Febre Foreo: brasileiras pagam até R$ 1.600 em gadgets de beleza

Marca sueca investe R$ 15 milhões no Brasil só em marketing, mas vai ter de competir com produtos muito mais baratos que começam a dar as caras  

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Lavar o rosto já foi um processo mais simples. Hoje, na busca por garantir uma limpeza ideal, há quem baixe um aplicativo, aproxime sensores de ouro 24 quilates de quatro áreas da face, e, só depois de receber um “diagnóstico” via Bluetooth, aplique um produto específico. Ainda não acabou: não se espalha mais esse produto com os dedos, e sim utilizando um massageador de silicone com pulsações sônicas.

Estamos na era dos gadgets de skincare, onde um aparelho para limpeza cutânea custa até R$ 999 e um aplicador inteligente de máscaras de tratamento chega a R$ 1.599. Os preços são da Foreo, marca sueca que chegou ao Brasil há alguns anos, mas resolveu, em 2018, apostar forte no que espera ser um de seus principais mercados em breve.

Pode parecer um tipo de consumo proibitivo para um Brasil que ainda sofre efeitos severos da maior crise econômica da história. Mas a empresa enxerga motivos para apostar no potencial de mercado por aqui: em 2018, o país foi o quarto maior mercado no setor de cosméticos, representando 6,2% do consumo mundial, de acordo com a ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Ficamos atrás apenas dos Estados Unidos, China e Japão.

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De toda essa gama de produtos de beleza e higiene, a categoria de cuidados com a pele está em fase inicial e, de acordo com especialistas nesse mercado, em pleno crescimento. Ela representa apenas 12% das vendas da indústria – o que significa, para empresários do ramo, uma oportunidade tremenda.

Quem compra?

O público-alvo da Foreo é, por definição, restrito: o nicho de pessoas que pode se dar o luxo de fazer um “investimento” em bem-estar e beleza. Dentro desse universo, a marca diz oferecer uma gama variada de preços “para atingir todos os perfis de consumidor”, de acordo com Bianca Tavares, gerente geral da Foreo no Brasil.

Os valores partem de R$ 299 para uma versão simples a pilha. As mais caras são a bateria recarregável e custam entre R$ 499 e R$ 999, dependendo das funções. Há gadgets com pulsações diferenciadas, por exemplo; outros têm o tamanho perfeito para levar no nécessaire e, claro, o mais recente, Luna Fofo, que usa inteligência artificial para medir o nível de hidratação da pele – a reportagem pontuou 66 de 100.

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Além da limpeza, a Foreo oferece um massageador de olhos por R$ 799 e o aplicador de máscaras com “fototerapia com ondas de luz LED” pela bagatela de R$ 1.599. 

Ok, mas como convencer uma pessoa a gastar até praticamente dois salários mínimos de uma só vez para cuidar da pele? É uma aposta: vale lembrar que as escovas faciais, notoriamente a Sonic, da Clinique (R$ 529), chegaram a ser febre por aqui, mas hoje em dia jazem esquecidas por quem fala de beleza e cuidados.

A Foreo confia que agora pode ser diferente. Em primeiro lugar, a marca se enxerga mais democrática. “Nos aliamos aos varejistas para ter condições de parcelamento, formas facilitadas condizentes com a compra de um produto desse tipo”, diz Bianca.

Acima disso, ela espera que as clientes observem valor agregado. “É um investimento de longo prazo, que pode durar até dez anos e tem garantia de qualidade”, argumenta. Dependendo do Foreo escolhido, o cliente tem direito a um desconto de 50% na compra de um aparelho novo caso observe defeito dentro desse prazo.

Tudo isso passa por um processo de convencimento intenso. E aí entram as maiores aliadas das marcas de cosméticos: influenciadoras digitais.

A Foreo Brasil pretende gastar cerca de R$ 15 milhões neste ano para bombar as redes sociais de conteúdo educativo sobre o uso dos aparelhinhos. Uma das influencers contratadas foi Lívia Inhudes que, com mais de 6 milhões de seguidores, tem cada postagem no Instagram avaliada em até US$ 20 mil, segundo a calculadora do Influencer Marketing Hub.

Competição

Mas o potencial crescente do mercado de skincare brasileiro não foi enxergado apenas pela Foreo. Está em pré-venda no site da Avon o Alfa, um aparelho que “combina a função vibratória com delicadas pulsações – que removem impurezas como oleosidade excessiva e resíduos de maquiagem, enquanto promove uma massagem revigorante proporcionando uma pele iluminada em apenas um minuto de tratamento diário”.

Justamente a mesma categoria de produto da Foreo. Os aparelhos são, inclusive, visualmente bem semelhantes. A diferença? Centenas de reais: o Avon Alfa tem uma bateria (recarregável) um pouco menos robusta, funções talvez menos complexas, mas custa apenas R$ 99.

“A Avon acredita na democratização da beleza, por isso, assumiu o compromisso de entregar tecnologias que sejam acessíveis para as consumidoras brasileiras tanto em produtos de beleza quanto em acessórios importantes no dia-a-dia”, disse Cristiane Alécio, diretora da categoria de Moda&Casa da Avon.

Dificultando ainda mais para as “gringas”, a marca, já consolidada no mercado internacional, vai chegar à clientela usando exatamente a mesma estratégia de marketing. Pelo menos uma influencer já chegou a fazer publicações patrocinadas dos dois aparelhinhos de limpeza.

“Agora entendi porque ontem 4 blogueiras famosas fizeram publi do foreo… A marca já deve estar desesperada com a concorrência!”, diz um comentário em uma dessas fotos. Outras pedem encarecidamente por publicações comparativas entre as duas marcas. Chegou a hora de ver se existe mercado para todo mundo.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney