Passageiros corporativos brasileiros são seduzidos por raro serviço de wi-fi a bordo

A recessão tem mantido os brasileiros em terra, mas a Gol tem uma carta na manga

Bloomberg

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(SÃO PAULO) – Em um momento em que a recessão cada vez mais profunda está mantendo muitos viajantes executivos no chão, a empresa aérea de baixo custo Gol está tentando conquistar participação de mercado com um benefício raro na América Latina: wi-fi.

Pegar um voo doméstico no Brasil significa ter que renunciar aos e-mails, muito tempo depois de o acesso à internet ter se tornado padrão em todas as grandes empresas aéreas dos EUA para a maior parte das viagens. Para executivos ocupados, até mesmo a ponte aérea de 45 minutos entre São Paulo e Rio de Janeiro pode ser torturante ao ser forçosamente off-line.

A atualização tecnológica faz parte do esforço da Gol Linhas Aéreas Inteligentes SA para capturar uma fatia maior do grupo cada vez menor de passageiros corporativos do país. As empresas aéreas valorizam esses viajantes porque eles tendem a comprar passagens caras de último minuto — e a tarifa média da Gol por quilômetro voado é a mais baixa do Brasil.

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“Por um tempo, a Gol será a única empresa a oferecer o serviço”, disse Mário Bernardes Júnior, analista do Banco do Brasil SA. “Antigamente, eles tinham a imagem de empresa aérea de baixo custo que não atendia bem os clientes. Agora já não é assim. Agora, eles atendem plenamente os passageiros e, a longo prazo, isso aumenta a fidelidade”.

A Gol busca estrear o serviço de wi-fi em meados de 2016. Embora a empresa aérea não tenha dado detalhes sobre custos, seu presidente, Paulo Sérgio Kakinoff, disse que um aumento de capital aprovado pelo conselho na semana passada ajudará a financiar os investimentos recentes.

Precedente em crise

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Existe um precedente para ir atrás de passageiros lucrativos em momentos de dificuldades econômicas. A Delta Air Lines Inc., uma acionista minoritária com assento no conselho da Gol, fechou sua aquisição da Northwest Airlines para se tornar a maior empresa aérea do mundo no momento em que a crise financeira de 2008 se aprofundava.

Juntamente com o wi-fi a bordo, a Gol, que tem sede em São Paulo, revelou um novo logotipo na semana passada, instalou tecnologia de GPS para facilitar o check-in e as mudanças de voos e está adicionando assentos de couro com mais espaço para as pernas.

“Estamos orgulhosos e ansiosos por acelerar a implementação desses itens porque eles são muito importantes” para atrair viajantes executivos, disse Kakinoff, em entrevista em Belo Horizonte.

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Queda das ações

A Gol poderia usar mais passageiros dispostos a pagar mais. A queda de 61 por cento nas ações da empresa neste ano até esta quarta-feira foi a segunda maior do Ibovespa, o índice de referência do país. A chilena Latam Airlines Group SA, empresa-mãe da brasileira TAM, não está se saindo muito melhor: sua queda foi de 38 por cento.

Kakinoff afirmou que as viagens executivas em algumas rotas brasileiras despencaram até 40 por cento neste ano. Este é um mantra também ouvido nas outras empresas aéreas em um momento em que a economia brasileira caminha para sua pior recessão em 25 anos: as empresas tiveram que derrubar os preços para manter os aviões cheios. As tarifas executivas caíram 8,5 por cento nos três primeiros meses de 2015 em relação a um ano antes, segundo a Associação Brasileira de Agências de Viagens Corporativas, conhecida como Abracorp.

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Estudando atualizações

Outras empresas aéreas do Brasil também estão pesando atualizações tecnológicas. A TAM está buscando aprovação para oferecer entretenimento limitado a bordo em 2016. A Azul SA, criada pelo fundador da JetBlue Airways, David Neeleman, disse que está estudando a viabilidade do wi-fi. A Avianca Brasil, de capital fechado, está analisando a possibilidade de oferecer o serviço no futuro.

“Se elas querem competir, elas precisam competir em uma escala global, especialmente depois de atingirem o mercado americano”, disse Jay Sorensen, um ex-executivo da Midwest Airlines que atualmente administra a consultoria de aviação IdeaWorksCompany.com em Shorewood, Wisconsin, EUA. “Elas estão tentando acompanhar o passo — e eu estou sendo uma espécie de tirano aqui porque eu quero levar a aviação sul-americana a um padrão global”.

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Reportagem de Christiana Sciaudone