Economista contesta estudo que mostra 62 pessoas com mais riqueza que 3,5 bilhões

Estudo da Oxfam foi amplamente divulgado, mas economista afirma que sua metodologia pode conter falhas que prejudicam sua credibilidade

Paula Zogbi

Publicidade

SÃO PAULO – Um estudo da organização não governamental Oxfam publicado nesta semana, que afirma que “o 1% mais rico da população mundial detém mais riquezas atualmente do que todo o resto do mundo junto”, está sendo contestado em publicações em sites e redes sociais, inclusive por analistas econômicos.

De acordo com o relatório, que usam números de um relatório do Credit Suisse, a pobreza e a desigualdade mundiais são crescentes. A publicação mostra que, segundo o levantamento, 62 pessoas têm a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de indivíduos mais pobres do mundo; e essa riqueza aumentou em US$542 bilhões desde 2010, enquanto a dos 3,6 bilhões mais pobres teria caído em US$1 trilhão.

Estes números baquearam quem os leu, e foram amplamente divulgados pela mídia, mas agora há quem conteste sua metodologia veementemente e afirme que, na verdade, a desigualdade ao redor do mundo vem diminuindo.

Planejamento financeiro

Baixe gratuitamente!

Como se sabe, a concentração de renda no planeta é forte, e o número de pessoas vivendo em pobreza extrema – ou seja, com até US$1,90 por dia – é de cerca de 10% da população, segundo o Banco Mundial. Entretanto, este dado era de 12,8% da população, de acordo com a mesma entidade. Então por que os dados do Credit mostram o movimento contrário?

Para o economista Carlos Góes, analista econômico com mestrado em Economia Internacional na Universidade Johns Hopkins, o problema passa pela medição da riqueza em termos líquidos, ou seja: patrimônios menos dívidas. “Como a maioria das pessoas do mundo poupa pouco (porque não ganha o suficiente para poupar) e consome com base em crediários e outras dívidas, mais ou menos metade do mundo não tem patrimônio (formal) líquido algum”, escreve Góes neste texto. Isso significaria que uma pessoa que não guarda dinheiro e comprou um carro parcelado, por exemplo, teria riqueza negativa.

Além disso, para ele, o estudo peca em não considerar riqueza informal e riqueza implícita, como casas não registradas e bens não duráveis. O texto também mostra gráficos que mostram que a desigualdade mundial estaria caindo há 40 anos e apresenta uma estimativa, do próprio autor, alternativa à do relatório.

Continua depois da publicidade

Desigualdade ainda é forte

Nada disso anula o fato de que privilégios e desigualdades são notáveis no sistema atual. Ainda que a pobreza extrema diminua, a concentração de renda não deixa de ser uma questão forte em todas as camadas da população, bem como a desigualdade, não apenas salarial.

Em outra pesquisa, também citada no relatório, o FMI descobriu que “em países caracterizados por uma maior desigualdade de renda, as lacunas entre homens e mulheres em termos de saúde, educação, participação no mercado de trabalho e representação em instituições como parlamentos também tendem a ser maiores. A instituição observou ainda que a distância salarial entre os gêneros também é maior em sociedades mais desiguais. É interessante observar que 53 das 62 pessoas mais ricas do mundo são homens”.

Outros trabalhos, como o do economista francês Thomas Piketty, autor do livro O Capital no Século XXI, também demonstram através de dados bem fundamentados que o sistema atual tem uma forte tendência a favorecer a concentração de riqueza nas mãos de poucos. Basicamente, o debate e as medidas anti desigualdade deveriam ser constantes.

Tópicos relacionados

Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney