode contrabalancear o cenário com um menor consumo de serviços, o que poderia de alguma forma beneficiar o varejo, além do pagamento do Auxílio Brasil.

“Com as leituras mensais do IBGE, revisamos nossa projeção de IBC-Br de 0,51% para 0,61% em novembro”, escreveu Sichel.

A XP espera avanço de 0,7% no avanço do índice, conhecido popularmente como “prévia do PIB”, e que será divulgado na próxima segunda-feira (17). Para o PIB do quarto trimestre em sim, a previsão da XP é de crescimento de apenas 0,1% em relação ao trimestre imediatamente anterior e de 1% na comparação anual.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados