Carros novos e seminovos: como estes empreendedores dominaram 60% das vendas em concessionárias oficiais

Vianuvem fornece software de venda digital de carros a 2.500 concessionárias bandeiradas. Startup foi vendida em maio para a Unico, antiga Acesso Digital

Mariana Fonseca

Fredy Evangelista e Heitor Orletti, cofundadores da Vianuvem, hoje unicoIauto (Divulgação)

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SÃO PAULO – Os 58 funcionários da Vianuvem têm uma grande tarefa em mãos: coordenar 60% das transações de carros novos e seminovos nas concessionárias bandeiradas brasileiras – com vendas autorizadas oficialmente por montadoras como BMW, Fiat, Ford, Renault e Volkswagen. O software da startup leva as concessionárias para a internet, digitalizando e acelerando a entrega de documentos.

A proposta chamou a atenção da Unico, antigamente chamada de Acesso Digital. A empresa de tecnologia de identidade fechou a compra da Vianuvem no final de maio. A startup se transformou na unidade de negócio unico|auto. O valor da transação não foi divulgado.

O Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, conversou com cofundadores da agora unico|auto sobre a trajetória até a venda. Também entrevistou Guilherme Cervieri, vice-presidente de fusões e aquisições da Unico, sobre planos para a startup de compra online de automóveis.

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Venda online de carros novos e seminovos

A Vianuvem foi criada pelos empreendedores Fredy Evangelista e Heitor Orletti em 2017. Evangelista trabalhava com vendas, enquanto Orletti tinha experiência em tecnologia. Eles se conheceram em 2015 e se juntaram para emplacar um software de gestão de processos criado por Orletti.

Duas concessionárias de carros estavam entre os clientes do software. “Percebemos que existia uma grande dor ao vender carros. Paramos de atender outros segmentos e pivotamos para atendermos apenas concessionárias em 2017”, diz Evangelista.

O empreendedor afirma que a transação de um automóvel envolve burocracias e diversos intermediários: entre o cliente e a concessionária estão bancos que concedem financiamentos e despachantes, que conversam com cartórios e órgãos como os Detrans. “São muitas assinaturas colhidas e diversas etapas. Os vendedores comercializam diversos veículos e podem se perder entre tantos documentos”, diz Evangelista.

A Vianuvem permite que os vendedores enviem aos clientes um link que os direciona para o processo específico do carro a ser vendido – as etapas podem ser diferentes para um carro novo ou seminovo, por exemplo. Nesse link, os clientes mandam fotos de seus documentos e assinam contratos digitalmente. As informações são separadas e enviadas de acordo com as necessidades de cada intermediário. Tanto cliente quanto concessionária acompanham o andamento dessa compra por meio de um painel da Vianuvem.

Segundo a startup, tradicionalmente são quinze dias para uma proposta de compra assinada virar um veículo emplacado. Pelo seu software, o tempo é reduzido para dois dias. “A concessionária realiza vendas mais rapidamente, e o cliente tem uma melhor experiência de compra”, diz Evangelista.

A Vianuvem dobra de tamanho a cada ano desde sua pivotagem para atender concessionárias. Hoje, a Vianuvem coordena 60% das transações feitas em concessionárias oficiais pelo Brasil.

Cerca de 2.500 concessionárias usam o software da startup. O momento tem sido difícil para a venda de automóveis: diversas montadoras paralisaram fábricas, gerando falta de oferta de carros novos. As vendas estão se recuperando lentamente. Em maio, o emplacamento de veículos foi 7% superior ao observado no mês anterior, e 140% superior do que o registrado em maio de 2020.

Segundo Evangelista, as vendas menores de carros novos nos últimos meses foram compensadas pela maior procura por seminovos. “Tivemos uma redução de mensalidade do nosso software por quatro meses, mas depois voltamos ao preço cheio e não tivemos cancelamentos. A pandemia mostrou a importância de digitalização para as concessionárias.”

A Vianuvem cresceu 70% em 2020. Para 2021, procura repetir a proporção de expansão – agora sob o nome de unico|auto.

