Alvo de China e EUA: entenda por que Taiwan é o país mais perigoso do mundo hoje, segundo economista

Em evento organizado pela Ohmresearch especialistas comentam a panela de pressão em que a Ásia se converteu

Ricardo Bomfim

Exposição de “Escultura de Luz Arquitetônica” em Taiwan (crédito: Fotos Públicas)

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SÃO PAULO – Taiwan é hoje o país mais perigoso do mundo, disse o economista Roberto Dumas Damas. Porém não é porque seja uma potência militar, longe disso. O risco que Taiwan impõe à geopolítica global é como alvo dos interesses de China e Estados Unidos.

Em evento sobre geopolítica da Ohmresearch, Dumas, que é professor do Insper, já morou na China trabalhando para o Itaú BBA e escreveu um livro sobre o país, disse que o presidente chinês, Xi Jinping, quer anexar Taiwan à China continental. O motivo do interesse é a tecnologia ímpar que o país insular tem para a fabricação de semicondutores.

Prasenjit Basu, que foi economista chefe do CSFB e Daiwa para a Ásia, ressaltou no mesmo painel que a China está de cinco a oito anos atrás de Taiwan quando o assunto é tecnologia em semicondutores. “A TSMC, de Taiwan, é a maior fabricante de semicondutores mundial, com 84% da fatia do mercado mundial. Há cerca de 10 anos a Apple abriu mão de sua produção para a TSMC, que produz chips para vários clientes”, explica.

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De acordo com Dumas, isso coloca a ilha na mira dos chineses, que dependem muito de semicondutores para alavancar suas indústrias de tecnologia da informação e inteligência artificial.

Ao mesmo tempo, o governo do presidente democrata, Joe Biden, dos Estados Unidos, já se mostrou interessado em recuperar a hegemonia global isolando a China por meio de instituições internacionais como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e de negociações costuradas com potências europeias.

No entanto, a maior economia da Ásia está tão integrada à cadeia mundial de produção que para isolá-la ou pressioná-la economicamente seria necessário pedir a Coreia do Sul, Japão e Taiwan para pararem de fornecer semicondutores.

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“Xi Jinping quer até o fim do seu mandato trazer Taiwan para o seu território. Se os EUA decidirem não ajudar Taiwan, se Biden decidir que não vale a pena correr esse risco, como Japão e Coreia do Sul vão entender essa mensagem? Não vai também proteger a Coreia do Sul da Coreia do Norte, ou o Japão da China, ou a Tailândia?”, questiona o economista.

Desse modo, os especialistas entendem que é prudente ficar atento aos próximos passos do governo chinês na Ásia e como Biden reagirá a eventuais sinalizações imperialistas de Pequim.

Hong Kong e Xinjiang

Prasenjit Basu destaca que outra panela de pressão geopolítica é Hong Kong, pois desde que a China impôs uma Lei de Segurança Nacional na ilha acabou violando o princípio de “um país, dois sistemas”, que garante certa autonomia ao antigo território britânico em relação à China continental.

“O mundo deveria ter, como uma resposta, se movido para remover Hong Kong dessas organizações internacionais, mas não houve nada disso”, afirma Basu.

Na opinião do economista, a China quer transferir o centro financeiro da Ásia de Hong Kong para Xangai, algo muito difícil de acontecer na prática, uma vez que os investidores continuam confiando muito mais no mercado de Hong Kong, sujeito a leis internacionais, do que na Bolsa da China, que é bem mais sensível a interferência governamental e controle de capitais.

Já em Xinjiang, no noroeste da China, o governo do Partido Comunista tentou forçar, nos últimos anos, os trabalhadores uigures a desistirem de sua fé muçulmana, levando-os a campos de concentração.

“Isso está se tornando uma questão de direitos humanos com claras consequências econômicas, porque os painéis solares que a China é líder global na produção são fabricados na região de Xinjiang”, ressalta.

Rússia

Martin Tixier, gestor da Macronomics, falou sobre os perigos de se provocar a Rússia. Segundo Tixier, a passagem de um destroyer britânico em águas russas do Mar Negro, junto com aviões americanos de reconhecimento, gerou muito nervosismo no país governado por Vladimir Putin.

O gestor acredita que o único “adulto na mesa” quando se trata de relações diplomáticas com a Rússia é a Alemanha. “A Alemanha usa o gás natural da Rússia, então é o país mais realista em relações. A Rússia não falará com a União Europeia, mas falará diretamente com alguns países.”

De acordo com ele, a Rússia está se tornando cada vez menos sensível a sanções econômicas, pois se tornou exportadora de trigo depois de muito tempo dependendo de importações da commodity para alimentar sua população.

“Não se brinca com a Rússia por muito tempo. Já há nacionalistas que acham o Putin ‘mole demais’. A esperança de relações mais calorosas dadas pela Cúpula de Genebra foram colocadas de lado com as manobras britânicas e norte-americanas”, argumenta.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.