WeCrashed, Dropout e outras séries que mostram os erros e absurdos do empreendedorismo

Uber, Wework e Theranos. História da fundação e dos fundadores de três das maiores startups do mundo chegam às plataformas de streaming

Letícia Toledo

Ator Jared Leto como Adam Neumann e atriz Anne Hathaway como Rebekah Neumann, fundadores do WeWork (Divulgação)

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Já estava impresso em livros, codificado em centenas de reportagens na internet, gravado e editado em dezenas de horas de podcasts. Agora, as histórias de três das maiores startups do mundo chegaram às plataformas de streaming em formato de série. Nesta sexta-feira (17) a Apple TV+ liberou os três primeiros episódio de WeCrased, série que retrata a história da empresa de coworking WeWork e seu polêmico fundador Adam Neumann, interpretado pelo ator Jared Leto. (Veja por onde anda Neumann atualmente nesta matéria aqui).

Os episódios reforçam as visões megalomaníacas de negócios de alguns empreendedores do Vale do Silício. O tema também é retratado na série The Dropout, disponível no Brasil por meio da plataforma Star+, que narra a trajetória de Elizabeth Holmes e sua startup laboratorial Theranos. A tríade é completada Travis Kalanick, o americano por trás da ascensão do Uber, na primeira temporada da série Super Pumped, que chegará ao Brasil pela Paramount+ em 12 de maio.

O fascínio de Hollywood por empreendedores do Vale não vem de hoje, é claro. No longa A Rede Social, de 2010, Mark Zuckerberg é retratado dando origem ao império do Facebook e o filme ganhou o Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Mas, como ressalta a crítica do The New York Times Amanda Hess, nenhuma das empresas retratadas nessas séries atuais faz parte do clube FAANG (acrônimo que reúne Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) — as empresas de tec que dominam o mercado.

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“Em vez disso, cada empresa está ou esteve envolvida na tentativa de interromper completamente uma indústria existente”, escreve Hess. Com discursos dignos de cultos sagrados e sob o pretexto da inovação, esses empreendedores tiveram suas excentricidades e viabilidade econômica de suas ideias esquecidas durante anos por todos ao seu redor.

As séries escancaram diferentes questões ainda presentes no empreendedorismo. A mais chocante de todas essas histórias é, sem dúvida, a de Holmes (interpretada pela atriz Amanda Seyfried) que prometia diagnóstico para doenças graves de maneira rápida e acessível, com apenas uma gota de sangue. A Theranos chegou a valer US$ 9 bilhões, conquistou grandes investidores e foi celebrada por presidentes, associações méditas e ONGs. Mas tinha um detalhe: sua tecnologia nunca funcionou.

Centenas de pacientes receberam diagnósticos fraudulentas da Theranos. Holmes, que diversas vezes foi descrita como a versão feminina de Steve Jobs, vivia tanto de aparências que mudou até mesmo o seu tom de voz para projetar uma presença masculina. Um dos problemas retratados na série é como a cultura do “fake till you make it” (finja até que vire verdade, na tradução) tão valorizada no Vale do Silício, pode virar uma bela armadilha.

Em WeCrashed, a visão carismática de Neumann atraiu não apenas uma legião de funcionários dispostos a “construir o amanhã” como também conquistou alguém ainda mais ambicioso do que ele: Masayoshi Son. Ao lado de Neumann, o fundador do conglomerado SoftBank ajudou a levar a startup ao limite. “Seja mais louco”, aconselha o investidor retratado na série. Entre 2017 e 2019, o SoftBank injetou US$ 18,5 bilhões na empresa e ajudou a mascarar a inviabilidade financeira do negócio e as excentricidades da gestão de Neumann. Tudo isso só viria à tona em 2019, quando a empresa, na época avaliada em US$ 47 bilhões, tentou fazer uma Oferta Inicial de Ações (IPO, na sigla em inglês).

Em Super Pumped, o fundador do Uber (interpretado por Joseph Gordon-Levitt) é comparado ao líder de uma seita, um líder que se deixou levar ao limite por acreditar em sua visão. A série, dos mesmos criadores de Billions’ pinta Kalanick como uma figura cheia de nuances e mostra como o fato de acreditar em modelo que ninguém acreditava (como muitos empreendedores) foi o que levou o Uber, fundado em 2009, ao sucesso. Mas foi essa mesma fé inabalável que levou a sua ruína. Em 2017, Kalanick renunciou ao cargo de CEO em meio a escândalos sobre discriminação e assédio sexual no local de trabalho sob sua liderança.

Para àqueles que ainda tiverem tempo (e disposição) para acompanhar outra história absurda do empreendedorismo americano, a Netflix também oferece sua versão. Em “Inventig Ana”, a plataforma narra a trajetória de Anna Sorokina, vigarista russa que convenceu investidores e parte da elite em Nova York que era uma herdeira alemã lançando um clube exclusivo para super ricos.

Enquanto retratam o competitivo e incerto mundo das startups, as plataformas de streaming tentam angariar novos assinantes para manter seus negócios — igualmente competitivos e incertos no momento.

Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.