Semana Brasil promove descontos no varejo para tentar reaquecer a economia; vai funcionar?

Evento enfrenta desafios adicionais em 2020 com a pandemia; especialistas respondem se vale a pena aproveitar os descontos

Pablo Santana

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O governo federal anunciou a segunda edição da Semana Brasil, a “Black Friday brasileira”, para os dias 3 a 13 de setembro.

O evento promove descontos em lojas físicas e virtuais de todo o país e foi criado para estimular o consumo em um período fraco para a indústria e o comércio. E neste ano a iniciativa enfrenta desafios adicionais com a crise econômica e o alto desemprego causado pela pandemia de coronavírus.

Coordenada pelo Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV), com apoio da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), a edição de 2020 conta com o slogan “Todos juntos com segurança pela retomada e o emprego”, e foi pensada para ser o primeiro grande evento do varejo no país após a reabertura gradual do comércio.

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No ano passado, as vendas no varejo em todo o país registraram crescimento nominal de 12% durante o evento, de acordo com balanço divulgado pela Cielo. O crescimento foi medido em comparação às médias de dias regulares do primeiro semestre de 2019.

As cestas que mais avançaram em vendas durante a primeira edição da Semana Brasil foram as de cosméticos (19%), móveis e eletrônicos (16%) e itens de supermercados (13%).

Já no e-commerce, o aumento nas vendas foi de 41% durante o evento no ano passado, com 4,4 milhões de transações e faturamento de R$1,86 bilhão, de acordo com números levantados pela consultoria Ebit/Nielsen.

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Para a edição deste ano, 83 associações do comércio varejista já aderiram ao evento e devem participar das promoções. Segundo Marcelo Silva, presidente do IDV, a Semana Brasil em 2020 deve reforçar ainda mais o seu pilar de ser um estímulo ao consumidor, que está mais racional por conta da crise, e tentar dar um impulso no reaquecimento da economia.

“A nossa proposta é tentar instaurar um clima de confiança para a população reiniciar o seu ciclo de compras. Muitas empresas, com exceção das que comercializam produtos considerados essenciais, sofreram com as portas fechadas e o consumidor está mais consciente, aguardando por melhores oportunidades reais de negócios”, diz Silva.

Além de tentar superar a mudança de perfil em relação ao consumo, o evento deste ano acontece ainda durante a pandemia, ou seja, com o comércio físico funcionando sob medidas restritivas. Pensando nisso, a entidade criou uma campanha com orientações para evitar aglomerações.

“Cabe ao varejo começar a promover essa retomada da economia, conscientizando consumidores e empresários a respeitarem os protocolos de saúde. Nós não temos uma ideia do crescimento para 2020 porque não podemos comparar a economia do ano passado com a economia anormal em termos de atividade, como tem acontecido neste ano, mas a retomada precisa ser estimulada”, afirma o presidente do IDV.

Estímulo

Em julho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC), da Fundação Getúlio Vargas (FGV), subiu 7,7 pontos ante junho, chegando a 78,8 pontos.

Essa foi a terceira alta consecutiva do indicador que mensura a sensação do consumidor em relação à situação econômica pessoal e a do país no curto e no médio prazo, sendo utilizado para identificar a tendência de consumo das famílias. Ainda assim, o índice continua abaixo do patamar registrado em fevereiro, antes do início da pandemia e do agravamento da crise.

Mesmo com o sentimento de cautela predominando entre a população, Michael Viriato, professor de finanças do Insper, acredita que a Semana Brasil pode ser um pontapé inicial para estimular o consumo e ensaiar uma retomada.

“Hoje temos um ambiente em que as pessoas estão com a confiança abalada por perda de emprego, problemas de saúde e tudo isso colabora para que elas se retraiam em termos de consumo. Mas, quando se tem um evento desse tipo, as pessoas naturalmente se sentem estimuladas a consumir”, explica Viriato.

O economista da XP Investimentos, Vitor Vidal, também acredita que o evento pode promover o consumo no último quadrimestre do ano, pois os estímulos fiscais e monetários criados pelo governo geraram uma complementação da renda no país, mas reforça que a pandemia ainda é um agravante que impacta diretamente no comportamento atual de consumo.

“Existe uma demanda reprimida que, por uma complementação de renda, pode impulsionar a economia no primeiro momento, mas a questão sanitária ainda interfere. As pessoas estão com medo de sair e, embora o comércio eletrônico tenha crescido, boa parte dos brasileiros gosta do comércio de rua, é isso que gera emprego, consumo. A economia ainda tem essa dinâmica”, diz Vidal.

Vale a pena antecipar as compras?

Como os produtos mais desejados durante as promoções são eletroeletrônicos, Vidal diz que é preciso ter cautela por conta do câmbio.

“Esses bens duráveis no Brasil não tiveram uma grande queda de preços recentemente por causa da alta do dólar. Pode ser que na Semana da Pátria os preços caiam, mas mora uma incerteza aí”, afirma.

Viriato reforça ainda que qualquer compra no atual cenário precisa ser avaliada com cuidado e só deve ser feita se for considerada essencial, pois a crise pode se agravar ainda mais com o fim dos benefícios criados durante o período de pandemia, como o auxílio emergencial e o programa de manutenção do emprego e da renda.

“O ideal seria não realizar nenhuma compra por impulso, ainda mais neste momento que tudo parece ser um pouco mais difícil. Se a compra já estava sendo planejada e for considerada necessária, as pessoas podem aproveitar sim um eventual desconto”.

Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios