Ex-diretor do AliExpress quer profissionalizar o live commerce no Brasil

Mobocity conecta empresas a microinfluenciadores e gere seus vídeos curtos e transmissões ao vivo. Startup atende empresas como Amazon, Tencent e Kwai

Mariana Fonseca

Zhang Zhen e Yan Di, cofundadores da Mobocity (Divulgação)

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Em seus 20 anos no Brasil, Yan Di construiu e administrou a presença de diversas empresas chinesas no país – desde a fabricante de celulares Huawei e o buscador Baidu até o grupo de serviços financeiros Ant Group e o comércio eletrônico AliExpress. Essa última experiência fez Yan Di perceber a oportunidade para um novo negócio: o live commerce. Essas são transmissões ao vivo, nas quais influenciadores apresentam produtos e serviços e interagem com potenciais consumidores.

O executivo de tecnologia cofundou da Mobocity no mês passado. A empresa de gestão de vídeos curtos e live commerce surgiu a partir da reestruturação da Influu, uma agência de marketing por influenciadores criada pelo conterrâneo Zhang Zhen em 2018. Zhen agora é cofundador da Mobocity, junto de Di.

“Quando um executivo dá esse salto para o empreendedorismo, é porque enxerga uma grande tendência. As empresas consideravam vídeos curtos e lives uma fonte secundária de tráfego e que serve apenas para marketing. Mas esses formatos já estão virando os principais no mundo digital, e sendo usados inclusive para conversão”, afirma Di em coletiva sobre a transformação da Influu em Mobocity.

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Segundo dados coletados pela startup, 3,5 bilhões de usuários verão vídeos curtos em 2023, cerca de metade da população mundial. Já o mercado global de live commerce deverá faturar US$ 247,3 bilhões em 2027, ante um faturamento estimado de US$ 71,7 bilhões em 2022.

A primeira transmissão ao vivo para venda de produtos e serviços aconteceu em 2016, por meio do comércio eletrônico Taobao, do Alibaba (BABA34). Na China, o mercado de live commerce deverá representar 20,3% das vendas totais do comércio eletrônico neste ano. Por aqui, marcas como Americanas (AMER3) e Magazine Luiza (MGLU3) já experimentaram o formato.

Com a reestruturação, a Influu, antes uma agência de marketing, se transformou em uma empresa de tecnologia. A Mobocity atua primeiro com um marketplace para conectar as empresas atendidas com microinfluenciadores em temas que vão de jogos até moda.

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Cada marca estabelece seu orçamento, quantos microinfluenciadores quer contratar, qual perfil busca e quantas visualizações busca com vídeos curtos e transmissões ao vivo. A startup procura e seleciona profissionais adequados, inclusive por meio um sistema próprio de avaliação com base no histórico de projetos bem sucedidos (rating).

As marcas pagam à startup, que libera o pagamento aos microinfluenciadores apenas depois de o trabalho ser entregue. A Mobocity não cobra por cada transmissão, mas por um preço fixo com base no número de visualizações desejadas.

Di cita um estudo do fundo de venture capital Atlantico de agosto de 2021, que mostrou como 68% dos influenciadores brasileiros faturam menos de um salário mínimo com esse trabalho. “O live commerce pode servir como uma renda extra para influenciadores brasileiros. Eles vivem principalmente de conteúdos patrocinados bastante limitados, enquanto os influenciadores chineses já faturam muito com o live commerce. A maior influenciadora chinesa vendeu 288 apartamentos em sete minutos de transmissão”, exemplifica Di.

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Além do marketplace, a startup fornece às empresas uma tecnologia para transmitir lives com a marca de cada empresa. Essas transmissões ao vivo também são feitas de forma concentrada. Cada companhia faz uma única live pela plataforma e tanto essa transmissão quanto as ações feitas nela, como o envio de cupons promocionais, são refletidas em tempo real nas diversas redes sociais usadas pela companhia.

Dessa forma, os apresentadores não precisam ter vários celulares e os profissionais de redes sociais não precisam interagir com cada uma separadamente. Por fim, a Mobocity também oferece análise em tempo real para otimizar a performance das lives.

A Influu faturou US$ 1 milhão em 2019, seu primeiro ano completo de operação como agência de marketing por influenciadores. O faturamento cresceu para US$ 3,7 milhões em 2020, e para US$ 6 milhões em 2021. Como Mobocity, o objetivo deste ano é faturar pelo menos US$ 15 milhões. A empresa tem Ebitda positivo (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização), segundo Di.

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A startup já atende clientes como as gigantes de tecnologia AliExpress, Amazon, Bytedance, Tencent e Kwai e as startups Alice e ClickBus. A Mobocity realiza mais de 500 transmissões ao vivo por mês, e tem como recorde de venda US$ 500 mil em menos de uma hora de transmissão ao vivo, feita para a marca Xiaomi dentro do AliExpress.

A Mobocity tem 100 funcionários, distribuídos por regiões como América Latina, Estados Unidos, Europa e China. “Apesar da origem brasileira, já aceleramos a expansão na Europa e a entrada nos Estados Unidos. Queremos levar nossa expertise para mais mercados, com o objetivo de transformar essa atual tendência em realidade”, escreve Zhen Zhang em um comunicado sobre a Mobocity.

A startup planeja captar uma rodada série A neste ano. A Influu não havia feito captações com investidores antes de sua reestruturação. “Quando entrei na operação, defendi que tínhamos de começar a fazer fundraising [captação de recursos]. Isso será necessário inclusive para atrair talentos”, afirma Di.

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A Mobocity está brigando em um mercado que já tem concorrentes nacionais em operação, como Alive Commerce e Mimo Live Sales, ambas fundadas em 2020. Para Di e Zhen, a experiência no mercado que criou o live commerce como o conhecemos hoje fará a diferença.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.