Analistas preveem variação mais baixa do IPCA de maio, com pressão maior de administrados

Assim como no IPCA-15, indicador deve trazer preços livres comportados; serviços e núcleos devem vir ligeiramente menos intensos

Roberto de Lira

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O IPCA de maio, que será conhecido nesta quarta-feira (7), deverá apresentar a menor variação mensal desde os meses de deflação no ano passado impulsionado pela redução de tributos federais, segundo projeções de economistas. Assim como ocorreu na divulgação do IPCA-15, é esperada alguma pressão de preços administrados, uma desaceleração mais forte nos preços livres e sinais positivos em serviços e nos núcleos do indicador, que são os mais observados pelo Banco Central para a decisão da política monetária.

Para os especialistas, esse comportamento mais benigno da inflação corrente, entanto, pode até ganhar espaço na comunicação do BC na próxima reunião do Copom, mas não vai alterar a tendência de manutenção da taxa Selic nos atuais 13,75%.

Pesquisa feita pela agência Reuters com 20 analistas aponta que o índice oficial de inflação deve ficar em 0,33% em maio na comparação com o mês anterior, na leitura mais fraca desde setembro de 2022. Já o IPCA acumulado em 12 meses ficaria em 4,04%, a menor taxa desde outubro de 2020.

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A projeção de Mirella Hirakawa, economista sênior da AZ Quest, está um pouco mais baixa que a mediana do mercado, de um IPCA de 0,30% na comparação mensal e de uma inflação de 4,01% em 12 meses. “Na margem, o principal vilão devem ser administrados, com uma composição de 23 pontos -base dos 30 bps, com o restante explicado por preços livres”, detalha. Dentro de preços livres, ela destaca a participação de alimentação no domicílio.

Nos preços monitorados, deve aparecer alguma pressão em taxas de esgoto e de energia elétrica, além de produtos farmacêuticos, segundo Mirella.

Nos preços livres a economia da AZ Quest vê os industriais num patamar ainda bem controlado, mostrando desinflação relevante na margem. Com isso, a taxa anula deve sair de uma alta de 6% no final de abril para algo próximo de 5% no final de maio. Ajudado em parte por etanol, mas tem uma contribuição pulverizada em preços de bens industriais”, comenta.

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Sobre o comportamento dos preços de serviços, Mirella prevê que os agregados devem ficar levemente negativos, em 0,1%, principalmente pela queda nas passagens aéreas. No IPCA-15, esses preços caíram 17,3% em maio, queda que deve ser replicada no número fechado do mês.

Sobre os serviços subjacentes, deve se conformar uma desinflação relevante, com expectativa de alta próxima de 0,4% no mês, ante 0,6% nos dados de abril. “A principal mensagem dos números que a gente espera para o IPCA de maio é uma conformação de uma contínua desinflação, não só do número cheio, mas também do núcleo de inflação”, diz a economista.

Essa inflação corrente mais benigna reforça a dinâmica de desinflação, mas gera necessariamente mudanças na condução da política monetárias Na reunião de 20 de junho do Copom, afirma Mirella. “Não adianta só ver a inflação corrente melhorando. Precisamos ver também as expectativas da inflação medida pelo Focus”, explica.

Serviços subjacentes

Guilherme Silva, economista da Ativa Investimentos, tem uma estimativa de um IPCA fechado um pouco mais alta, de 0,38%. Ele diz esperar que o índice acumulado em doze meses também siga um curso baixista. Fruto, em grande parte, da política de desoneração de combustíveis do ano passado.

“Sobre os possíveis destaques, ficaremos de olho na inflação subjacente de serviços, destacada como ponto de atenção pelo próprio BC em comunicação oficial. Adicionalmente, entendemos ser importante observar a média dos núcleos para entender a dinâmica estrutural dos preços”, afirma.

Silva concorda que a inflação corrente é uma das variáveis que compõem a análise de condução da política monetária, mas não a única e nem a preponderante.

“Assim, julgamos como mínimo o espaço para corte de juros em junho. Ainda que a inflação corrente apresente resultado marginalmente mais benigno, o país seguirá com o núcleo acumulado de inflação elevado, a perspectiva para a inflação no horizonte relevante (2024) sem convergência para a meta e o IPCA amplamente desancorado”, comenta.

Rafael Pacheco, economista da Guide Investimentos, por sua vez, projeta uma inflação mensal de 0,29% e uma variação em 12 meses de 4,0%. “No mês de maio, devemos ver uma desaceleração relevante dos preços no setor de serviços, tal como vimos no IPCA-15, principalmente por conta da queda dos preços de passagens aéreas. Mas também devemos ver alguma desaceleração nos preços livres como um todo”, explica.

Olhando para frente, o economista acredita que esse movimento deve continuar, mas sendo puxado pelo setor de serviços como um todo e não apenas nas passagens aéreas, que tem um componente mais volátil. “Isso por conta dos efeitos da política monetária sobre a atividade econômica, que estão cada vez mais visíveis”, analisa.

Pacheco complementa que, além disso, no lado da inflação de alimentos, a oferta maior observada nos últimos trimestres deve continuar se transmitindo em uma maior moderação dos preços. “Esperamos que neste ano a safra siga mais favorável para alguns dos principais produtos na cesta de consumo brasileira”, diz.

Ele alerta no entanto, que o índice acumulado em 12 meses tende a voltar a subir no segundo semestre, uma vez que ele não vai mais computar os meses de deflação no ano passado, com a retirada de impostos sobre combustíveis. Esse corte de tributos levou a uma deflação de 0,68% no IPCA de julho de 2022, de 0,36% em agosto e de 0,29% em setembro.

Sobre a reunião do Copom deste mês, o economista da Guide acredita que será reconhecido no comunicado e na ata o fato de a inflação corrente ter mostrado alguma tendência mais favorável em dados recentes. Mas ele lembra que o Copom olha com mais atenção o movimento das expectativas de inflação. “Nessa ótica, os dados correntes parecem que tiveram pouco impacto até então na inflação de 2024, que é o horizonte relevante de política monetária”, pondera

Por cota disso, a desinflação atual não deve ser suficiente para o Banco Central mudar significativamente sua comunicação, diz o economista. Se houver uma mudança relevante, no balanço de riscos ou na prescrição futura, seria pelo conjunto de fatores, como a aprovação do arcabouço na Câmara, moderação da atividade e recuo do dólar,”, lista.

Cautela

A projeção do Banco Original também é de alta moderada, de 0,28% na margem, motivada pelo reajustes para baixo da Petrobras no preço da gasolina, diesel e GLP, pelo alívio de itens in natura dentro da alimentação no domicílio, pela atenuação em serviços devido à queda de passagens aéreas, aluguel e condomínio, pela desaceleração em vestuário e artigos de residência, e pelo arrefecimento sazonal dos itens de higiene pessoal, dentro de Saúde e cuidados pessoais.

“Caso esse cenário mais otimista se concretize, entendemos que o mercado irá se empolgar no curtíssimo prazo, mas que ainda é insuficiente para baixar os juros na próxima reunião”, comenta o banco. Isso porque, apesar da atenuação recente nos dados de inflação, o comportamento dos serviços e dos núcleos continua a demandar cautela, tendo em vista que são melhoras motivadas por fatores administrados ou voláteis.

A economista Claudia Moreno, diz que a projeção do C6 Bank é de um IPCA de 0,34% em maio, com pressão maior de preços monitorados e com preços livres mais tranquilos.

Entre os preços administrados, ela vê impactos dos reajustes nos jogos de azar e um resquício da alta de produtos farmacêuticos, que foi mais forte em abril.

“Na parte de serviços, esperamos uma queda no número efetivo, de -0,05%, puxado por passagem aérea, que teve queda de 17,3% no IPCA-15”, comenta.

Claudia Moreno diz que a inflação acumulada em 12 meses deve manter a trajetória de queda até junho. “A partir de julho, no início do segundo semestre, esse número deve voltar a subir. A inflação vai para cerca de 3,6% em junho e depois volta a subir para cerca de 6% até o final do ano”, prevê. Essa alta, já esperada, virá por conta dos meses de deflação do ano passado, em função da queda de impostos.

Mas a economista do C6 Bank diz que o número que importa mesmo para o BC é a parte dos núcleos, uma medida de inflação mais “limpa”, que tenta tirar aqueles efeitos que são mais voláteis e capturar de fato a tendência da inflação. E essa inflação ainda está pressionada.

“O BC vai olhar essa desaceleração dos componentes. Já houve queda, mas segue em patamar muito elevado”, comenta.

Ela também não acredita que o BC deve promover alguma mudança de estratégia nesse mês. “O importante é ver a tendência da inflação para as próximas reuniões. Quando a gente olha para os modelos do BC, ainda vê a inflação desses componentes em patamar elevado e eles ainda não vão mostrar espaço para queda de juros agora”, prevê.

Já Rodrigo Caetano, analista da Toro Investimentos, também tem expectativa de que o IPCA tenha novamente um mês de arrefecimento no indicador. “O recuo do índice deve ser puxado pelo grupo de Transportes, capitaneado pela queda nos preços dos combustíveis. Lembrando que, no IPCA-15, índice utilizado como prévia do IPCA, o grupo de Transportes foi um dos que apresentou deflação para o período de apuração”, destaca.

Além do grupo de Transportes, Caetano sugere observar também o comportamento dos preços do grupo de Saúde e Cuidados Pessoais, que após dois meses de fortes altas – puxadas pelo aumento no preço dos medicamentos – deve apresentar menor crescimento.

Outro fator importante que deve favorecer o menor crescimento do IPCA são os preços das commodities agrícolas, que negociam em níveis de preços abaixo dos patamares observados nos últimos trimestres, afirma Caetano.

“Para a reunião do Copom de junho, projetamos uma manutenção da taxa de juros nos atuais patamares, mas um IPCA se mostrando mais fraco e em trajetória de convergência para a meta, devem colaborar para uma projeção de cortes por parte do Copom para as próximas reuniões.”

Leonardo Costa, economista da ASA Investments, estima um IPCA de maio projetado em 0,35%. “Esperamos desaceleração espalhada pelo índice, com destaque para os serviços, com deflação na passagem aérea a taxas mais baixas para aluguel”, afirma.

Além disso, ele destaca que a queda de preço dos combustíveis no atacado já deve afetar o mês de maio, com deflação na gasolina e no etanol. “A média de núcleos também deve desacelerar, com taxas mais baixas nos serviços e nos bens subjacentes. Em 12 meses, o IPCA deve cair para 4,06%”, prevê.

Para Luis Menon, economista da Garde, a inflação do mês ficará em 0,37% em relação ao mês anterior. Ele diz esperar uma desaceleração significativa nos serviços, de 0,52% para -0,09%, sendo muito influenciada pelo item de passagens aéreas, para o qual a projeção é de deflação de 17,3%, após uma alta de 12% um mês ante.

“Neste mês, também vemos um aumento nos preços dos alimentos, especialmente nos itens in natura. Além disso, é importante destacar certa estabilidade nos preços industriais, de 0,39% para 0,30%. No grupo dos preços administrados, o destaque vai para a deflação de 1,70% na gasolina, refletindo o corte feito pela Petrobras”, comenta0

Menon destaca que, especificamente nesse grupo, há um efeito pontual relacionado aos reajustes dos jogos de azar, com um aumento de 12,5% (loterias), algo que não ocorria desde 2019.

O economista da Garde também afirma que, além da desaceleração do índice geral de inflação, será possível observar uma melhora na qualidade da inflação. “Projetamos uma redução na média dos núcleos, de 0,50% para 0,37%, e nos serviços subjacentes, de 0,56% para 0,36%”, prevê.

Considerando a média dessazonalizada e anualizada dos últimos três meses dessas duas métricas, Menos lembra que elas ainda estão acima do teto da meta de inflação. “Portanto, esperamos que o Banco Central aguarde a continuidade desse processo de melhora da inflação por mais alguns meses antes de considerar mudanças na política monetária”, argumenta.