Como uma startup mineira de programação para não-programadores chegou até Singapura

Fluna oferece sua ferramenta no code para 21 empresas; de olho em internacionalização, startup passa pela aceleração 500 Startups Global Launch Singapore

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – Alguns problemas são globais – e um deles é a corrida por profissionais de desenvolvimento. O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, já mostrou como a pandemia do novo coronavírus acelerou uma procura que já era grande por profissionais de tecnologia.

Algumas startups faturam com a demanda, como é o caso da Fluna. A startup de Belo Horizonte (Minas Gerais) está agora levando sua solução de no code, ou desenvolvimento de aplicações sem precisar saber programar, para a Ásia.

A internacionalização acontece por meio do programa de aceleração 500 Startups Global Launch Singapore. A 500 Startups é uma das aceleradoras mais conhecidas do Vale do Silício. Tem mais de 2.500 startups em seu portfólio, como os unicórnios Canva, Grab e Udemy e os empreendimentos brasileiros Conta Azul, Descomplica e VivaReal.

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O Do Zero Ao Topo conversou com Alysson Nazareth e Paulo Cerqueira, dois dos cofundadores da Fluna, para entender mais sobre o modelo de negócio, sobre o mercado de no code e sobre a aceleração e a internacionalização da startup mineira.

A procura pelo “sem código”

A Fluna foi criada por Alysson Nazareth, Bruno Pfeilsticker, Filipe Drumond, Flávio Araújo e Paulo Cerqueira no final de 2019. Alysson programa desde os 12 anos de idade. Seu primeiro negócio foi uma ferramenta de tradução de aplicativos do mandarim para o português, criada na adolescência. Formado em Sistemas da Informação, Nazareth trabalhou depois em uma fábrica de software e em uma startup. “Como desenvolvedor, tinha vários trabalhos e não conseguia dar conta de todos. Contratar desenvolvedores era um problema recorrente”, diz.

Cerqueira tinha experiência em indústrias, inclusive com um negócio próprio de fabricação e importação de produtos para a área de telecomunicações. Pfeilsticker é engenheiro mecânico, trabalhou com investimentos e cofundou a venture builder Trekken Ventures. Drumond é formado em economia e trabalhou como gerente de projetos e desenvolvedor de negócios. Por fim, Araújo trabalhou com inovação corporativa, com investimentos e também cofundou a Trekken Ventures.

Os cinco sócios cofundaram a Fluna em fevereiro de 2020, um mês antes de a pandemia do novo coronavírus se intensificar no Brasil. O investimento inicial no negócio foi de R$ 300 mil.

Paulo Cerqueira, Alysson Nazareth, Bruno Pfeilsticker, Flávio Araújo e Filipe Drumond, da Fluna (Divulgação)
Paulo Cerqueira, Alysson Nazareth, Bruno Pfeilsticker, Flávio Araújo e Filipe Drumond, da Fluna (Divulgação)

Os empreendedores oferecem uma solução que casa com a aceleração da demanda por desenvolvedores. A startup tem uma ferramenta de programação no code que permite criar projetos apenas arrastando peças de código – inclusive feitas com linguagens diferentes, como Node, PHP e Python. Aplicações que envolvem blockchain e inteligência artificial também podem ser feitas pela Fluna.

Desenvolver aplicativos usando componentes drag and drop permite que desenvolvedores profissionais recebam suporte e possam focar em tarefas mais complexos, enquanto desenvolvedores não técnicos têm seu dia a dia facilitado por não precisarem codificar.

“Existem outras ferramentas de no code e low code. No code é criar aplicações sem código nenhum, apenas arrastando peças na tela, enquanto o low code permite que você altere o código dessas peças. A gente se coloca como um no code mais flexível, porque não somos fechados em apenas uma linguagem de programação. Interpretamos e orquestramos diferentes stacks [tecnologias para desenvolvimento]”, explica Cerqueira.

Empresas assinam a plataforma para construírem projetos com sua própria equipe. Além da ferramenta de programação no code, a startup fornece banco de dados e infraestrutura para que cada aplicação funcione. A assinatura é mensal, com valor dependendo do número de usuários.

