Contra mudanças climáticas, GK Ventures aposta R$ 30 milhões em dar novo destino ao que indústrias descartam

Gestora que investe em negócios de impacto assinou cheque à Negócios Verdes, que trata a escória de aciaria e o descarte na produção de pedras ornamentais

Mariana Fonseca

Thomaz Pacheco, da GK Ventures (Divulgação)

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Para o investidor Thomaz Pacheco, vender e comprar créditos de carbono não será suficiente para conter os impactos das mudanças climáticas: é preciso que as indústrias pensem em como reaproveitar recursos de sua própria cadeia de produção. Esse é o racional por trás de seu mais novo cheque.

A Negócios Verdes, holding de negócios que atuam dando um novo destino a rejeitos industriais, recebeu um cheque de R$ 30 milhões da gestora com foco em negócios de impacto social Good Karma Ventures (GK Ventures).

Pacheco é o responsável pelos investimentos na vertical de mudanças climáticas dentro da gestora. O advogado trabalhou por nove anos no mercado financeiro, principalmente com fusões e aquisições de indústrias globais no Itaú BBA. “Em 2017, decidi repensar um pouco do que estava fazendo e procurar um propósito maior”, conta Pacheco ao Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney.

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O caminho do executivo se encontrou com o de Eduardo Mufarej, ex-CEO da gestora Tarpon e da Somos Educação. Pacheco participou de duas de suas empreitadas: foi diretor financeiro na escola de educação política RenovaBR e agora é cofundador e sócio da GK Ventures. Esse projeto de investimento em negócios de impacto social começou em 2019.

“Alugamos uma salinha e fazíamos investimentos proprietários e minoritários em negócios em estágio inicial. Alocamos R$ 50 milhões entre 10 startups, e vimos que havia a construção de um portfólio de impacto, de empreendimentos com missão. Vimos que poderíamos montar uma estratégia com capital de terceiros, e montamos um fundo”, explica Pacheco.

A primeira captação foi feita em junho de 2021. Hoje, a GK Ventures administra R$ 400 milhões. O que antes era um fundo focado apenas em educação e empregabilidade se transformou em um fundo com três grandes teses: educação, mudanças climáticas e saúde.

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A forma de investir também mudou na GK Ventures, com a passagem do investimento proprietário para o investimento de terceiros. Apesar de os cheques continuarem sendo feitos em troca de participação minoritária, a gestora agora olha para um portfólio concentrado de negócios em estágio de crescimento, participando de séries B em diante. A GK Ventures também atua com governança associada ao investimento, com participação ativa em revisões administrativas e estratégicas para aumentar o valor de cada negócio investido. Os cheques da gestora vão de R$ 30 milhões a R$ 75 milhões por negócio de impacto social investido.

Antes da Negócios Verdes, a gestora aportou em negócios como a startup de psicologia online Zenklub e a empresa de educação para o campo Rehagro. A Negócios Verdes é seu primeiro aporte na vertical de mudanças climáticas.

“A dinâmica de negócios que atuam combatendo as mudanças climáticas é diferente da dinâmica da nova economia, que exige poucos recursos em troca de alta escalabilidade. Mesmo assim, temos visto entusiasmo dos investidores com a tese. Eles veem a pressão em cima das multinacionais, que precisam ter soluções para reduzir sua pegada industrial”, afirma Pacheco.

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O Brasil foi um dos países que assinou o Acordo de Paris em 2015, com o compromisso de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 43% na comparação entre 2005 e 2030. Essa meta passa por uma redução dos poluentes emitidos nos processos produtivos de diversas companhias.

“Surgiu uma discussão no país sobre o seu papel no mercado de crédito de carbono. Mas o crédito de carbono não vai resolver tudo, num mundo que mais emite do que sequestra carbono. Para empresas altamente poluentes e sem muitas substituições a serem feitas nas próximas décadas, como celulose e siderurgia, temos que reduzir a pegada de carbono industrial”, afirma Pacheco. A Negócios Verdes atua justamente nessa área. A holding é dona de duas empresas.

A primeira é a Rolth do Brasil. A empresa pega o principal rejeito da indústria siderúrgica, chamado escória de aciaria, e o transforma em três subprodutos: metálicos, usados pela indústria siderúrgica e por sucateiros; agregados siderúrgicos, usados para formar blocos de concreto; e óxidos de cálcio e de magnésio, usados por produtores de fertilizantes.

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A Rolth do Brasil tem uma patente válida em 12 países e ainda está em estágio pré-operacional. Mesmo assim, sua solução de “aterro zero” para pátios de siderúrgicos rendeu um contrato firmado com a ArcellorMittal. A Rolth do Brasil fará o tratamento das 20 mil toneladas de escória de aciaria produzidas mensalmente na planta da siderúrgica em Resende (Rio de Janeiro). “Nosso cheque é para colocar essa primeira planta de pé, com uma expectativa de 18 meses para finalização dessa planta”, acrescenta Pacheco.

A segunda empresa é a Sulminas. A empresa foi fundada em 2004, para tratar o descarte na produção de pedras ornamentais em São Tomé das Letras (Minas Gerais). Cerca de 85% da matéria-prima é desperdiçada na produção de pedras ornamentais. Então, a Sulminas transforma esse descarte em areia de sílica. O insumo é usado pela indústria de construção civil, e passará a ser comercializada também para indústrias de vidro depois do aporte da GK Ventures.

“A pureza e a granularidade da areia de sílica impactam diretamente na vida das máquinas, e estender a vida útil de equipamentos como fornos faz toda a diferença nas indústrias de vidro. É um mercado com grandes requisitos, e vemos oportunidades de ganho de participação de mercado da Sulminas. A empresa tem uma planta que opera de maneira subdimensionada, então vamos ampliar esforços comerciais e triplicar sua capacidade operacional”, afirma Pacheco. A areia de sílica tem que ser geralmente minerada – um processo com alto impacto ambiental.

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A Negócios Verdes é controlada pela família da empresa de cimentos Ciplan. A GK Ventures e os investidores Daniel Goldberg e Marco Kheirallah, sócios da gestora Lumina, aportaram R$ 30 milhões em troca de 36,69% de participação.

Os planos da gestora para as duas companhias têm como objetivo não apenas gerar retorno financeiro, mas ampliar o impacto ambiental, financeiro e social de cada empresa. “Quando captamos recursos com terceiros, ouvimos que havia uma falta de metrificação do impacto, inclusive para comparar o impacto proporcionado por diferentes investimentos. Então, desenvolvemos uma metodologia para calcular o múltiplo de impacto junto com o Insper”, afirma Pacheco.

A GK Ventures coloca como meta gerar pelo menos duas vezes o capital investido em impacto. Apenas o investimento na Negócios Verdes tem uma prévia de múltiplo de impacto de 9,3 vezes o cheque assinado. Essa metodologia deve ser compartilhada com o mercado em formato open source em breve, segundo Pacheco.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.