“Alta recente da taxa do IPCA preocupa e não preocupa”, afirma economista da MB Associados

Para Sérgio Vale, pressão não vem do excesso de demanda, mas aponta que descontrole fiscal pode pressionar taxa em meados de 2021

Estadão Conteúdo

(Shutterstock)

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A alta da inflação nos últimos meses “é preocupante e não é”, disse o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale. Por um lado, a pressão inflacionária não vem do excesso de demanda numa economia superaquecida. Está mais relacionada a um aumento de custos, por causa da alta do dólar e da desorganização das cadeias produtivas pela pandemia. E a demanda ainda fraca por conta da crise, reforçada pela retirada do auxílio emergencial a partir de janeiro, deverá manter a inflação em torno das metas tanto de 2020 quanto de 2021.

Por outro lado, uma falha do governo em encaminhar minimamente a agenda de reformas necessárias para dar um equilíbrio de longo prazo nas contas públicas poderá levar a novas rodadas de alta no dólar e, em meados de 2021, alimentar uma inflação já mais elevada. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.

A alta da inflação nos últimos meses é preocupante?

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É preocupante e não é. Na metade do ano, muita gente (analistas de mercado) estava esperando inflação de 1% a 2% (em 2020, pelo IPCA). A MB Associados estava com 2,2% (de projeção). A expectativa era de inflação bastante sob controle, pois a demanda tinha despencado muito. Não tínhamos a percepção sobre como seria a recuperação da economia (após a pandemia jogar o País na recessão) nem o comportamento das cotações do dólar. Agora, chegamos ao fim do ano com 4,5% (de projeção para 2020) ou bem próximo disso. Essa aceleração em poucos meses preocupa e assusta um pouco. E ainda continua no ano que vem, no acumulado em 12 meses. Podemos chegar a maio com 6,5% (no IPCA acumulado em 12 meses). No acumulado em 12 meses, o pico vai ser maio e junho (porque o IPCA entre abril e junho de 2020 foi muito baixo e chegou a ter variação negativa). Ao mesmo tempo, precisamos acompanhar os dados porque, nos últimos meses, a inflação tem subido. Não dá para descartar um primeiro semestre (de 2021) pressionado.

Por outro lado, por que não é preocupante?

O câmbio está caindo, o que pode levar a uma descompressão do preço dos importados. O auxílio emergencial deverá ser retirado a partir de janeiro, o que leva a uma pressão negativa de demanda em diversos segmentos. Temos uma inflação que acelerou agora, mas por conta desses elementos pontuais. Como a demanda segue fraca, não vejo a inflação subindo. Projetamos 3,8% em 2021, próximo da meta (de 3,75% em 2021). Isso demandaria só um pequeno ajuste de juros (por parte do Banco Central), marginal, para a inflação ficar próxima da meta. Projetamos que a Selic (a taxa básica de juros, hoje em 2% ao ano) chegará a 3,5% no ano que vem. Ainda assim, é bastante baixa para os padrões brasileiros. Não vejo isso atrapalhando tanto o mercado.

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Então os efeitos dessa inflação pressionada e do combate a ela sobre a economia são pequenos?

No primeiro semestre, mas especialmente nos três primeiros meses, vamos ter o efeito do auxílio emergencial zerado. Pelo menos em dezembro e janeiro, o câmbio parece que vai ficar sob controle. A sucessão no Congresso congela as reformas. Então, se a inflação se acomodar e encaminharmos bem as reformas no início do ano, conseguiremos diminuir o risco. Tudo está atrelado a um sinal fiscal concreto.

O que seria um sinal fiscal concreto?

Seria um sinal pelas reformas. Isso não acontecendo, o câmbio deprecia (o dólar sobe), volta para cima de R$ 5,50. Com a inflação a 6,5% (no acumulado em 12 meses, o que deve ocorrer até maio ou junho) e o câmbio voltando a acelerar, o Banco Central pode ter de subir os juros um pouco mais (do que a projeção de 3,5% ao ano, da MB Associados). Todo esse processo vai afetar muito 2022. Uma subida de juros afetaria 2022, que é um ano eleitoral, já complicado.

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