Depois de um período de construção da solução, a Fluna realmente começou a operar em junho deste ano. Em dois meses, conquistou 21 empresas, desde comércios eletrônicos até aplicativos de gestão, em um ano e meio de negócio. Alguns exemplos são BrasilSAT e Take Blip.

A Fluna afirma que sua ferramenta permite que aplicações sejam desenvolvidas 10 vezes mais rápida, em comparação com o desenvolvimento tradicional. O objetivo não é que as empresas reduzam sua equipe de desenvolvedores, porém. “Temos dois problemas no mercado: vagas continuam abertas por falta de mão-de-obra em desenvolvimento, e o backlog das empresas só cresce. Nosso objetivo é aumentar a produtividade das equipes atuais para reduzir os projetos que ficam na fila”, diz Cerqueira. “O tempo para formar profissionais de front end, back end e infraestrutura é longo. Então desenvolvemos uma ferramenta para acelerar agora o processo de desenvolvimento”, completa Nazareth.

O mercado de low code apenas foi estimado em US$ 10,3 bilhões em 2019. Até 2030, deve crescer para US$ 187 bilhões, segundo o relatório Low-Code Development Platform Market Research Report: By Offering, Deployment Type, Enterprise, Vertical – Global Industry Analysis and Growth Forecast to 2030. É um ritmo de crescimento anual médio de 31,1%.

Próximo alvo: o mercado asiático

O mesmo estudo ressalta que a demanda por plataformas low code deve “aumentar consideravelmente na região da Ásia-Pacífico nos próximos anos, devido ao aumento da penetração da internet, aumento da utilização de smartphones e rápido crescimento econômico.”

A Fluna se inscreveu no programa de aceleração 500 Startups Global Launch Singapore porque estava de olho no mercado asiático. “Acreditamos que a região é o presente e o futuro da economia global, mas vemos poucas opções de soluções no code e low code por lá em comparação com o Ocidente”, diz Cerqueira. “Desenvolvimento mais ágil é um problema mundial. A aceleração vem para encurtar nosso caminho de crescimento internacional, dado que Singapura é um núcleo de tecnologia para a Ásia.”

A Fluna foi selecionada em julho de 2020, sendo a única startup brasileira entre as 12 selecionadas. Os outros negócios participantes são Alphaus e CreditEngine (Japão); Altun Lab (Chile); Dolnn (Portugal); EcoBillz, Enixta e Morr.blz (India); Markopclo.ai e inCast Inc. (EUA); Locsely Coupled (Malásia); e Optimo (Georgia). O programa não envolve investimento, nem concessão de participação no negócio. Mais de 200 empreendimentos foram analisados até chegar aos 12 selecionados.

O 500 Startups Global Launch Singapore começou neste mês. Agosto e setembro serão dedicados a uma aceleração virtual, encerrada com um dia de apresentações a investidores (Demo Day). Os sócios da Fluna devem passar por mais uma etapa de aceleração em fevereiro e março de 2022, desta vez em Singapura.

“É um programa voltado a iniciar uma operação no mercado asiático, então nesses meses montaremos uma estrutura em Singapura. Como a grande maioria da população fala inglês por lá e esse também é o idioma oficial dos programadores, temos uma entrada facilitada”, diz Cerqueira.

A Fluna projeta faturar de R$ 1 milhão em 2021. Para 2022, o plano é triplicar os ganhos. “Começamos atendendo startups e evoluímos para grandes empresas. Mesmo que o número de negócios atendidos não cresça tanto, devemos ter bem mais usuários porque o tamanho das equipes será maior. São times de desenvolvimento que partem de 50 funcionários”, diz Cerqueira.

Nazareth completa que a startup está desenvolvendo uma funcionalidade que permita trabalhar online na mesma base de código – uma espécie de Google Docs para programadores. “A pandemia acelerou o trabalho remoto, e vemos dificuldades nas organizações de construir squads para desenvolvedores trabalharem em conjunto.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.