Quer viajar para Argentina e ter ‘dias de rico’? Veja quanto custa e como se planejar com antecedência

Apesar do mau momento do peso argentino, especialistas alertam que viagens ao país por impulso e sem foco podem terminar com dívidas desnecessárias

Giovanna Sutto

Bandeira da Argentina (Shutterstock)

Com o bolso impactado pela inflação, que faz tudo ficar mais caro, os brasileiros têm feito as malas em busca de lugares em que o Real ainda tenha vantagem. Com o arrefecimento da pandemia, o que o turista brasileiro mais quer é experimentar boa comida, visitar cartões-postais e ter contato com muita cultura.

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Esse combo que se aproxima da vida pré-pandêmica fica a menos três horas de voo do Brasil, e vem atraindo uma multidão para viver o que vem sendo chamado de viagem “de rico”. Mas, afinal, qual é o endereço disso tudo? A resposta é: Argentina.

Assim que o turista desembarca em terras argentinas e procura uma casa de câmbio, o Real sobressai: R$ 1 já rendeu, recentemente, até 56 pesos. Tudo porque o cenário econômico do país vizinho é ainda mais desolador, com inflação podendo chegar a 70% no final do ano.

Com o peso argentino em queda livre, as ruas argentinas passaram a ser tomadas por brasileiros — o português tem se misturado com força ao espanhol nos principais destinos turísticos do país, diz Daniela Araújo, diretora de Voos da Decolar. “Registramos um aumento de mais de 200% na procura por pacotes de viagens para a Argentina”.

Segundo Araújo, os destinos mais buscados pelos brasileiros são Buenos Aires, Bariloche, Mendoza, Ushuaia e Córdoba. O Viajala, buscador de voos, também monitora um intenso apetite de brasileiros pela Argentina. A pedido do InfoMoney, a ferramenta mostrou que Buenos Aires era o segundo destino internacional mais buscado, a partir de São Paulo, até meados de julho. A capital portenha só ficava atrás de Lisboa, em Portugal.

O Viajala também disse que a procura tem a ver com o preço: voos (ida e volta) entre a capital paulista e Buenos Aires caíram cerca de 8%. E a conexão entre os dois países tende a aumentar.

Hoje, as companhias aéreas operam 162 voos semanais entre destinos brasileiros e a Argentina. Até dezembro, a estimativa é de que esse número possa crescer 32%, chegando a 214 trechos semanais, segundo o Inprotur, órgão que regula o setor de turismo na Argentina.

Mas até quando a bonança persistirá?

Segundo o Kayak, plataforma de buscas de viagens, o preço médio de uma passagem (ida e volta) entre São Paulo e Buenos Aires para 2022 é de R$ 1.701. Já para 2023, o valor médio atinge R$ 1.386, uma queda de 19%. Ou seja: é possível se planejar com antecedência para experimentar o melhor que o país vizinho tem a oferecer ainda no próximo ano em boas condições para o bolso.

Para ampliar a “caça” por pacotes que caibam em diferentes realidades financeiras, a reportagem do InfoMoney buscou simulações de viagens entre os dois países feitas pela Decolar.com. As partidas consideram três cidades brasileiras (São Paulo, na região Sudeste; Porto Alegre, na Sul; e Recife, no Nordeste), com duração de sete noites na Argentina.

Os pacotes contemplam simulações em todos os meses — entre agosto de 2022 e junho de 2023 — prazo máximo alcançado pelo sistema da Decolar.

Veja simulação de preços por pessoa, com taxas de embarque e impostos:

2022**
Preços* SP POA RECIFE
Agosto R$ 2.364 R$ 3.824 R$ 4.970
Setembro  R$ 2.073 R$ 4.082 R$ 2.412
Outubro R$ 2.682 R$ 2.679 R$ 3.219
Novembro R$ 3.181 R$ 2.341 R$ 3.120
Dezembro R$ 2.158 R$ 3.492 R$ 2.820
Média de preços:  R$ 2.492 R$ 3.284 R$ 3.308
2023**
Preços* SP POA RECIFE
Janeiro R$ 2.617 R$ 4.738 R$ 5.645
Fevereiro R$ 1.894 R$ 2.049 R$ 2.586
Março  R$ 1.781 R$ 1.803 R$ 5.616
Abril R$ 1.951 R$ 1.847 R$ 2.568
Maio  R$ 2.068 R$ 1.640 R$ 3.588
Junho R$ 2.736 R$ 2.420 R$ 2.710
Média de preços:  R$ 2.175 R$ 2.546 R$ 3.786

* “a partir de” e “por pessoa”
**os pacotes estão sujeitos a alteração de disponibilidade e valores; as tarifas são dinâmicas e flutuam conforme disponibilidade

Na simulação da Decolar, os números mostram que quem esperar até 2023 poderá adquirir bilhetes mais baratos, como também atestou o Kayak.

Segundo Araújo, da Decolar, Recife tem preços “mais salgados” pela distância até Buenos Aires e porque não envia tantos turistas para lá. Menos oferta significa, claro, valores mais elevados.

As cidades brasileiras que mais embarcam turistas à capital argentina são, segundo a Decolar: São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Curitiba.

“Os preços variam por alguns fatores como distância entre o local de origem e destino, alta ou baixa temporada, companhia aérea, hotel, entre outros aspectos”, diz a executiva da Decolar.

Na “caça” por bilhetes vantajosos vale a boa e velha estratégia: evite a alta temporada. Em janeiro, as viagens são mais caras por conta das férias, que impulsionam grande demanda de voos. Na simulação da Decolar,  por exemplo, os pacotes que incluem voos partindo de São Paulo, no primeiro mês de 2023, custam R$ 2.617 — o valor só perde para junho (R$ 2.736).

O Kayak lembra que, além de evitar a alta temporada, outro fator pode ser atalho para o encontro de bilhetes mais baratos: a compra antecipada.

Buenos Aires (Getty Images)

Como se planejar para a viagem?

Um bom planejamento exige tempo. A primeira dica é se preparar com antecedência para identificar as melhor ofertas. Mas, no caso da Argentina, a pesquisa só funciona se a intenção da compra for para uma viagem recente.

“Pesquisar preços com muita antecedência para a Argentina em crise só funciona se há a intenção de efetuar a compra em breve. Fazer hoje uma pesquisa de preços (de hotel, restaurante e passeio) e deixar para reservar e pagar daqui a 3, 4 meses pode causar um susto”, alerta Romain Maciejewski, diretor comercial do Viajala.

“É um país afundado em uma de suas maiores crises. Pensar em uma viagem a longo prazo é um pouco imprevisível, até porque os preços em lojas e supermercados são remarcados quase que diariamente. O mesmo vale para a compra de pesos argentinos: dá para comprar pesos agora e viajar um ano depois, mas a verdade é que estes pesos podem perder o poder de compra e valer muito menos do que quando foram adquiridos”, explica o executivo.

Outra forma eficiente de se organizar é responder algumas perguntas, sugeridas por Cintia Senna, mestre e educadora financeira. Veja a seguir:

+ O que a viagem significa? A viagem é um sonho? É uma oportunidade? É uma necessidade? Definir isso ajuda a entender quanto vale a pena investir nela.

+ Quanto custa? Tenha ideia do preço da viagem para saber se cabe no bolso e faça ajustes, se necessário. Quantos dias, qual tipo de hospedagem e passeios para saber qual a necessidade em reais pra isso.

+ Quando quero ir? Defina mês e ano. Tem que ter data para se organizar. Isso ajuda para saber quanto será necessário separar da renda mensal para a viagem. Veja qual o valor total da viagem e separe pelo número de meses até a data que você vai efetivar a compra para ter uma reserva de dinheiro para viajar e não precisar tirar dos valores destinados às despesas.

+ De onde tiro o valor para ir? Entenda se tem verba no orçamento ou se precisa de alguma renda extra ou se vai ter que deixar de gastar com algum item para trocar.

“Fazer um planejamento evita que a pessoa caia em dívidas e dá também mais flexibilidade para aproveitar as oportunidades e fazer mais com menos”, explica Senna.

E sempre vale adaptar o roteiro. Caso não seja possível arcar com os sete dias de viagem, opte por três ou quatro, diz a especialista. “Com a flexibilidade que algumas pessoas têm encontrado no trabalho, temos observado pacotes mais curtos de três dias, com o turista emendando uma sexta ou segunda-feira para conhecer a Argentina”, diz Araújo, da Decolar.

(Getty Images/Bariloche)

Alertas aos atrasados

Apesar do bom momento para ir à Argentina, não viaje por impulso.

“As pessoas veem preços mais acessíveis, ficam sabendo de promoções e, sem planejamento, querem viajar. Acontece também de a pessoa estar se planejando para fazer uma viagem para Europa ou Estados Unidos e decide trocar pela Argentina de última hora porque o preço está ‘imperdível’ e adia um sonho ou uma viagem que vinha sendo planejada para fazer uma sem pensar muito”, diz Cintia Senna, educadora financeira.

