Startup quer transformar burocracia empresarial em inteligência – e recebe R$ 260 milhões para isso

Arquivei fornece buscador de informações em notas fiscais eletrônicas. Entre janeiro e outubro, clientes atendidos pela startup transacionaram R$ 1 trilhão

Mariana Fonseca

Sócios-fundadores do Arquivei: Christian de Cico, Vitor de Araújo, Bruno Oliveira e Isis Abbud (Divulgação)

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SÃO PAULO – O Arquivei aposta em um mercado nada sexy: o de gestão de notas fiscais eletrônicas (NFes). Ainda que distante dos holofotes, a proposta de trazer mais inteligência para essa burocracia empresarial fez a startup crescer: 13% das transações por notas fiscais eletrônicos no país passam pela Arquivei. Apenas entre janeiro e outubro deste ano, R$ 1 trilhão foram transacionados por clientes da startup.

Os números atraíram investidores. A Arquivei anunciou nesta terça-feira (14) uma captação de R$ 260 milhões (US$ 48 milhões). O aporte série B foi liderado pelo Riverwood Capital, fundo que tem no portfólio empresas brasileiras como Petlove e VTEX. Os fundos Constellation (VTEX), Endeavor Catalyst (Dr. Consulta, Loft, RD Station), NXTP (Amaro, CargoX, Nuvemshop) e IFC/Banco Mundial (Loggi, Netshoes, Tembici) acompanharam a rodada.

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com Christian de Cico. O cofundador da Arquivei falou sobre de onde surgiu a ideia para a Arquivei; qual o modelo de negócios da startup de gestão de notas fiscais eletrônicas; e quais são os próximos passos após a nova captação com investidores.

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Notas fiscais eletrônicas (e inteligentes)

O Arquivei foi criada por Bruno Oliveira, Christian de Cico, Isis Abbud e Vitor de Araújo em 2014. Formado em ciências da computação, Oliveira havia fundado anteriormente um negócio de desenvolvimento de software. Cico cursou engenharia, fundou uma importadora e trabalhou tanto na multinacional Caterpillar quanto na empreiteira de sua família. Isis também é engenheira e atuava na organização de fomento ao empreendedorismo Sebrae. Por fim, Araújo também se formou em ciências da computação e fundou outras startups antes da Arquivei.

Cico conta que a ideia para o Arquivei surgiu quando ele estava na empreiteira de sua família, em São Carlos (interior de São Paulo). “Aprendi sobre contabilidade e tive dificuldade em obter informações para apurar bem os impostos. Por exemplo, as despesas das obras nunca chegavam a tempo de fechar as guias do mês. Fiquei me perguntando por que não existia um sistema para receber notas fiscais de maneira segura e no tempo certo”.

Cico contratou o negócio de desenvolvimento de software de Oliveira para montar o mínimo produto viável (MVP) do Arquivei. Isis divulgou a solução para empresas atendidas pelo Sebrae. Foram seis meses de desenvolvimento e seis meses de boca a boca.

O Arquivei chegou a 80 negócios atendidos por seu sistema de notas fiscais nesse período, apenas em São Carlos. Cico, Oliveira e Isis saíram de seus empregos para se dedicar ao negócio, e Araújo logo depois se juntou à equipe de fundadores. O Arquivei começou oficialmente em 2015.

A startup busca tratar as notas fiscais não apenas como um arquivo, mas como uma informação que pode gerar valor para as empresas. O Arquivei criou um buscador que permite extrair dados de cada documento fiscal. Por exemplo, ver qual o prazo de garantia de um produto, qual foi a transportadora responsável por certa entrega ou ver quanto um fornecedor cobrou no último pedido feito. O “Google nas notas fiscais eletrônicas” armazena os documentos na nuvem, permitindo acesso de qualquer equipamento inteligente (computadores e smartphones). Também se integra com sistemas de gestão (ERPs), auditorias e órgãos como prefeituras e a Secretaria da Fazenda para facilitar o uso das NFes pela área de contabilidade.

“As empresas pensam que notas fiscais são apenas uma obrigação, mas elas representam dados que podem dizer muito sobre sua empresa e virar uma oportunidade competitiva. Assim como o banco olha para o cartão de crédito de um consumidor para definir seu comportamento de compra, as podem ser avaliadas por suas notas fiscais de compra e venda. Um bom controle permite que elas possam escolher melhores clientes e fornecedores, e ter acesso a melhores serviços financeiros”, resume Cico.

A Arquivei atende 15 mil clientes, que correspondem a 62 mil CNPJs ativos. “Atendemos desde uma pequena lanchonete até filiais do McDonald’s. Cada empresa tem suas dores, e temos times de vendas específicos para cada porte”, diz Cico.

As empresas pagam uma mensalidade com base em seu volume de notas fiscais eletrônicas emitidas, e podem contratar módulos adicionais para automatização e integração com sistemas específicos.

Novo investimento, novos passos

O Arquivei já havia recebido um investimento semente de R$ 10 milhões e um investimento série A de R$ 17 milhões. O atual investimento série B de R$ 260 milhões é a terceira captação externa da startup.

Cico destaca que Riverwood Capital e Constellation trazem experiência com startups em estágio avançado e empresas de capital aberto. Já o NXTP traz conhecimento do mercado latino-americano e pode ajudar em uma expansão internacional futura do Arquivei. “Montamos uma estratégia robusta de investimento com base em um momento favorável para a captação de investimentos entre as startups brasileiras”, diz Cico.

A startup usará os novos recursos primeiro para realizar aquisições, seja em negócios que atuem no mesmo ramo ou que tenham propostas complementares ao Arquivei, como análise de dados, compras mais eficientes e inteligência artificial. A startup também vai aprofundar as integrações com sistemas empresariais, permitindo a contratação de crédito por sua plataforma, por exemplo. Por fim, o Arquivei pretendo contratar mais 150 pessoas e chegar a 400 deles até o final de 2022.

O R$ 1 trilhão transacionado pelos clientes da Arquivei entre janeiro e outubro deste ano representa um crescimento de 28% sobre o transacionado durante todo o ano de 2020.

Em 2022, a Arquivei espera triplicar esse valor e chegar a R$ 3 trilhões transacionados. Para Cico, o tamanho de mercado da startup representa a mensalidade que poderia ser paga por todas as empresas brasileiras, exceto as microempresas que emitem uma ou duas notas fiscais por mês. “As empresas compram e vendem com base em notas fiscais eletrônicas, e precisam guardar esses documentos por ao menos cinco anos. Então consideramos que negócios que transacionam a partir de R$ 80 mil por ano são nossos potenciais clientes.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.