Além de campeão de produtividade, agronegócio terá papel chave na transição energética

Brasil cresceu em produção de grãos num prazo de dois anos o mesmo que a Ucrânia levou décadas para alcançar

Roberto de Lira

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Além de ser um exemplo de produtividade a cada ano, o setor agrícola do Brasil está pronto para auxiliar na transição energética não só no Brasil, mas em todo o mundo, disseram os participantes do debate “A tese Agro: As perspectivas para o grande impulsionador do PIB brasileiro”, durante a Expert XP 2023, que acontece em São Paulo.

Alexandre Mendonça de Barros, sócio consultor da MB Agro, destacou que a última safra brasileira foi gigante e que o Brasil caminha para produzir 500 milhões de toneladas de grãos por ano, se consolidando como grande ato do mercado global.

“Crescemos 50 milhões de toneladas (de grãos) em dois anos”, afirmou. Para uma base de comparação, ele citou o exemplo da Ucrânia, que exportava os mesmo 50 milhões de toneladas antes da guerra, mas levou décadas para construir a infraestrutura necessária para escoar essa produção. “Fizemos em dois  anos esse volume”, repetiu.

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André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, destacou que o setor é altamente produtivo, tendo multiplicado nos últimos anos sua produção por seis, enquanto a área plantada foi apenas duplicada. “Temos um horizonte de grande. O Brasil tem possibilidade de crescer sem desmatar, sem incomodar ninguém.”

Ele alertou, no entanto, que será preciso criar um ambiente de segurança jurídica para comportar a expansão porque só assim o investidor vai ter possibilidade de fazer a infraestrutura necessária para suportar o crescimento. Para ele, as ampliações recentes na capacidade portuária são um exemplo do que fazer.

Ele afirmou ainda que os economistas têm errado muito suas projeções sobre o PIB porque suas métricas não têm contemplado mudanças em áreas de fronteira propiciadas pelo agronegócios. “A beleza do agronegócio é a descentralização. (O crescimento) Não é só Ribeirão Preto ou Campo Mourão, foi em para regiões de fronteira, com IDH muito baixo. Agro não é renda, é distribuição de renda efetiva”, declarou.

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Rodrigo Penna de Siqueira, CFO da Jalles Machado, afirmou que a contribuição específica do setor sucroenergético para a transição energética no mundo também precisa ser observada por essa ótica social, exatamente porque o segmento é forte gerador de emprego e renda.

Sobre os avanços na transição, Siqueira explicou que o setor sucroenergético tem duas verticais: alimentos (com açúcar) e energia. Na parte de açúcar, o Brasil já é responsável por metade do comércio exterior e é o produtor mais competitivo do mundo, crescendo 1% ao ano. Mas os grandes avanços agora estão na parte da energia.

“Tem o etanol e o bagaço da cana, que agora está virando etanol de segunda geração. E estão acontecendo investimentos em biogás. Nossa planta em Goiás está injetando biogás extraído da vinhaça. Com biogás, etanol, energia a partir de bagaço, etc, o setor é a solução para a transição energética no Brasil e no mundo”, afirmou, destacando que o setor usa apenas 1% da área para gerar 20% da energia.

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Ele destacou ainda o cenário promissor para os biocombustíveis, com o avanço de motores híbridos flex e com projetos de substituição do querosene de aviação e no setor marítimo.

A digitalização e o avanço da biotecnologia também foram lembrados por Alexandre Mendonça de Barros como exemplos do papel transformador do setor. “Vejo duas coisas muito importantes acontecendo, estamos introduzindo o digital no Agro e vivendo a era da biotecnologia, com uso de fungos controlando insetos, insetos controlando insetos”, citou como exemplos.

Siqueira disse que sua empresa tem apostado muito no chamado 4.0 agrícola, que passa pela conectividade. Ele lembrou que, há quatro anos, foi feito um trabalho com a operadora TIM para que todas as áreas da empresa tivessem acesso, o que permitiu o controle em tempo real de todas as atividades da companhia. “Tem dado condição de competitividade para a empresa, melhor uso dos ativos e menor custo de insumos”, contou.

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Ele citou ainda o sucesso do uso da biotecnologia, com a criação em laboratório de vespas para atuar no controle da pior praga dos canaviais, a broca. “A gente utiliza o controle biológico. No laboratório, produzimos  1 milhão de vespas que matam a broca. São distribuídas via drone em todo o canavial. E estamos testando outros insumos biológicos”, revelou.

Sobre a importância da conectividade no campo, Guillaumon citou dados da Emprapa, de que a instalação de 4.500 antenas a mais do que o parque atual levaria a 50% de cobertura digital de toda a superfície agrícola brasileira. Com 14 mil antenas, essa cobertura chegaria a 85%, com potencial de incrementar o PIB agrícola em 10%.

Sobre os insumos biológicos, ele defendeu uma integração com as moléculas químicas.