O “detalhe” da OPA da CPFL que ninguém viu e que provocou a queda de 24% da ação

A chinesa State Grid realiza nesta quinta-feira a OPA por aquisição de controle da companhia; somente nesta sessão, o papel da elétrica afunda 18% na Bolsa

Paula Barra

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SÃO PAULO – As ações da CPFL Energia (CPFE3) desabam na Bolsa nos últimos pregões, mais precisamente 24% em 4 dias. Algo que não deveria ser comum para um papel que estava em OPA (Oferta Pública de Aquisição), cujo leilão ocorreu às 15h (horário de Brasília) desta quinta-feira (30). Isso porque, em transações como essa, o valor proposto pelo ofertante é definido e “travado” meses antes de sua efetiva operação, o que faz com que o preço se ajuste ao longo do tempo, não em uma curta janela, como visto agora. 

Do fechamento do pregão do dia 24 de novembro (quando iniciou o movimento de queda) até hoje, os papéis da elétrica afundaram 24%, indo para os R$ 20,82 – a maior parte dessa derrocada, contudo, ocorreu entre ontem e hoje, quando as ações caíram 23%. O movimento levou os papéis para o menor patamar em Bolsa desde julho de 2016, época que coincide com as intenções da chinesa State Grid em adquirir a totalidade das ações da CPFL detidas pela Camargo Corrêa (23,6%). Meses depois, a oferta foi estendida aos demais membros do controle – os fundos de pensão Previ, Fundação Cesp, Sabesprev, Sistel e Petros -, levando a participação da companhia na CPFL para 56,64%. A proposta saiu por R$ 25 por ação. 

Pelos termos do acordo, a chinesa era obrigada a estender a oferta aos demais acionistas, em uma operação conhecida no mercado como OPA, que ocorre justamente hoje na B3, com início às 15h (horário de Brasília). A oferta foi de R$ 25,51 por ação ordinária restante da CPFL. Ajustados pela Selic do período, a oferta saiu por R$ 27,69 por ação. 

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Onde mora a grande questão
É justamente nesse ponto que mora a grande dúvida sobre o movimento recente da elétrica na Bolsa: por que os papéis afundaram tanto já que o preço da OPA saiu a R$ 27,69 – ou seja, 30% acima da cotação atual do papel no mercado. 

Segundo um operador de mercado que pediu para não ser identificado, a explicação pode estar em dois pequenos detalhes que fizeram toda a diferença. A OPA em questão é por aquisição de controle acionário, ou seja, diferente da OPA para fechamento de capital, o investidor precisa manifestar sua intenção de participar da oferta. Quem não o fizer seguirá com a ação, só que em um ativo com a liquidez bem reduzida. 

O outro ponto é que essa vontade teria que ter sido expressa até o final do pregão de ontem e, para isso, o investidor precisaria que ter a ação em custódia até aquele dia – ou seja, ter comprado até a última segunda-feira (27), já que a liquidação na Bolsa ocorre em D+3. 

Para um gestor de mercado que também pediu anonimato, muita gente deve ter se distraído a esse fato, provocando uma correria nos últimos dias, já que poucos estão dispostos a ficar com um papel que perderá boa parte de sua liquidez na Bolsa. Por isso, vimos uma queda tão abrupta.

Às 15h53 (horário de Brasília), o resultado da OPA ainda não havia sido divulgado pela B3. No mesmo momento, os papéis da companhia caíam 17,64%, a R$ 20,82, atingindo na mínima do dia queda de 18,75%, a R$ 20,54.

Veja abaixo o desempenho dos papéis nos últimos pregões: