Agronegócio puxa o PIB no 1° tri, mas investimentos e consumo vão dar o tom no ano, dizem analistas

Especialistas dizem que economia rodou forte no início do ano, mas observam que atividade tende a arrefecer ao longo de 2023

Roberto de Lira

(Getty Images)

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O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve divulgar nesta quinta-feira (1) uma sólida elevação do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre de 2023, fortemente lastreada no desempenho do setor agrícola no período, mas economistas consultado pelo InfoMoney colocam em dúvida a manutenção do ritmo nos trimestres à frente. Eles sugerem atenção aos dados de investimentos e de consumo das famílias, que são fatores que podem auxiliar ou atenuar o nível de atividade ao longo do ano.

As projeções de bancos e casas de investimento para o PIB do 1° tri estão em sua maioria acima da casa de 1% na comparação com o quarto trimestre de 2022 e em torno de 3% quando o dado é confrontado com o trimestre inicial do ano passado. A maioria fez revisões para cima, após as divulgações de indicadores como produção industrial, vendas no varejo e volume de serviços dos últimos meses.

Ao mesmo tempo, isso também gerou revisões de alta para o PIB do ano, ou a adoção de um viés de alta para as estimativas.

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Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, por exemplo, estima uma alta de 1,4% no PIB do 1° tri em relação ao trimestre anterior e de 2,9% ante o mesmo trimestre do ano passado. Para o ano fechado, a projeção está em 1,4%. Ele afirma que as projeções foram revisadas após a divulgação dos resultados do IBC-Br do trimestre inicial de 2023, mas que as projeções já estavam com viés de alta. Esse dado do Banco Central, considerado uma proxy do PIB, mostrou alta de 2,41% na comparação trimestral.

Na divulgação dos dados pelo IBGE amanhã, Agostini chama a atenção para dois fatores. “Nossa atenção será voltada para os resultados pela ótica da demanda, pois será importante avaliar como os investimentos estão se comportando na margem após as eleições, bem como no interanual para medir o efeito juros altos”, comenta.

Adicionalmente, ele diz que é preciso observar como vai se comportar o consumo das famílias, visto que os indicadores recentes do mercado de trabalho apresentaram com certa resiliência diante do cenário de política monetária restritiva. De fato, o IBGE divulgou hoje que o desemprego no trimestre encerrado em abril ficou em 8,5%, ante 8,8% no trimestre encerrado em março e praticamente estável no período de três meses findo em janeiro.

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Para o restante do ano, o economista da Austin alerta que surpresas positivas ainda devem surgir para agronegócio com a recuperação da China. “Já as surpresas negativas podem surgir de uma desaceleração mais acentuada na economia dos EUA e da Europa que, aliás, já começam a incorporar previsões de recessão em 2024”, afirma.

Já no Banco Original, o economista-chefe Marco Caruso diz que a projeção para o primeiro trimestre é de uma alta de 1,1%, dessazonalizada ante o 4° trimestre do ano passado. Para o ano, a projeção de 0,9% está mantida, mas deve passar por nova revisão após a divulgação do IBGE e o viés é de alta.

Caruso diz que, nesse 1° trimestre, será importante observar, pelo lado da oferta, o tamanho da força da agropecuária, que vai ser o grande destaque positivo – a projeção do Original é de um crescimento de 10,7%. “Vai ser interessante ver o quanto de contágio teve em setores como o de serviços de transportes. Com a safra enorme tem esse transbordamento para serviços”, explica.

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Outro ponto para se prestar atenção, segundo Caruso, é se comércio virá como destaque positivo, porque os números das vendas no varejo do IBGE também foram uma surpresa positiva no período.

Pelo lado da demanda, o economista destaca duas aberturas como as mais interessantes. “A primeira é ver se o consumo é carro-chefe dessa divulgação. Já que uma parte importante dessa atividade mais forte parece estar vindo de uma massa real de salários crescendo bem”, afirma.

Ele destaca que, como o desemprego mais baixo e a inflação cedendo ajudam no poder de compra, que também recebe o incremento das transferência de renda que o governo tem feito e que agora são permanentes. “Então, vai ser importante ver o tamanho da força do consumo para ver se é isso que está puxando essa demanda para cima”, observa.

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Em contrapartida, ela lembra que também será importante ver se, de fato, o investimento, que é mais sensível a juros, está sentindo o atual aperto monetário sendo praticado pelo Banco Central.

Aliás, para o restante do ano, os efeitos acumulados e desfasados dessa política monetária são um fator a se observar, segundo Caruso. “A política monetária vai continuar pesando e aí tem um evento negativo. Outro são os preços de commodities para baixo”, comenta.

Ele lembra ainda que commodities mais fracas são reflexo de um PIB global fraco e esse será outro evento negativo a ser observado. “Quando o mundo desacelera, é difícil a gente ficar descolado por muito tempo”, pondera.

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Em compensação, as surpresas positivas para o PIB estão, aparentemente, todas concentradas nos indicadores que dependem de renda. “Essa massa de renda real que a gente está vendo crescer de forma expressiva pode continuar sendo uma surpresa positiva se de fato continuar tendo um consumo mais forte”, associa.

O peso do agronegócio

A avaliação da XP Investimentos, em relatório assinado por Rodolfo Margato, é similar. Ele também estima que o PIB do trimestre vai mostrar expansão de 1,4% ante o último trimestre de 2022 e de 3,4% ante os primeiros três meses do ano passado.

A principal explicação é o setor agrícola, diz o economista, uma vez que a safra recorde de grãos deve levar o PI do setor a uma evolução de cerca de 12% segundo seus cálculos. “O PIB total cresceria 0,6% no trimestre se não fosse o salto do setor primário”, pondera Margato.

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Ainda pelo lado da oferta, ele afirma que o PIB da Indústria deve registrar a segunda queda consecutiva, ainda que moderada. “No entanto, a recuperação consistente na indústria de mineração é uma notícia positiva”, diz. Por sua vez, a estimativa é que o PIB de Serviços continuará em trajetória ascendente, apesar de ter perdido fôlego nos últimos trimestres.

Margato também diz que, pelo lado da demanda, deve haver uma absorção interna estável, apesar do aumento mais forte do consumo das famílias. “Enquanto isso, o setor externo contribuiu significativamente para o crescimento geral do PIB, impulsionado pela queda das importações trimestralmente. A variação de estoques foi ligeiramente positiva no 1° trimestre em relação ao quarto trimestre”, destaca.

Para os próximos trimestres, a XP continua esperando uma desaceleração da atividade econômica brasileira, principalmente devido às condições de crédito mais apertadas, à dissipação do impulso ‘pós-Covid’ e ao mercado de trabalho mais retraído. Por conta desse quadro a estimativa preliminar para o crescimento do PIB no segundo trimestre é de 0,3% na margem e de 2,0% na comparação anual.

Ainda assim, Margato atribui um leve viés positivo à nossa projeção de crescimento de 1,4% para o PIB de 2023. “A pujança dos setores menos sensíveis ao ciclo econômico (agricultura e indústria extrativa desempenham papel importante), a resiliência do consumo das famílias (principalmente pela expansão da renda disponível real) e o aumento das exportações impulsionaram as projeções de crescimento econômico para 2023”, afirma.

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, tem uma expectativa é de crescimento de 1,5% para o PIB na comparação trimestral e de 3,2% na anual. Para o ano, a projeção anterior de crescimento de 0,8% foi ampliada para uma alta de 1,5%, também devido ao melhor desempenho tanto da agricultura como de serviços.

Ela também pede uma atenção mais centrada nos dados de investimento na divulgação da quinta-feira, “que deve indicar tendencia de queda, o que reforça uma expectativa de crescimento menor nos próximos trimestres.”

Para o restante do ano, Rafaela acredita que a atividade pode desacelerar, devido à política monetária mais restritiva, que afeta o crédito e o consumo. “Além disso, o cenário internacional também é de desaceleração e a queda da cotação das commodities deve impactar a geração de renda dos setores relacionados no Brasil”, lembra.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, conta que suas projeções para o crescimento da economia também foram revisadas recentemente, após os resultados mais fortes que o esperado de comércio e serviços, além da safra de grãos. Para o 1° trimestre, a estimativa é de crescimento de 1,2% e, para o ano, de 1,4%,

A economistas espera que os destaques da divulgação pelo IBGE sejam os produtos bruto de agro, serviços e de consumo das famílias, que também devem ter alguma influência positiva na segundo trimestres. Depois, a tendência é de estagnação, alerta. “O consumo das famílias deve arrefecer no 2° semestre, sofrendo mais os efeitos do aperto de política monetária sobre mercado de trabalho”, comenta.

