Apesar da queda mensal da indústria, economistas veem sinais de recuperação

Setor de bens de capital voltou a mostrar expansão após meses de retração; há esperança que a queda dos juros favoreça alguns setores da indústria, mas sem grandes expectativas

Roberto de Lira

Setor extrativo foi destaque de baixa em janeiro, mas projeções para o ano são boas

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Embora o indicador cheio da produção industrial de janeiro tenha mostrado uma queda mensal de 1,6%, interrompendo uma sequência de cinco meses sem dados negativos, os economistas avaliam que já era esperada uma retração no início do ano. Eles chamam a atenção para sinais de retomada que aparecem nos dados desagregados, uma vez que o comportamento da indústria continuou desigual entre os setores.

João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro, diz que essa heterogeneidade da indústria segue relevante, com alguns setores mostrando forte crescimento e outros apresentando quedas relevantes.

“Quando comparamos com o período pré-pandemia, isso fica evidente. A indústria como um todo está agora 0,8% abaixo desse nível, mas temos as indústrias extrativas operando 5,8% acima e a de transformação 2,0% abaixo”, compara.

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Para o ano, a Kínitro espera resultado melhores, compatíveis com uma aceleração do crescimento da indústria em relação ao ano anterior. “A manutenção dos cortes de juros, a taxa de câmbio bem-comportada e as políticas de estímulo à infraestrutura são elementos que colaboram para essa perspectiva, a partir do afrouxamento das condições financeiras e creditícias no país ao longo do ano”, afirma Savignon.

Bens de capital

Rodolfo Margato, economista da XP, também vê sinais encorajadores em alguns segmentos, uma vez que os dados de janeiro mostraram uma dinâmica um pouco melhor da indústria de transformação como um todo.

“A queda do índice cheio decorreu em grande parte da contração da indústria extrativa. Vemos isso como um ponto e não como uma reversão de tendência e o cenário ainda é bastante favorável para as indústrias extrativas em 2024”, detalha, destacando tanto a extração de petróleo bruto, que vem ganhando participação na balança comercial e no PIB, como de minérios.

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Já outras classes mostraram sinais de recuperação, ainda que incipientes, diz Margato. Ele cita como exemplo a categoria de bens de capital (máquinas e equipamentos). “Observamos a primeira alta nessa métrica depois de nove meses consecutivos de contração. Ainda é cedo para falar sobre o ritmo de retomada dessa categoria de bens de capital, mas é uma sinal encorajador”, reforça.

A XP projeta uma recuperação paulatina de bens de investimento no PIB ao longo do ano, com a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) crescendo 1,2% em 2024, após o tombo de 3% em 2023.

Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, observa que o resultado mensal da produção industrial superou a projeção, mas não muda a visão de que o setor seguirá em ritmo fraco no restante do ano.

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Ela também destaca a alta de 5,2% do segmento de bens de capital, mas pondera que o setor ainda se encontra em patamar muito abaixo de 2022. “Esse resultado do mês reflete mais a volatilidade do índice do que uma tendência para o restante do ano”, avalia

Para ela, ainda que a queda dos juros traga algum alívio para a atividade econômica ao longo do ano, isso não será suficiente para fazer a indústria voltar a crescer. “Por isso, o setor não deve contribuir positivamente para o resultado do PIB de 2024. O que deve impulsionar o crescimento do PIB desse ano é o aumento das despesas do governo e das exportações”, afirma, Claudia, que projeta uma alta de 2,2% para o PIB em 2024.

Igor Cadilhac, do PicPay, é outro economista a destacar a discrepância entre os dados setoriais. Ele lembra que os principais impulsionadores da queda no mês foram a indústria extrativa (-6,4%) e os produtos alimentícios (-5%). Isso apesar do avanço da extração de petróleo e minério de ferro, além de uma maior demanda devido ao aumento da massa salarial e da inflação controlada no setor alimentício.

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“Em resumo, esse resultado foi pontual e não indica a tendência para o ano, que segue com uma visão relativamente positiva. Devemos seguir observando crescimentos nas variações ano contra ano”, sugere..

Olhando à frente, Cadilhac cita entre as preocupações que colocam um viés de baixa para a indústria, a economia global tem menor crescimento, os juros altos e alto comprometimento de renda das famílias. “São ruins para consumo de bens de maior valor agregado e dependentes de crédito”, explica.

Do outro lado, o governo tem promovido políticas de estímulos à atividade econômica, que podem incentivar a indústria. “Projetamos uma variação de 1,2% para a produção industrial brasileira neste ano.”