Microcefalia: entenda por que o larvicida está sendo acusado como causador

O Rio Grande do Sul determinou na semana passada a suspenção do uso do larvicida em questão em todo o Estado

Júlia Miozzo

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SÃO PAULO – Na semana passada, novas informações publicadas por pesquisadores argentinos apontam que o surto de microcefalia está relacionado ao vírus zika, mas ao uso do componente Pyriproxyfen, um larvicida utilizado na água para combater o Aedes aegpti, transmissor do vírus e outras doenças.

“O Ministério da Saúde (do Brasil) coloca a culpa diariamente sobre o vírus zika, ignora sua responsabilidade e descarta a hipótese de danos químicos cumulativos no sistema endócrino e imunológico causados à população afetada”, escrevem os pesquisadores no relatório divulgado.

O produto é utilizado no Brasil desde 2014, com autorização da OMS (Organização Mundial da Saúde) e pela Anvisa, principalmente em regiões que não possuem saneamento básico no Nordeste – região onde também acontece a maior incidência de casos de microcefalia. Além de tal argumento, o relatório dos pesquisadores aponta como argumento o fato de que, na Colômbia, o segundo país com maior índice de pessoas infectadas, com cerca de três mil grávidas contaminadas, não há registros de microcefalia.

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Por conta desses apontamentos, o Rio Grande do Sul determinou, também na semana passada, a suspensão do uso do larvicida em questão em todo o Estado. “A suspeita é suficiente para nos fazer decidir pela suspensão do uso. Nós não podemos correr esse risco”, explicou o secretário de Saúde do RS, João Gabbardo dos Reis.

“Falta embasamento científico”
Contradizendo os pesquisadores responsáveis pela associação, o Ministério da Saúde, como informa o jornal Zero Hora, afirmou que a relação criada entre o produto e a microcefalia não possui embasamento científico, ao contrário da associação entre a má formação e o vírus Zika.

“O Ministério da Saúde somente utiliza larvicidas recomendados pela OMS. Os produtos passam por um rigoroso processo de avaliação da World Health Organization Pesticed Evaluation Scheme (WHOPES). O Pyriproxifen está entre os produtos aprovados por esse comitê e também possui certificação pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que avalia a segurança do larvicida no Brasil”, afirma nota divulgada pelo Ministério no último sábado (13).

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A decisão de suspender o produto temporariamente no RS, entretanto, não foi contestada pelo Ministério, embora este tenha reforçado que o Pyriproxifen só é utilizado “onde há a necessidade de armazenamento de água e os depósitos não podem ser protegidos fisicamente”.

Fabricante se manifesta
Um ponto polêmico sobre a possível relação entre o larvicida e a má-formação de bebês é o fato de o produto ser produzido pela Sumitomo Chemical, empresa relacionada à multinacional norte-americana Monsanto.

A empresa também não deixou de se manifestar sobre a pesquisa: a assessoria da Sumitomo esclarece que falta base científica na afirmação e também reforça a aprovação da Anvisa e OMS para uso. O produto também é utilizado para combater o Aedes aegypti na Turquia, Arábia Saudita, Dinamarca, França, Grécia, Holanda, Espanha e também na Colômbia.

Zika no Brasil
Já são 462 casos de microcefalia registrados no Brasil, sendo que em 41 deles a ligação entre a má formação e o vírus zika foi confirmada. O governo já afirmou que não vai poupar recursos para mobilizar a população a favor do combate contra o mosquito transmissor e em medidas para reduzir o impacto do zika vírus, como a distribuição de repelentes para grávidas participantes do Bolsa Família.