Agentes do mercado veem Guedes sem apoio e já descartam reformas em 2021

Hoje os economistas já não veem grandes chances de que as reformas estruturais saiam nem mesmo no ano que vem

Bloomberg

Paulo Guedes, ministro da Economia (Foto: Edu Andrade/Ascom/ME)

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(Bloomberg) – O mercado já descarta que grandes reformas prometidas pelo governo Jair Bolsonaro saiam do papel em 2021, em meio à necessidade de medidas mais urgentes e um Paulo Guedes cada vez mais isolado e sem apoio para sua agenda liberal.

Com o ceticismo em relação às reformas tributária e administrativa crescendo, o foco dos investidores passa para emendas constitucionais que possam ao menos assegurar o cumprimento do teto de gastos. Uma dessas propostas, a PEC emergencial, foi adiada para o ano que vem. Reformas microeconômicas, sem peso fiscal mas favoráveis ao crescimento, também podem enfrentar menos resistência, na visão do mercado.

Se há alguns meses a expectativa era que a agenda andasse depois das eleições municipais de novembro, hoje os economistas já não veem grandes chances de que as reformas estruturais saiam nem mesmo em 2021.

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Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, diz que a prioridade no curto prazo são as PECs que asseguram o teto. “O país precisa das reformas estruturais para poder ter segurança fiscal de longo prazo, o que não quer dizer que se a gente não aprová-las no final deste ano ou no primeiro trimestre do ano que vem o Brasil vá ter um problema fiscal iminente”, diz Honorato.

As reformas são “complexas” e vão depender muito da organização do governo, diz Pedro Schneider, economista do Itaú Unibanco. “Os conflitos políticos do período de pandemia continuam no mundo pós-pandemia. E eu diria que eles aumentaram.”

A pauta microeconômica, que inclui leis destinadas a impulsionar setores como o de gás e navegação marítima, tem maiores chances de avançar na visão do mercado. “Meu cenário base é que nada muito relevante aconteça em 2021 em termos de reformas fiscais”, diz Gustavo Rangel, economista-chefe para América Latina do ING. “O potencial vem de medidas para estímulo de crescimento.”

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Guedes sem apoio

A falta de apoio à agenda liberal do ministro da Economia, Paulo Guedes, é apontada pelos analistas do mercado como principal motivo para a paralisia das reformas.

“Às vezes parece que o Guedes está lutando sozinho pelas reformas”, diz Ronaldo Patah, estrategista do UBS Consenso, sobre a falta de apoio às reformas propostas pelo ministro. “Essa paralisia política é muito ruim para o mercado.”

O presidente Jair Bolsonaro, cuja popularidade inicialmente cresceu com os gastos durante a pandemia, que devem elevar a dívida do país a estimados 100% do PIB, vetou a discussão de medidas impopulares antes das eleições municipais, mas o cenário segue nebuloso mesmo após o pleito.

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No Congresso, o impulso reformista, que havia caído desde o início do surto do coronavírus, ficou ainda mais embaralhado após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir contra a possibilidade de reeleição para a presidência da Câmara e do Senado.

O relatório da PEC emergencial, que traz gatilhos como redução de jornada e salário de servidores, permitindo ao governo manter o teto de gastos, era esperado para a semana passada, mas ficou para 2021.

O relator da proposta, senador Márcio Bittar (MDB-AC), disse que o texto poderá ser mais bem debatido no próximo ano, quando o momento político será mais adequado. Outra PEC, a do Pacto Federativo, trata de uma reforma mais ampla no orçamento por meio de desvinculações. Essa opção, no entanto, está cada vez mais remota porque o presidente Jair Bolsonaro resiste a qualquer desindexação.

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Com o aumento do déficit primário e da dívida pública, o teto de gastos “é a nossa única âncora fiscal”, diz Elisa Machado, economista-chefe da ARX Investimentos.

“Infelizmente temos visto um baixíssimo senso de urgência por parte tanto do Executivo quanto do Legislativo”, diz Fabiano Godoi, sócio e diretor de investimentos da Kairós Capital.

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