Por que este unicórnio de comida de planta conquistou a Kraft Heinz

The Not Company anunciou joint venture com gigante de alimentos. Matias Muchnick, cofundador da startup, fala sobre o que cada empresa trouxe para a mesa

Mariana Fonseca

Miguel Patricio e Matias Muchnick, CEOs da Kraft Heinz e da The Not Company (Divulgação)

Publicidade

A Kraft Heinz (KHCB34) reforçou sua aposta nas comidas que simulam cor, sabor e textura das proteínas animais usando apenas ingredientes vegetais. A gigante de alimentos, que divulgou US$ 26 bilhões em vendas ao longo de 2021, anunciou nesta semana que se uniu à startup chilena The Not Company para criar uma terceira empresa: a The Kraft Heinz Not Company.

A joint venture combinará a infraestrutura de produção, distribuição e venda da Kraft Heinz com a tecnologia da The Not Company para criar versões plant based de produtos conhecidos da gigante de alimentos. A Kraft Heinz The Not Company estará sob o controle da Kraft Heinz e não envolveu venda de participação entre a gigante e a startup. O investimento para criação da joint venture não foi divulgado.

A The Not Company é a primeira startup latino-americana no segmento de alimentação a atingir uma avaliação de mercado bilionária. O negócio virou um unicórnio em julho de 2021, com uma avaliação de US$ 1,5 bilhão. Seu maior diferencial é uma inteligência artificial que mapeia constantemente espécies de planta comestíveis e as destrincha em nível molecular. Assim, escreve receitas vegetais para substituir produtos como maionese, leite, carne e frango. A startup tem cinco patentes de sua tecnologia, registradas nos Estados Unidos.

Continua depois da publicidade

“Essa joint venture mostra que o potencial de chegar ao mercado de massa existe. Estamos em uma indústria de alto crescimento (…). Precisamos continuar e melhorar nossos esforços em inovação, tecnologia, reconhecimento de marca, variedade de produtos, preços acessíveis e distribuição e penetração em supermercados, restaurantes, bares e outros varejos. Junto da Kraft Heinz, atacamos muitas dessas frentes. Um processo que levaria dez anos agora pode levar um ano”, afirmou Matias Muchnick, cofundador da The Not Company, em conversa com o Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.

Veja os principais trechos da entrevista:

Do Zero Ao Topo – Quando começaram as conversas entre The Not Company e Kraft Heinz? Os investimentos da gigante de alimentos em foodtechs nos últimos anos, como um fundo de US$ 100 milhões para investir em tecnologia para alimentos lançado em 2018, ajudaram a fechar o acordo de joint venture?

Continua depois da publicidade

Matias Muchnick – As conversas especificamente sobre a joint venture começaram há cerca de dez meses. Recebemos diversas propostas de indústrias no setor, e vimos na Kraft Heinz uma proposta genuína e de realmente investir para construir algo grande. Conversamos sobre oportunidades de mercado, forças de cada empresa, construir um negócio de alimentação mais sustentável de forma colaborativa e, finalmente, levar o plant based ao mercado de massa.

De fato, a Kraft Heinz investiu e adquiriu foodtechs. Foram movimentos importantes para a companhia conhecer o mercado plant based antes de termos nossa conversa. Esta é a primeira vez que ela constrói uma joint venture junto de uma foodtech.

A Kraft Heinz Not Company terá sua sede administrativo em Chicago, e uma sede para pesquisa e desenvolvimento em São Francisco. Por que vocês optaram por essas duas cidades americanas?

Publicidade

A The Not Company já tem a sua equipe de tecnologia concentrada em São Francisco. Esse centro de pesquisa avançada e inovação agora servirá tanto para a The Not Company quanto para a nova joint venture. Estamos usando nossa experiência em P&D para servir a Kraft Heinz The Not Company. E os produtos serão distribuídos ainda neste ano globalmente, porque você não pode construir um negócio que tenha o maior impacto possível olhando apenas aos Estados Unidos.

Leia mais
Carne, leite e até chocolate de planta: o Brasil pode se tornar terreno fértil para as startups de comida vegetal?

A The Not Company entra com sua inteligência artificial, enquanto a Kraft Heinz entra com sua escala em termos de infraestrutura, canais de venda e poder de marca. Você acha que essa é a fórmula ideal para startups e grandes companhias firmarem parcerias?

Continua depois da publicidade

Por mais que cada companhia entre sim com esses diferenciais, a joint venture é uma colaboração. A Kraft Heinz contribui com sua experiência na formulação dos produtos, e nós contribuímos na parte de comercialização porque entendemos os desafios específicos dos produtos plant based. Estamos criando diversas sinergias, mais do que cada uma contribuir com apenas parte da operação.

Formar uma joint venture é uma operação complexa, então talvez essa fórmula que usamos não sirva para outros empreendimentos. Recomendo que os empreendedores tomem o tempo necessário, não tentem encontrar atalhos e avaliem os prós e contras daqui dois, cinco, dez anos.

Uma joint venture pode ser fenomenal ou perigosa para os negócios envolvidos. Se a sua empresa não tiver bases sólidas de operação, pode quebrar diante do tamanho da demanda e da integração de processos. Falo por nós: se tivéssemos fechado um acordo desses no ano passado, acho que não estaríamos prontos pela maturidade da companhia mesmo. Estávamos apenas começando no mercado americano e não tínhamos pessoas que pudessem proteger nossos interesses em uma negociação desse tamanho. Numa startup, a contratação de uma pessoa pode fazer toda a diferença. Fizemos no momento certo e pelas razões certas.

Publicidade

Essa parceria também é uma forma de reduzir seus custos por meio da escala, já que ter preços acessíveis é o desafio de muitas foodtechs?

Claro que um dos maiores fatores para aumento da participação de mercado é um preço competitivo em relação à proteína animal, e que a Kraft Heinz ajuda a otimizar nossos custos de produção e de distribuição. Mas a qualidade do produto é um fator ainda mais importante. Já vimos muitas vezes empresas que otimizaram tanto os custos que acabaram com uma má qualidade dos seus produtos. Só vamos crescer a companhia e acessar uma parte maior do varejo alimentar se mantivermos essa qualidade em primeiro lugar.

A The Not Company continua funcionando como uma empresa independente de investimento da Kraft Heinz. Como vai funcionar a competição entre a startup chilena e a nova joint venture nas prateleiras de plant based no supermercado?

Não vamos competir nas mesmas categorias de produto. Ainda não posso abrir exatamente quais serão os produtos da joint venture, mas a Kraft Heinz The Company não lançará um produto que a The Not Company já está distribuindo. Foi uma condição prevista no contrato assinado entre as duas companhias justamente para evitar competição nos diversos pontos de venda.

Qual sua visão sobre o estado atual do mercado plant based? Essa joint venture mostra que o plant based chegou ao mercado de massa?

Pelo menos, essa joint venture mostra que o potencial de chegar ao mercado de massa existe. Estamos em uma indústria de alto crescimento: as vendas de produtos plant based cresceram 27% nos Estados Unidos em 2020.

Para manter essas taxas, precisamos continuar e melhorar nossos esforços em inovação, tecnologia, reconhecimento de marca, variedade de produtos, preços acessíveis e distribuição e penetração em supermercados, restaurantes, bares e outros varejos. Junto da Kraft Heinz, atacamos muitas dessas frentes. Um processo que levaria dez anos agora pode levar um ano.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.