Efeito Uber: valor de licença de táxi em NY caiu pela metade em 1 ano

O “medallion” foi de US$ 1 milhão em 2015 para pouco mais de US$500 mil; em São Paulo, uma categoria de táxi aguarda respostas da Prefeitura

Paula Zogbi

Táxi
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SÃO PAULO – O Uber mantém-se firme na posição de que nasceu como um concorrente aos carros próprios e não aos táxis. Porta-vozes do aplicativo fazem questão de dizer, sempre que perguntados, que existe mercado para ambos os serviços.

Mesmo assim, a realidade dos taxistas vem, há cerca de 2 anos, demonstrando algo diferente. Vendida por cerca de US$ 1,3 milhão em 2014, a licença de táxi de Nova York – chamada de “medallion” – quase não vê mais saída e agora custa aproximadamente US$ 500 mil.

Criado em março de 2009, o Uber oferece serviço de transporte privado e causa polêmicas nas cidades em que opera, acusado de concorrência desleal. Sem cobranças do governo na maioria dos mercados onde existe e com operações informatizadas, o aplicativo de caronas consegue cobrar valores muito menores que os de táxis tradicionais e já não é a única empresa a oferecer essas vantagens.

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A queda nos valores dos medallions não aconteceu de imediato com a criação do serviço, que só passou a ser popular alguns anos mais tarde. Uma vez iniciado, porém, o desabamento foi expressivo: segundo mostra o American Enterprise Institute (gráfico abaixo), em janeiro e fevereiro de 2016 nenhuma licença foi vendida na cidade e, em maio, o valor do documento estava em US$ 501.700.

De acordo com o New York Post, os medallions estiveram, durante décadas, entre as apostas financeiras mais seguras na cidade. “Desde a década de 1930 até três anos atrás, era o ativo de melhor desempenho nos Estados Unidos”, disse ao site Andrew Murstein, presidente da Medallion Financial Corp, maior vendedora de alvarás da cidade.

A reportagem conta também que, mesmo quando há pessoas dispostas a investir nas licenças, os bancos deixaram de conceder empréstimos para esses compradores, o que inviabiliza o negócio na maioria dos casos.

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Nesse cenário, taxistas que investiram valores altos nos alvarás correm o risco de perderem não apenas o emprego dirigindo os famosos táxis amarelos, mas também as garantias que puseram no momento da aquisição do alvará – como suas casas.

São Paulo e os táxis pretos

Enquanto isso, em São Paulo, onde o Uber foi regularizado por decreto pela Prefeitura em maio, uma categoria específica tem problemas com seus alvarás: os motoristas de táxi preto.

Na cidade, os alvarás para dirigir táxis não são vendidos legalmente. O que existe é um sorteio de alvarás onde cidadãos com permissão para dirigir tentam obter o documento. No momento, a Prefeitura não está oferecendo essa permissão e nem tem previsão de oferece-la, então a única forma de obter um alvará é negociar a transferência – teoricamente gratuita – com quem possui o documento e não precisa mais.

Para os táxis pretos, porém, a Prefeitura cobrou um valor de outorga de funcionamento dos sorteados, que à época acreditavam que os custos seriam rapidamente compensados por conta da demanda.

“A gente foi atrás porque dirigia carro emprestado e achava que ia ser ilegal o aplicativo, mas agora liberaram os outros, ficou confuso”, disse um motorista da categoria em referência ao Uber. Além da outorga para funcionar, que custou R$ 60 mil, foi preciso investir em um carro Sedan, SUV ou Station Wagon. “E a gasolina sai bem mais cara [que o táxi comum] por serem carros mais ‘gastões’”, conta o taxista, que não quis se identificar.

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As cinco mil licenças para a cidade foram concedidas no final do ano passado, em um período em que a Prefeitura pretendia manter a ilegalidade de serviços de carona particular e trazer o “táxi de luxo” como opção. Até então, a categoria funcionaria apenas para chamada via apps de táxi e não teria opção de pagamento em dinheiro.

Agora, com a regulamentação de apps de carona e a iminente cobrança de taxas e créditos para a categoria de caronas individuais, o táxi preto já pode atender clientes na rua. Além disso, seus motoristas têm a opção usar o taxímetro para cobrar em dinheiro e rodar sem trânsito pelas faixas de ônibus da cidade.

O que os motoristas esperam agora é a liberação do pagamento desse alvará adquirido no final do ano. “Ainda não terminei de pagar nem o carro nem a licença, mas disseram que o Haddad pode liberar isso”, disse o taxista.

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Segundo a Adetax, Associação das Empresas de Táxi do Município de São Paulo, essa promessa, até agora, não passa de um boato. “O pessoal está tentando isso, mas não há nenhuma decisão da prefeitura nesse sentido”, explica um porta-voz da associação.

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney