Agravamento do coronavírus leva a nova onda de corte de projeções para PIB do Brasil e do mundo

Medidas para frear o avanço da doença devem impactar o consumo globalmente, o que afeta principalmente as commodities

Ricardo Bomfim

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SÃO PAULO – O abalo causado pelo coronavírus na economia global está se mostrando bem maior do que se pensava em um primeiro momento. Isso provoca uma onda de reduções nas projeções dos economistas para o crescimento da economia global.

A equipe de análise do Credit Suisse, por exemplo, entende que o Produto Interno Bruto (PIB) mundial não crescerá mais 2,6% como previam antes, mas 2,2%. “A disseminação do surto no Japão, Coreia do Sul, Itália e outras economias significa quarentenas e restrições na atividade econômica fora da China”, afirmam os analistas James Sweeney, Neville Hill, Yi David Wang, Hiromichi Shirakawa e Alonso Cervera. Para eles, é provável que o PIB desses países, assim como o da zona do euro, sofra contração ao longo deste ano.

Matthew Hope, também do CS, escreveu em relatório que a China está vencendo a guerra contra o coronavírus, como demonstra a estabilização na província de Hubei em 430 novos casos por dia e o declínio no número de novos diagnósticos em outras regiões. O problema, na visão dele, é o alastramento do Covid-19 em outros países.

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“A Europa pode não ser capaz de fechar cidades como a China fez, o que facilitará a disseminação”, destaca. O impacto disso na demanda por commodities, embora ainda não seja quantificável, seria muito relevante, especialmente para cobre e alumínio, que sofreriam com a menor venda de carros e a desaceleração na construção civil globalmente.

Por outro lado, o minério de ferro – que é muito importante para o Brasil – e o carvão mineral deverão ser mais resilientes, uma vez que o investimento em infraestrutura na China deve seguir firme. Há esperança também que a mudança da estação, com o fim do inverno e chegada da primavera no hemisfério norte, desacelerem o avanço do coronavírus. “Se a nova doença se comportar como outros vírus, os casos devem retroceder no verão.”

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Outro ponto levantado pelo Credit é que o medo do coronavírus e a resposta das autoridades a ele devem concentrar os efeitos econômicos negativos, bem mais do que as mortes decorrentes da doença. “A população mais jovem, trabalhadora e consumidora é menos afetada. Desse modo, uma pandemia não deverá afetar diretamente o consumo”, explica o analista.

Já a equipe de análise do Bank of America (BofA) cortou sua projeção de crescimento econômico global este ano de 3,1% para 2,8%. “O momentum de expansão da economia já era pouco animador mesmo antes do choque do coronavírus. A resposta agressiva da China à Covid-19 agora nos mostra que o primeiro trimestre de 2020 deve ser muito fraco”, avaliam os analistas.

Um ponto citado com muita ênfase é que a disrupção econômica provocada pela doença está se prolongando por mais tempo do que se esperava, com impactos nefastos para a economia real. “Muitos trabalhadores migrantes ainda estão para retornar às suas casas, o que impossibilita que as fábricas operem com toda a capacidade.”

O Fundo Monetário Internacional (FMI) já afirmou que deve reduzir sua perspectiva de crescimento global nos próximos dias, em decorrência do agravamento do surto de coronavírus no mundo.

Brasil

Especificamente para o Brasil, o BofA cortou sua projeção de crescimento em 2020 de 2,2% para 1,9%. Na mesma toada, o JPMorgan reduziu a estimativa de avanço do PIB brasileiro de 1,9% para 1,8%.

Os analistas Dalton Gardimam, Ricardo Mauad e Bernardo Keiserman, do Bradesco BBI, também revisaram suas projeções para o PIB brasileiro em 2020, cortando de 2,3% para 1,9%. “Clara e inegavelmente, a estimativa de 2,3% tem perspectiva negativa, mas para sermos honestos, não vemos o Brasil voltando ao nível de crescimento de 1% visto nos últimos anos mesmo após as revisões”, escreve a equipe do Bradesco.

Apesar disso, os analistas ressaltam que há boas notícias para o Brasil nesse caso. Por mais que o baque nos preços das commodities não seja algo fácil de se contornar devido à dependência brasileira da exportação desses produtos, o País está distante do epicentro da epidemia e é uma economia relativamente fechada, além de ter um clima tropical, que é menos propício para a disseminação de doenças respiratórias.

Fora isso, o turismo nunca foi tão relevante para a economia brasileira quanto para outros países que estão sendo impactados pelo coronavírus.

Na avaliação dos analistas do Bradesco, duas coisas para serem observadas de perto nos próximos dias são a evolução dos casos fora da China e as medidas iniciais do governo brasileiro para conter a proliferação do vírus conforme novos casos forem se confirmando no nosso território.

Antes mesmo da nova onda de aversão ao risco dos investidores nessa semana, diversos bancos já haviam cortado a previsão para a economia brasileira. O BNP Paribas reduziu sua previsão de crescimento do PIB 2020 de 2% para 1,5%, enquanto o Fator derrubou a projeção de 2,2% para 1,4%.

Previsão oficial

Além dos bancos e das casas de análise, o próprio Ministério da Economia deve revisar a previsão de alta do PIB até o fim da próxima semana, segundo informações do Estado de S. Paulo. Atualmente, o cenário-base de crescimento brasileiro do governo é de 2,4%.

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia (SPE), Adolfo Sachsida, disse que o melhor “remédio” para enfrentar os efeitos negativos da epidemia no crescimento econômico é avançar nas reformas no Congresso.

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Ricardo Bomfim

Repórter do InfoMoney, faz a cobertura do mercado de ações nacional e internacional, economia e investimentos.