Decisão pela venda e expansão de serviços

A Vianuvem nunca havia captado aportes, sustentando-se apenas com os recursos dos sócios e de empréstimos bancários. “Tínhamos quase 60 funcionários e um faturamento relevante, mas precisávamos ter um salto de crescimento”, diz Evangelista. Os empreendedores tiveram de se decidir entre captar dinheiro com fundos ou conversar com empresas interessadas. “A Vianuvem foi nosso primeiro negócio. Queríamos uma empresa com estrutura e que nos ajudasse em gestão, então decidimos partir para o M&A [processo de fusão e aquisição]”, afirma o cofundador.

As conversas com a Unico começaram no final de março, com acordo fechado no final de maio. A Unico foi criada com o nome de Acesso Digital em 2007. A empresa atende mais de 600 clientes por meio de soluções como biometria para compras e contratação digital de funcionários. Entre os clientes estão bancos, marketplaces e varejistas como B2W, Carrefour, Magazine Luiza e Vivo.

A Acesso Digital trocou seu nome para Unico no final de 2020, como parte da estratégia de entrar em mais segmentos e de facilitar o reconhecimento em mercados internacionais.

“Temos como propósito desburocratizar a vida das pessoas, e comprar um carro ainda é um processo muito burocrático e offline. Percebemos similaridade de pensamentos e de entrega ao cliente nas conversas com a Vianuvem”, diz Guilherme Cervieri, vice-presidente de fusões e aquisições da Unico. “Assim como eles trazem facilidade ao abrir uma conta digital no banco, trazemos facilidade ao comprar um carro pela internet”, completa Evangelista.

Guilherme Cervieri, vice-presidente de fusões e aquisições da unico (Divulgação)
Guilherme Cervieri, vice-presidente de fusões e aquisições da unico (Divulgação)

A Unico está trabalhando para integrar a Vianuvem – que virou a unidade de negócios unico|auto. Essa união vai do CNPJ até a folha de pagamentos e deve ser concluída ainda neste ano, segundo o vice-presidente.

Após a integração entre as empresas de tecnologia, a Unico estuda oferecer serviços como seguro ou tag de estacionamento e pedágio junto da compra online do automóvel novo ou seminovo. “O objetivo em longo prazo é que as pessoas não precisem mais ter bolsos na calça, porque rosto e voz permitirão resolver as burocracias do dia a dia”, diz Cervieri.

Essa é a quarta aquisição da Unico. A empresa já comprou as startups dotBR (gerenciamento de documentos), Arkivus (biometria) e Meerkat (análise de imagens). Os objetivos são acessar clientes de empresas concorrentes; entrar em novos mercados; adquirir equipes talentosas e tecnologias promissoras; e explorar novas geografias.

Fusões e Aquisições em alta

A novidade vem um momento de muitos processos de M&A no mercado brasileiro. Segundo a empresa de inovação Distrito, houve um recorde histórico de 174 processos de fusão e aquisição envolvendo startups brasileiras em 2020. O número foi 160% superior ao visto em 2019. Em cinco anos, o crescimento nos M&As envolvendo startups foi de 410%.

As fusões e aquisições vêm de empresas tradicionais, mas também de startups que amadureceram ao longo dos anos, como a Unico. A companhia ganhou em setembro do ano passado mais fundos para fazer aquisições. Captou um investimento série B de R$ 580 milhões, liderado pelo conglomerado japonês de telecomunicações SoftBank.

“Todos os recursos captados vão para planos de médio e longo prazo, incluindo as aquisições. Como somos uma empresa B2B [que atende outras empresas], não temos o custo de aquisição de clientes visto em fintechs e marketplaces que atendem consumidores finais”, diz Cervieri. “Agora queremos fazer aquisições maiores, e de forma mais ágil. Temos 30 empresas na nossa base de negociações e faremos três compras por ano.”

O Do Zero Ao Topo apurou que a Unico faturou R$ 150 milhões em 2020. “Dobramos no último ano e queremos manter essa proporção de crescimento em 2021. Já expandimos 130% na comparação desses últimos cinco meses com o mesmo período de 2020”, conclui o vice-presidente de fusões e aquisições da Unico.

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.