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SÃO PAULO – Um estudo da organização não governamental Oxfam publicado nesta semana, que afirma que “o 1% mais rico da população mundial detém mais riquezas atualmente do que todo o resto do mundo junto”, está sendo contestado em publicações em sites e redes sociais, inclusive por analistas econômicos.
De acordo com o relatório, que usam números de um relatório do Credit Suisse, a pobreza e a desigualdade mundiais são crescentes. A publicação mostra que, segundo o levantamento, 62 pessoas têm a mesma riqueza que os 3,6 bilhões de indivíduos mais pobres do mundo; e essa riqueza aumentou em US$542 bilhões desde 2010, enquanto a dos 3,6 bilhões mais pobres teria caído em US$1 trilhão.
Estes números baquearam quem os leu, e foram amplamente divulgados pela mídia, mas agora há quem conteste sua metodologia veementemente e afirme que, na verdade, a desigualdade ao redor do mundo vem diminuindo.
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Como se sabe, a concentração de renda no planeta é forte, e o número de pessoas vivendo em pobreza extrema – ou seja, com até US$1,90 por dia – é de cerca de 10% da população, segundo o Banco Mundial. Entretanto, este dado era de 12,8% da população, de acordo com a mesma entidade. Então por que os dados do Credit mostram o movimento contrário?
Para o economista Carlos Góes, analista econômico com mestrado em Economia Internacional na Universidade Johns Hopkins, o problema passa pela medição da riqueza em termos líquidos, ou seja: patrimônios menos dívidas. “Como a maioria das pessoas do mundo poupa pouco (porque não ganha o suficiente para poupar) e consome com base em crediários e outras dívidas, mais ou menos metade do mundo não tem patrimônio (formal) líquido algum”, escreve Góes neste texto. Isso significaria que uma pessoa que não guarda dinheiro e comprou um carro parcelado, por exemplo, teria riqueza negativa.
Além disso, para ele, o estudo peca em não considerar riqueza informal e riqueza implícita, como casas não registradas e bens não duráveis. O texto também mostra gráficos que mostram que a desigualdade mundial estaria caindo há 40 anos e apresenta uma estimativa, do próprio autor, alternativa à do relatório.
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Desigualdade ainda é forte
Nada disso anula o fato de que privilégios e desigualdades são notáveis no sistema atual. Ainda que a pobreza extrema diminua, a concentração de renda não deixa de ser uma questão forte em todas as camadas da população, bem como a desigualdade, não apenas salarial.
Em outra pesquisa, também citada no relatório, o FMI descobriu que “em países caracterizados por uma maior desigualdade de renda, as lacunas entre homens e mulheres em termos de saúde, educação, participação no mercado de trabalho e representação em instituições como parlamentos também tendem a ser maiores. A instituição observou ainda que a distância salarial entre os gêneros também é maior em sociedades mais desiguais. É interessante observar que 53 das 62 pessoas mais ricas do mundo são homens”.
Outros trabalhos, como o do economista francês Thomas Piketty, autor do livro O Capital no Século XXI, também demonstram através de dados bem fundamentados que o sistema atual tem uma forte tendência a favorecer a concentração de riqueza nas mãos de poucos. Basicamente, o debate e as medidas anti desigualdade deveriam ser constantes.