Embora a desvalorização cambial do peso favoreça os forasteiros, é importante lembrar que os preços elevados dos serviços atingem também quem vai passar uma curta temporada no país.

“A inflação já bateu os 60% e causou a renúncia de Martin Guzmán, ex-ministro da Economia. O transporte público deve aumentar 40% em agosto. Os preços sobem constantemente. E o turista é afetado também: segundo o INDEC (Instituto Nacional de Estadísticas y Censo) o setor de restaurantes e hotéis está entre os mais afetados pela inflação, com aumento de 65% nos preços”, explica Romain Maciejewski, diretor comercial do Viajala.

É preciso cautela, sobretudo, com compras no cartão de crédito, dizem os especialistas consultados.

“A pessoa vê um pacote em 12 vezes sem juros e passa o cartão. Vai para a viagem e gasta mais no cartão e quando volta tem uma dívida enorme. O risco é não conseguir pagar a fatura e cair no rotativo”, salienta Senna.

“O cartão deve ser usado de forma estratégica. Quando a pessoa já tem o dinheiro e opta por passar no cartão, ela pode reservar a quantia para ir pagando as parcelas todo mês”, completa.

“Vale lembrar que o dólar também está oscilando em relação ao real e, por isso, é importante ter cuidado com os gastos do cartão de crédito em moeda estrangeira”, lembra Romain, do Viajala. Isso porque as transações de cartão de crédito cobram o IOF e aumentam os custos do viajante.

Na opinião do diretor do Viajala, a principal dica para ter controle dos gastos em uma viagem para a Argentina é fechar contratos de passeios, viagens internas, hospedagens, logo que a viagem é confirmada, para evitar que a inflação altere o orçamento.

“Considerando que também vivemos um cenário de forte crise e inflação no Brasil, qualquer viagem internacional merece atenção para não pesar demais no bolso do viajante. É bom fazer um planejamento prévio, prevendo os gastos diários, para não ter surpresas durante e depois da viagem”, recomenda.

E ter estratégia na hora de fazer a conversão do Real para o Peso Argentino.

“É interessante esperar e comprar o peso mais próximo da ida para evitar surpresas de variação da moeda. Reserve um valor em reais para fazer o câmbio um pouco mais próximo da viagem e acompanhe a cotação com frequência”, explica a educadora Cinthia Senna.

(Getty Images/ Jujuy)

Para onde ir?

A Argentina é um mosaico de possabilidades quando o assunto é turismo. No Sul, estão os destinos de neve, como Bariloche; ao Norte, as paisagens desérticas sobressaem, com montanhas multicoloridas, um salar e o famoso Trem das Nuvens, um passeio entre os picos áridos do país na região de Salta.

Araújo, da Decolar.com, afirma que mesmo os locais que costumam ser mais caros, como Bariloche e Ushuaia, estão, agora, mais acessíveis por conta da desvalorização do peso.

Já Buenos Aires, rodeada de história, cafés que aromatizam as ruas e bons vinhos é também um destino para quem busca se divertir em baladas noturnas, em quase todos os dias da semana, e também para fazer compras.

“Buenos Aires é um centro de compras, e os brasileiros podem encontrar boas oportunidades com o real valorizado, como roupas de frio. A cidade tem restaurantes excelentes e muitos parques”, diz a executiva da Decolar.

“Mendoza é um tiro certeiro para quem quer comer e beber. Córdoba tem paisagens lindas e passeios culturais, e é uma ótima pedida para conhecer mais da Argentina”, completa Daniela Araújo, da Decolar.

Regras de entrada

Não há restrições sanitárias oriundas da Covid-19 para acessar a Argentina. Os viajantes precisam apenas portar RG ou passaporte para garantir entrada no país.

“Aqui fica o alerta: CNH brasileira não vale. Apenas RH é aceito. Muitas pessoas confundem e não levam o RG e são barradas ao chegar na Argentina”, lembra Araújo. O RG deve estar em bom estado de conservação e com menos de dez anos de emissão.

Além disso, os estrangeiros não residentes precisam preencher uma declaração juramentada do governo, recebida ainda durante o voo, e apresentar um seguro saúde com cobertura para a Covid-19.

Os brasileiros que vivem no país e que embarcaram do Brasil precisam apresentar certificado de vacinação contra o coronavírus.

Giovanna Sutto

Repórter de Finanças do InfoMoney. Escreve matérias finanças pessoais, meios de pagamentos, carreira e economia. Formada pela Cásper Líbero com pós-graduação pelo Ibmec.