O Rockefeller que quer acabar com a origem de sua fortuna: combustíveis fósseis

Daniel Growald e outros dois tataranetos do fundador da Standard Oil criaram uma organização para pressionar indústria de combustíveis fósseis

Letícia Toledo

Daniel Growald, membro da família Rockefeller e co-presidente do BankFWD (Divulgação)

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SÃO PAULO – Quando tinha oito anos de idade Daniel Growald e sua família deixaram São Francisco para viver em uma fazenda no pequeno estado de Vermont. A partir de então, ele cresceu rodeado pela natureza e aprendeu a plantar e colher alimentos, improvisar fogueiras e criar abrigos. Seria uma infância comum, não fosse o seu legado bilionário. Daniel é um dos herdeiros e a quinta geração da família Rockefeller.

“Eu tive muitas experiências na natureza desde pequeno e me apaixonei por ela. Conforme fui crescendo, descobri que a mudança climática é um grande desafio que temos que enfrentar para salvar a natureza”, disse Daniel durante um painel fechado do Expert ESG, evento realizado pela XP Investimentos.

Sua paixão pela natureza e o crescimento do desafio climático o levaram a criar uma instituição que quer acabar justamente com o que deu origem à sua fortuna: combustíveis fósseis.

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Há um ano e meio, Daniel fundou a organização BankFWD com dois de seus primos da família Rockefeller, Peter Gill Case e Valerie Rockefeller. Juntos, eles querem mobilizar milionários e bilionários dispostos a pressionarem seus bancos.

O objetivo é fazer com que os bancos parem de financiar novos projetos de combustíveis fósseis e eliminem gradualmente o empréstimo a empresas de recursos naturais que não possuem plano para cumprir as metas do Acordo de Paris (firmado em 2015 e que prevê o fim das emissões de carbono pelos países integrantes até 2050).

“Muitos bancos estão acelerando o financiamento de combustíveis fósseis. Mesmo após o Acordo de Paris, as 35 maiores instituições financeiras emprestaram US$ 2,7 trilhões para essa indústria”, afirmou.

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Para Daniel, já que não há uma ação governamental agressiva o suficiente para exigir o alinhamento de empresas com os objetivos assinados em Paris, limitar o acesso ao financiamento é a melhor maneira de forçá-las a adotar soluções mais verdes.

O petróleo e a filantropia dos Rockefeller

Daniel é filho de Eileen Rockefeller e Paul Growald. Sua mãe é bisneta de John D. Rockefeller (1839-1937), fundador do império petrolífero Standard Oil e o primeiro bilionário das Américas.

“A história menos conhecida sobre o meu tataravô é a de que ele acreditava que Deus havia lhe dado a missão de ganhar dinheiro. Seu filho, John Davidson Junior, criou a Rockefeller Foundation e passou boa parte de sua vida tentando distribuir todo o dinheiro que o pai havia acumulado. Eu cresci com esses dois legados: o acúmulo de dinheiro e a filantropia”, explicou.

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O esforço de Daniel não é a primeira atitude dos Rockefeller para se afastarem do petróleo. Em 2016, o fundo da família anunciou que venderia sua fatia na ExxonMobil (a sucessora da Standard) e em outras empresas que atuam em combustíveis fósseis. O argumento foi o de que as petroleiras estariam enganando as pessoas sobre os riscos do aquecimento global.

“No meu portfolio já tinha apenas investimentos que possuem impacto e na filantropia sempre apoiei causas climáticas. Mas com o BankFWD resolvemos utilizar outra ferramenta de impacto que temos: a nossa escolha bancária”, afirmou.

“Por meio da nossa voz, temos a habilidade para influenciar as decisões dos bancos. E, se as nossas conversas em particular com os diretores desses bancos não adiantarem, o caminho será pressioná-los publicamente”.

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Ações práticas

A primeira fala pública do BankFWD aconteceu em outubro do ano passado, quando Daniel e seus primos publicaram um artigo no jornal The New York Times criticando o envolvimento dos bancos com empresas de combustíveis fósseis.

O artigo ataca mais diretamente o JP Morgan Chase — maior provedor de financiamentos fósseis e banco com o qual a família sempre teve relação próxima. David Rockefeller (avô de Daniel Growald) foi CEO, presidente do conselho e maior acionista individual do na época em que o banco era o Chase Manhattan.

“O plano do banco [JP Morgan] de ‘estabelecer metas de emissão intermediárias para 2030’ em sua carteira de empréstimos é um gesto bem-vindo […]. Essas metas devem incluir planos específicos para encerrar o apoio à expansão de combustíveis fósseis e definir um cronograma para a eliminação gradual do apoio às empresas que carecem de planos adequados para abandonar os combustíveis fósseis. O JPMorgan Chase diz que espera que seus clientes façam o que for necessário para ajudar a cumprir as metas de emissões do acordo de Paris. Nós, como clientes, esperamos que o banco faça o mesmo”, diz o artigo.

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Além do texto, o BankFWD realiza reuniões com executivos do JP Morgan e, segundo Daniel, 85 membros da família Rockefeller assinaram uma carta pressionando a instituição a se posicionar. Em um movimento similar, o BANFWD reuniu oito poderosos clientes do Morgan Stanley que estão em conversas com o banco para discutir seu compromisso com as questões climáticas.

O objetivo do BankFWD agora é ampliar o número de clientes influentes dos bancos dispostos a pressioná-los. O grupo espera que os bancos se posicionem e apresentem planos detalhados sobre suas metas sustentáveis até novembro deste ano, quando acontece a 26ª conferência do clima das Nações Unidas (COP26).

Se isso não acontecer, os bilionários ameaçam mover seus recursos para outras instituições. A família Rockefeller tem uma fotruna estimada de US$ 8,4 bilhões, segundo a revista Forbes, o que faz dela a 43ª mais rica dos Estados Unidos.

Para mais conteúdo sobre negócios e empreendedorismo, acompanhe o podcast Do Zero ao Topo

Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.