Como criar um negócio disruptivo? Fundadores de Buscapé, Fazenda Futuro e Vittude respondem

Romero Rodrigues, Marcos Leta e Tatiana Pimenta compartilham conselhos sobre o que é disrupção e como lidar com desconfianças sobre o negócio

Mariana Fonseca

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SÃO PAULO – Diferenciar-se da concorrência é fundamental para o sucesso nos negócios. A jornada de construir um negócio disruptivo não é simples: o empreendedor precisa enfrentar questionamentos sobre o negócio e sobre sua própria capacidade, praticando resiliência e pensamento em longo prazo. O lado bom é que disrupção não necessariamente significa desenvolver tecnologia de ponta – e que não é preciso ser o primeiro do mercado para ser bem sucedido.

Essas reflexões foram levantadas por fundadores conhecidos no mundo das startups: Marcos Leta, fundador da Do Bem e da Fazenda Futuro; Romero Rodrigues, cofundador do Buscapé e hoje investidor e sócio do fundo Redpoint eventures; e Tatiana Pimenta, fundadora da Vittude.

Os empreendedores debateram sobre como construir, manter e capitalizar um negócio disruptivo em um painel realizado pelo Do Zero Ao Topo, marca de empreendedorismo do InfoMoney, durante a Expert XP.

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Como criar e manter um negócio disruptivo?

Muitos empreendedores pensem que disrupção significa apenas tecnologia de ponta. Mas Leta afirma que a disrupção pode ser simplesmente uma transformação constante em relação ao que já existe no mercado. “No caso da Do Bem, era colocar uma fruta dentro de uma caixinha porque só havia suco ruim no supermercado”, diz o empreendedor.

Já na Fazenda Futuro, foi preciso investir constantemente em novas versões dos produtos a base de planta. “Evolua constantemente. Não seja como uma indústria tradicional, que espera 10 ou 15 anos para mudar a formulação de um produto. A gente, por exemplo, descobre algo novo e muda rapidamente.”

Depois de criado o negócio, porém, é preciso se preparar para os questionamentos sobre a empresa e sobre a própria capacidade. “A gente tem que estar preparado para uma série de nãos. Quando a gente está construindo algo que ninguém nunca experimentou, a chance de as pessoas o chamarem de maluco, inconsequente e sem juízo é grande. Foi o que eu ouvi lá no começo: que o negócio não ia dar certo, que ninguém nunca vai fazer terapia online”, diz Tatiana. A plataforma de terapia online Vittude foi criada em 2016, mas uma regulamentação mais ampla do setor só veio em 2018.

“Quando o empreendedor começa um negócio disruptivo, no olho do leigo pode parecer um lixo”, alerta Rodrigues. “Quando eu comecei o Buscapé, as pessoas falavam que comparação de preços era um mercado mínimo. Mas eu estava em um mercado maior, que era o de comércio eletrônico. A ambição do empreendedor é muito importante, e continuar apaixonado pelo problema e não pela solução.”

É fundamental ser o primeiro de um mercado? Para Rodrigues, o primeiro pode até ter uma vantagem. Mas, muitas vezes, é melhor ser o último a ficar de pé. “O Google foi praticamente o último buscador, enquanto o Facebook também não foi a primeira rede social. Outros players deixaram de existir, inclusive porque começaram cedo demais. Quem consegue ficar grande o suficiente normalmente ganha o jogo. É melhor pensar numa maratona, não um sprint.”

Empreendedora e maratonista, Tatiana concorda com a análise do fundador do Buscapé. “Você tem que pensar no longo prazo, e no seu sonho grande. (…) Tem que ter resiliência e consistência, e também se preocupar com saúde mental. Se a gente enquanto líder de empresa não está bem, não entrega o melhor. É preciso estar saudável para conseguir produzir em máxima potência, lidar com a pressão do dia a dia, entender os melhores caminhos e tomar decisões assertivas.”

Como atrair investidores para seu negócio?

Rodrigues compartilhou três pontos que leva em consideração na sua análise de negócios disruptivos, como investidor neles. O primeiro ponto é time. “Não é negociável. Podemos investir em um time A com produto B, mas não num time B com produto A”. O segundo ponto é o tamanho do mercado. “Preferimos investir em mercados grandes, mesmo que os nichos depois possam evoluir criando produtos complementares. O terceiro e o último ponto é o tamanho do problema que está sendo resolvido.

“Eu tenho predileção em investir em modelos de negócios que não são consenso”, diz o fundador do Buscapé e investidor. “Quando você está certo, o retorno é altíssimo. Mesmo você estando certo no consenso, seu investimento vai enfrentar muita concorrência. A vantagem de você ser disruptivo, parafraseando o Walt Disney: ‘eu gosto do impossível porque a concorrência lá é menor’. (…) Os grandes negócios que eu conheço foram extremamente disruptivos e os fundadores foram chamados de loucos nos primeiros anos de operação.”

Mariana Fonseca

Subeditora do InfoMoney, escreve e edita matérias sobre empreendedorismo, gestão e inovação. Coapresentadora do podcast e dos vídeos da marca Do Zero Ao Topo.