Novas revisões?

No C6 Bank, a previsão é que o PIB dos primeiros três meses de 2023 tenha crescido forte, em 2,1% ante o 4° trimestre de 2022, diz a economista Claudia Moreno. Para o ano, por ora, a projeção é de alta de 1,5%, mas com viés de alta. “Caso se confirme um primeiro trimestre forte, devemos revisar nossa projeção para o PIB do ano para algo próximo de 2%”, afirma.

Claudia revela que a última revisão do C6 foi feita em, quando a projeção subiu de 1% para 1,5% para o ano, isso após dados correntes mais fortes, como vendas no varejo e serviços.

No 1º trimestre, a economista esperamos que o destaque positivo seja o setor agropecuário, que pode ter alta de mais de 10% contra o trimestre anterior. “Serviços também devem contribuir positivamente para o PIB. Esperamos alta de 1%, lembrando que este segmento tem um peso grande, de cerca de 60% do PIB”, destaca.

A expectativa para os trimestre à frente é menos animadora, segundo Claudia. “Nossa expectativa é que a indústria registre um desempenho mais fraco ao longo do ano, contribuindo negativamente para o PIB, enquanto serviços devem continuar contribuindo positivamente, ainda que a tendência seja de enfraquecimento nos próximos meses”, pondera.

Ou seja, o principal destaque positivo para o ano deve ser mesmo o setor agropecuário, que beneficiado pela previsão de safra recorde para o ano.

Já o consumo das famílias deve andar meio de lado ao longo do ano, sem contribuir muito para o crescimento do PIB, na previsão da economista do C6 Bank. “Os juros em patamar elevado inibem o consumo de bens que dependem de crédito. Por outro lado, o mercado de trabalho aquecido atua como um amortecedor dessa desaceleração através dos ganhos na massa de rendimento real dos trabalhadores”, afirma.

Ela lembra que a desaceleração da inflação entra por este canal, na medida em que os salários perdem menos seu poder de compra. Esse efeito, no entanto, é limitado, já que a inflação segue elevada.

A projeção de André Nunes de Nunes, economista-chefe do Sicredi, para o PIB do 1° trimestre é de um crescimento de 1,5% em relação ao último trimestre do ano passado. “O resultado foi revisado para cima – o anterior era 1,2% – na medida em que o acompanhamento mensal do desempenho da agropecuária e dos serviços ficaram acima do esperado”, destaca.

Entre os número que deve merecer mais atenção na divulgação pelo IBGE, o economista do Sicredi, afirma que vale observar se o investimento vai manter o ritmo de queda visto no último trimestre do ano passado, além da contribuição do consumo das famílias. “Essas variáveis podem indicar o ritmo de desaceleração da atividade nos próximos trimestres”, antecipa.

Nunes acreditamos que a economia vai dar sinais mais claros de desaceleração ao longo dos trimestres seguintes, em linha com as condições financeiras mais restritivas, principalmente das famílias.

Para o ano, o Sicredi projeta avanço de 1,6% no PIB, abaixo do que é a expectativa atual do governo (1,9%).

Leonardo Costa, economista da ASA Investments, também vê um bom desempenho do PIB no primeiro trimestre, com alta de 1%, mas sua revisão ara restante do ano está um pouco abaixo do consenso: mudou de 0,0% para 0,50%, isso após os dados de atividade mais fortes no início do ano. Para ele, o destaque positivo no trimestre vai ser mesmo o setor agropecuário, com a safra recorde de soja. “Além disso, os serviços devem voltar a acelerar no começo deste ano”, afirma.

No restante do ano, a expectativa é de uma desaceleração mais contundente da atividade no segundo trimestre, embora os dados mais recentes de confiança tenham indicado alguma resiliência até maio. “Logo, há risco de um ritmo mais forte da atividade em 2023”, pondera.

Pedro Azeredo, especialista em investimentos e sócio da Matriz Capital, afirma que a previsão para o PIB do primeiro trimestre de 2023 é de um avanço em 1,2%, sendo grande parte advinda do ótimo resultado do PIB agropecuário brasileiro.

Para o ano, a previsão se manteve em 1,4%. “Houve uma revisão das projeções devido tanto a fatores regionais como globais. A quebra de bancos regionais nos Estados Unidos, assim como a dificuldade de bancos europeus, acendeu o alerta. Porém, não impediu que a taxa básica de juros dessas economias continuasse a subir. Sobre os fatores regionais, apesar de um arrefecimento econômico, houve uma melhora significativa nos resultados da agropecuária”, comenta.

Na composição do PIB de 2023, a expectativa de Azeredo é de crescimento em 0,6% no setor de serviços, de 0,4% na indústria e de fortes 11,6% na agropecuária. “Para as exportações, temos 2,7% de expectativa de crescimento e 1,3% para importações”, completa.

Nos trimestre seguintes, ele diz que, com o aquecimento da economia global, as surpresas positivas devem ficar pela parte das exportações brasileiras, principalmente advindas de commodities. “Pelo lado da demanda, o consumo das famílias deve fechar 2023 no verde, com um crescimento em 1,2%, vindo da melhora nas expectativas inflacionárias com a introdução do arcabouço fiscal e no estabelecimento das metas de inflação”, avalia.

Olho no carrego estatístico

Andrea Damico, sócia e economista-chefe da Armor Capital, por sua vez, prevê um crescimento de 1,3% na economia no primeiro trimestre e de 1,6% no ano. As projeções foram revistas para cima – estavam em 1,0% e 1,4%, respectivamente.

Segundo a economista, isso se deu pela pesquisas setoriais, que mostraram uma forte resiliência nesse primeiro trimestre, ainda que boa parte do ímpeto possa ser explicado por uma atividade agropecuária mais forte e seu repasse nos principais setores da economia.

Andrea diz que será interessante verificar qual o crescimento do PIB sem considerar o agronegócio. “Além disso, importante ver o comportamento das aberturas relacionadas ao consumo”, comenta.

No cenário à frente, a economistas da Armo diz vislumbrar uma tendência de arrefecimento da atividade. “Entretanto, o carrego estatístico para o fim do ano, ainda é positivo”, avisa.

Rafael Perez, economista Suno Research, tem como expectativa para o primeiro trimestre um crescimento de 1,5% em comparação ao quarto trimestre do ano passado, “puxado principalmente pela forte expansão do agronegócio no começo do ano, mas também os dados mais resilientes do setor de serviços”.

Ele destaca que os indicadores mais robustos para o agro são resultado da safra que deverá ser recorde este ano – o IBGE estima uma alta anual de quase 15% –, além dos preços das commodities agrícolas que tendem a continuar em alta e a forte expansão das exportações do setor.

Perez afirma que, na divulgação do PIB, será importante olhar para o desempenho dos setores menos dependentes das condições de crédito, como agro e serviços, mas também como o consumo das famílias tem reagido às medidas de incentivo a demanda do governo e à queda da inflação.

Para o restante do ano, a expectativa da Suno é de maior estabilidade do PIB, que vai sentir os efeitos da desaceleração herdada de 2022 e do aperto monetário do Banco Central. “Por isso, nossa projeção é de um crescimento de 1,4% para o PIB de 2023”, diz Perez.

E economista afirma que o arrefecimento da atividade tem sido desigual entre os setores, com as categorias mais sensíveis ao ciclo econômico desacelerando de forma mais significativa. “As principais restrições ao crescimento que, durante a pandemia, estavam associadas à oferta, vem se deslocando para a demanda”, comenta.

Devem trazer impacto nos trimestres à frente tanto o impacto da manutenção da Selic em 13,75% nos últimos meses, o que intensifica a desaceleração da economia, o esgotamento dos benefícios da reabertura da economia pós-covid e uma economia mundial com tendências de baixo crescimento.