Nvidia e Arm desistem de acordo bilionário — e o SoftBank tem um novo plano para sua empresa de chips

Essa teria sido a maior negociação já vista no setor dos semicondutores. Pressão de empresas e reguladores fizeram acordo cair por terra

Mariana Fonseca

Chip (Pok Rie/Pexels)

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A empresa de design de chips Arm é uma das grandes apostas do conglomerado japonês de tecnologia SoftBank – mas os planos para o negócio mudaram nesta terça-feira (8). O SoftBank anunciou que a negociação com a Nvidia (NVDC34), fabricante de chips para processadores gráficos que buscava comprar a Arm em uma negociação de US$ 40 bilhões, caiu por terra.

A negociação com a Nvidia foi anunciada em setembro de 2020. O objetivo era criar a “melhor companhia de computação do mundo para a era da inteligência artificial”, disseram as duas companhias em um comunicado na época.

Essa teria sido a maior negociação já vista no setor dos semicondutores, segundo a rede televisiva CNN. E poderia ter valido ainda mais, completou a agência de notícias Reuters. Como parte do acordo estava atrelado a ações da Nvidia, que valorizaram desde então, a avaliação do negócio teria subido para US$ 80 bilhões.

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O acordo teria sido uma boa saída para o SoftBank: a Arm era uma empresa independente até 2016, quando foi comprada pelo conglomerado japonês de telecomunicações por US$ 32 bilhões. Agora, o plano é fazer uma oferta pública inicial de ações (IPO) da Arm até março de 2023.

O anúncio vem no mesmo dia em que o SoftBank anunciou resultados financeiros: o lucro caiu 97% no quarto trimestre de 2021, na comparação com o mesmo período de 2020, que havia sido recorde por conta da valorização das ações de empresas de tecnologia. Como razões para o fim da boa maré no mercado de tech, o The New York Times cita as taxas de juros em alta pelo mundo e a pressão governamental chinesa sobre suas companhias tecnológicas – o próprio SoftBank tem uma participação relevante na gigante chinesa Alibaba.

Os problemas do acordo de Nvidia e Arm

O SoftBank citou em comunicado que “desafios regulatórios significativos” estão por trás do fim das conversas. Com sede no Reino Unido, a Arm licencia seu design de chips para os principais dispositivos tecnológicos do mundo, como os iPhones da Apple e os Kindles da Amazon. A Arm é uma fornecedora neutra, em um momento de demanda intensa e falta de oferta de chips. Sua tecnologia foi usada em 220 bilhões de chips, para mais de 1.000 empresas parceiras.

As conversas com a Nvidia fizeram diversas companhias temerem um favorecimento para o negócio de processadores gráficos, e o fim da entrega de chips essenciais para seus próprios negócios. A Arm fornece chips para a Qualcomm, por exemplo, uma concorrente direta da Nvidia.

Autoridades antitruste americanas e britânicas ameaçaram bloquear o acordo no final de 2021, e autoridades chinesas e europeias também expressaram preocupação, segundo a rede americana CNBC. Especialistas alertavam para as dificuldades da negociação desde setembro de 2020, e ela acabou não resistindo à pressão das empresas e dos reguladores.

Com os novos planos de um IPO, a Arm também trocou de comando. Um comunicado da própria companhia divulgado nesta terça afirma que o CEO Simon Segars dará lugar a Rene Haas. Haas foi presidente da divisão de produtos desde 2017. Sob sua liderança, a companhia entrou em mercados como o automotivo.

O futuro da Arm

Apesar de a negociação com a Nvidia ter fracassado, o SoftBank vai sair com algum dinheiro no bolso. O SoftBank afirmou que um depósito de US$ 1,25 bilhão que recebeu como parte de acordo não será devolvido – e vai entrar como lucro na divulgação de resultados da companhia, no resultado fiscal encerrado em 31 de março de 2022.

Segundo a Reuters, o IPO da Arm deve acontecer na bolsa americana de tecnologia Nasdaq. Masayoshi Son, fundador e CEO do SoftBank, afirmou em conferência nesta terça-feira que este seria o IPO mais significativo já visto na indústria de semicondutores, e que a Arm permitira revoluções em áreas como computação em nuvem e metaverso.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.