A startup de logística da favela que já entregou 715 mil produtos e captou meio milhão de reais

Com um ano de operação, valor das mercadorias entregues pela Favela Brasil Xpress nas comunidades ultrapassa R$ 388 milhões

Letícia Toledo

Parte da equipe da startup Favela Brasil Xpress na base de Paraisópolis (André Silva/Cria Brasil)

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Quando o empreendedor Givanildo Pereira Bastos se reuniu pela primeira vez com varejistas brasileiras para explicar a ideia de sua startup, no início de 2021, a maioria delas não viu muito potencial. No complexo segmento de logística, o empreendedor queria resolver um problema que nem grandes transportadoras e nem startups com valuations bilionários conseguiram: a entrega de produtos comprados via e-commerce pelos moradores das favelas brasileiras.

“Os varejistas não acreditavam no potencial consumidor da favela. Além disso, disseram que muita gente tinha tentado resolver esse problema e questionaram por que a gente achava que iria conseguir”, relata Bastos em entrevista ao Do Zero ao Topo — marca de empreendedorismo do InfoMoney. Morador da favela de Paraisópolis, da cidade de São Paulo e a quinta maior favela do país, o jovem de 22 anos tinha a resposta na ponta língua: seu diferencial estava no fato de ele próprio e os seus entregadores conhecerem as comunidades como nenhuma outra empresa de logística conhece. Com essa visão, teve início a Favela Brasil Xpress.

Por serem consideradas áreas de risco, as comunidades costumam ficar de fora da rota das empresas de logística em todo o país. Completando um ano desde o início de suas operaçãos a Favela Brasil Xpress já conta com números de gente grande. Foram mais de 715 mil encomendas entregues para 524 mil pessoas. O valor total das mercadorias transacionadas nesse período ultrapassa os R$ 388 milhões. “Isso mostra o potencial de consumo da comunidade e quanto dinheiro as varejistas perdiam por não entregar para essa população”, destaca Bastos.

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Entregador da Favela Brasil Xpress (Talytha Cardoso / Agência Cria Brasil)

A primeira base operacional do negócio foi instalada em Paraisópolis. Atualmente, a startup já opera em outros cinco endereços: nas comunidades paulistas de Heliópolis, Capão Redondo, Cidade Julia e Diadema e na carioca de Vila Cruzeiro.

“Temos 50 funcionários e mais de 300 entregadores que são nossos parceiros. Só com a estrutura atual, estimamos ultrapassar o número de 2 milhões de entregas ainda neste ano”, afirma o CEO. Para crescer ainda mais, a empresa está captando recursos por meio de um equity crowdfunding na plataforma DIVIhub. Faltando 20 dias para o encerramento da arrecadação, o total recebido já ultrapassa os R$ 528 mil.

Nascido na cidade de Nova Palmeira, no sertão da Paraíba, Givanildo chegou à favela de Paraisópolis com a mãe aos 12 anos de idade. “A vida na Paraíba era simples, mas não era ruim. Viemos para cá, como muitos, com o sonho de enriquecer”, conta. A realidade que enfrentaram ao chegar em São Paulo, em 2012, não foi a que esperavam. Tiveram que morar em um barraco da comunidade com outros dez familiares.

Ainda na adolescência, Bastos começou a desenvolver projetos para melhorar a vida na comunidade. Mas foi ao seu unir ao grupo G10 Favelas — bloco idealizado por Gilson Rodrigues e que reúne as 10 maiores favelas do país — que entendeu o potencial de empreender na região.

CEO da Favela Brasil Xpress (André Silva/Cria Brasil)

Hoje, a Favela Brasil Xpress tem parceria com as varejistas Americanas S.A, Casas Bahia e Riachuelo. Quando um morador de uma das favelas onde a Favela Brasil Xpress têm operações compra um produto em um desses sites, a mercadoria é direcionada para os espaços da startup. Lá, a Favela Xpress direciona os produtos para um de seus entregadores parceiros — todos moradores da comunidade — que realizam a entrega na casa do consumidor de carro, moto, bicicleta ou até mesmo a pé.

O faturamento da Favela Brasil Xpress vem de uma taxa paga pelas varejistas por cada entrega feita, no mesmo modelo de outras startups last mille. Com o modelo validado nas comunidades onde já atua e o dinheiro do equity crowdfunding, a empresa pretende agora chegar a 50 bases operacionais espalhadas em cinco estados ainda em 2022. Com isso, a startup estima que gerará 2.500 empregos e chegará a marca de 10 milhões de entregas até o fim do ano.

“Estamos crescendo também o número de varejistas parceiras. Temos negociações em andamento com outras grandes do setor”, conta Bastos. Com os números atuais, o varejo agora parece convencido de que essa startup ainda vai rodar muito pelo Brasil.

Letícia Toledo

Repórter especial do InfoMoney, cobre grandes empresas de capital aberto e fechado. É apresentadora e roteirista do podcast Do Zero ao Topo.