Gripe aviária: aumento de casos pode afetar o bolso do consumidor?

Já são 74 casos de gripe aviária em 7 estados, mas nenhum em granjas comerciais, aponta Ministério da Agricultura

Jamille Niero

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O aumento do número de casos de gripe aviária no país vem preocupando os estados que concentram produtores de carne de frango. Ao menos 10 unidades federativas já decretaram oficialmente o estado de emergência zoossanitária recomendado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA). São eles: Santa Catarina, Espírito Santo, Bahia, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Sergipe, Piauí e Goiás. Até a última sexta-feira (4), conforme monitoramento realizado pelo ministério, haviam sido apurados em todo o território nacional:

Como fica o consumidor?

De acordo com os economistas consultados pelo InfoMoney, apesar de um primeiro momento a situação acender um alerta para possíveis impactos à produção da carne de frango para consumo, não deve haver impactos no curto prazo para o bolso do consumidor.

Segundo o economista e professor da Fundação Dom Cabral, Eduardo Menicucci, dá para basear essa análise em alguns pontos: o primeiro é o peso do item na cesta de consumo do brasileiro, ou seja, o impacto na inflação (calculado pelo IPCA).

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Dos 20 itens que mais impactam a inflação, a carne de frango pode ser encontrada em dois: alimentação de fora de casa e lanches. Considerando a alimentação fora de casa, aí sim o frango aparece entre os 10 itens com maior peso. “O que sempre acontece quando tem um aumento de um item relevante, há uma realocação, o consumo de algum outro item que substitua, mesmo que mais em sabor do que em componentes nutritivos. Se efetivamente houver aumento do [preço do] frango, a expectativa é que haja uma redução do consumo”, indica o professor.

O outro fator é o custo do produto no mercado, que vem caindo desde o ano passado. “Em julho do ano passado, o preço do frango congelado estava em R$ 8 e em julho agora está R$ 5,85. Então, mesmo que aconteça um aumento, ainda estamos longe do preço que estava sendo praticado há um ano. Então não vejo um impacto tão relevante”, diz Menicucci.

O terceiro ponto que contribui para evitar a subida de preços é o aumento da oferta do produto ao mercado interno, uma vez que países importadores como Japão suspenderam temporariamente as compras da carne de frango brasileira dos estados de Santa Catarina e Espírito Santo. Do total de 2,629 milhões de toneladas exportadas pelo Brasil entre janeiro e junho deste ano, o Japão foi o destino de 219,8 mil toneladas, de acordo com informações do MAPA. Portanto, o produto que iria para fora muitas vezes acaba redirecionado para o mercado interno.

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Vale lembrar que, até o momento, não foram detectados nenhum caso oficial em aves de produção comercial, portanto, não houve necessidade de “descartar” nenhuma parte da produção das granjas brasileiras – seja dos próprios animais ou de produtos como os ovos.

Portanto, o professor da FDC destaca que o ciclo das granjas costuma ser de 50 a 60 dias, então se hipoteticamente for detectado algo nesse período, um possível impacto só seria percebido no fim do ano, entre outubro e novembro.

Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens e Serviços do Estado de São Paulo), concorda que caso ocorra uma eventual “restrição da oferta” de carne de frango ao mercado interno brasileiro, consequentemente afetará o preço que o consumidor vai pagar pelo produto no supermercado.

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Dietze ressalta ainda a importância de uma comunicação “bem-feita” a todas as partes envolvidas na cadeia de consumo sobre a real situação de todas as etapas da produção. Ou seja, explicar o que significa o “estado de emergência zoossanitária” para os empresários que produzem e comercializam o produto final, até o consumidor na ponta, para evitar mal-entendidos e uma eventual redução do consumo por receio de estar comprando algum frango contaminado na prateleira do supermercado.

“Se o consumidor achar que pode ser impactado, se não houver uma comunicação bem-feita, de que o frango que está sendo vendido, ele não tem nenhum tipo de problema, se tiver uma comunicação mal-feita, pode ser que esse consumidor evite consumir. E então volte a ter uma queda de preço por conta de uma queda de demanda”, sinaliza o assessor econômico.

E se por acaso o consumidor preferir substituir a carne de frango por outra proteína, como a carne bovina, Dietze observa que também é possível, uma vez que esse item também vem registrando queda nos preços. “Nós estamos vivendo uma queda nos preços das carnes e isso permite esse efeito substituição, então, é um momento de certa forma mais tranquilo para o consumidor. Ele está vendo queda, sobretudo nas carnes bovinas, no contrafilé, na alcatra. Tem um efeito de substituição que não afeta tanto o bolso do consumidor caso ele queira optar por uma outra proteína”, comenta Dietze, da FecomercioSP.

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Os economistas consultados pela reportagem reforçam que o Brasil é um país bem avançado em mecanismos de controle para evitar a proliferação de doenças que afetem a produção de animais para consumo, sejam aves ou bovinos.

Procurado pelo InfoMoney, o Ministério da Agricultura e Pecuária informou que “tem atuado prontamente e de forma transparente desde o primeiro momento para levar informação rápida e clara ao setor e à população sobre a Gripe Aviária”, além de providenciar uma série de medidas para “reduzir os riscos de ingresso e disseminação da gripe aviária no país”.

Leia abaixo, na íntegra, a nota do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) enviada por meio da assessoria de imprensa à reportagem:

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O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) tem atuado prontamente e de forma transparente desde o primeiro momento para levar informação rápida e clara ao setor e à população sobre a Gripe Aviária.

O Ministério da Agricultura e Pecuária segue alerta e atuante com as iniciativas de prevenção e de garantia da biossegurança, com o objetivo de reduzir os riscos de ingresso e disseminação da gripe aviária no país e atualizando as informações em nossos canais de comunicação.

Para evitar a disseminação da doença, o Ministério da Agricultura e Pecuária declarou estado de emergência zoossanitária e está trabalhando em parceria com as associações, entidades, indústrias e com órgãos de preservação da fauna para proteger as aves domésticas e silvestres nativas a fim de evitar a disseminação da doença.

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O Mapa está atendendo as notificações de suspeita de influenza aviária em aves, com coleta de amostras para confirmação ou descarte de casos. As ações estão sendo aplicadas de acordo com o Plano de Contingência para influenza aviária, que inclui investigação em torno dos focos para identificação de aves com suspeita.

Dessa forma, as ações de comunicação de alertar a população a não tocar ou recolher aves mortas estão sendo massivamente veiculadas, bem como ações de alerta de melhoria da biosseguridade nas criações de aves. As medidas adicionais de monitoria estão sendo adotadas em conjunto com o Ministério do Meio Ambiente (ICMBio e IBAMA) e o Ministério da Saúde, pretendendo a prevenção e vigilância da ocorrência de influenza aviária no Brasil.

Com isso, o ministério instalou o Centro de Operações de Emergência Agropecuária (COE-Mapa Influenza Aviária) como mecanismo de articulação intra e interinstitucional em resposta ao estado de emergência zoossanitária, com ações de enfrentamento à Influenza Aviária de Alta Patogenicidade (IAAP).

A atualização dos casos pode ser conferida no painel: https://mapa-indicadores.agricultura.gov.br/publico/extensions/SRN/SRN.html

Jamille Niero

Jornalista especializada no mercado de seguros, previdência complementar, capitalização e saúde suplementar, com passagem por mídia segmentada e comunicação corporativa.