Contra Netflix, Amazon Prime e Apple TV+ custam metade do preço. O que explica?

Especialistas divergem da estratégia que as empresas de streaming devem adotar a partir de agora: segmentação ou caldeirão?

Pablo Santana

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – O consumo de plataformas de streaming já dominou o mundo. De acordo com a Motion Picture Association of America (MPAA), em 2018, o número de assinantes do serviço de transmissão de vídeo já tinha ultrapassado a marca dos 613 milhões, superando os registrados pela TV paga.

No Brasil, dados mais recentes confirmados pela Netflix mostram que a empresa atingiu 10 milhões de assinaturas em abril. Mas, neste ano, a pioneira do setor ganhou fortes concorrentes no mercado nacional com a chegada da Amazon Prime e Apple TV+.

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E as gigantes não vieram para brincar, apostando em preços muito mais acessíveis: ambas as mensalidades custam R$ 9,90, menos da metade do pacote mais básico da Netflix. O Amazon Prime, da gigante varejista Amazon, ainda garante acesso a outras plataformas de streaming da companhia como o Prime Music, Prime Reading e Twitch Prime e frete grátis para compras no e-commerce.

Comparativamente custo mensal para o assinante que optar pelo plano básico das principais operadoras de TV a cabo no Brasil é de R$ 143,30 (valor referente ao mês de novembro de 2019).

Por que Amazon Prime e Apple TV+ custam tão barato?

Com um mercado em crescimento e players já estabelecidos, Amazon e Apple vêm ao Brasil com preços mais baixos, inclusive que os cobrados nos Estados Unidos. Por lá, o Prime custa mensalmente US$ 12,99 (R$54, na conversão direta) e o Apple TV+, US$ 4,99, aproximadamente R$ 20.

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A estratégia é de rivalizar diretamente com a Netflix, de acordo com Rodrigo Arnaut, professor da FAAP e diretor da Esconderijo Criativo, consultoria de inovação e tecnologia. “Como esses serviços não são tão comuns entre as pessoas no Brasil, o preço é para tentar conquistar um mercado já dominado pela Netflix”, explica.

Arnaut acredita que o pioneirismo do Netflix explica o sucesso da plataforma no país, que chegou praticamente sozinha (2011) oferecendo o serviço de VoD (video on demand) num período que a economia caminhava bem, conseguindo captar bastante público, especialmente entre a classe C.

“Netflix teve um crescimento exponencial no Brasil porque conseguiu identificar a demanda de um público. Os provedores de conteúdo local de tv a cabo não investiram em plataformas de VoD na época de uma forma atrativa, o que inviabilizou o uso da adesão de massa para suas plataformas. Como esses novos serviços sabem que o pioneirismo não existe mais, eles atacam com preços “, afirma Arnaut.

Pedro Curi, coordenador dos cursos de Jornalismo e Cinema da ESPM Rio, ressalta que, embora a conversão direta mostre valores mais altos nos EUA, ambas as assinaturas também possuem preços mais baixos no mercado internacional em relação à Netflix. Isso ocorre por conta do conteúdo original.

“Quando a Netflix percebe que a disputa entre os serviços de streaming acontecerá pela negociação dos contratos de exibição, ela começa a criar conteúdo próprio para diversificar seu catálogo e receber produções de outros mercados. Esse processo contribuiu para que a plataforma se tornasse popular [com destaque para os países latinos] por aumentar os conteúdos locais”, avalia Curi.

Serviço Preço
Amazon Prime Video R$ 9,90
Apple TV+ R$ 9,90
Globoplay R$ 21,90
HBO Go R$ 34,90
Netflix De R$21, 90 a R$ 45,90
Telecine Play De R$ 23,90 a R$ 37,90
YouTube Premium De R$ 20,90 a R$ 31,90
*Valores pesquisados pelo InfoMoney e válidos para novembro de 2019

Em meio aos movimentos das plataformas para tornar seus catálogos mais exclusivos e atraentes, o consumidor viu suas opções se ampliarem, mas também se separarem. Se antes assistir a filmes e séries da Disney na Netflix era comum, hoje a maioria dos contratos já acabaram, inviabilizando essa prática. A segmentação é outra consequência do crescimento do mercado que acabou privando as pessoas de terem, em apenas um serviço, títulos de diferentes produtoras.

Nesse cenário, Curi afirma que a guerra travada pelos players no mercado pode gerar o aumento da pirataria, porque o movimento leva o consumidor a fazer escolhas influenciadas por variáveis que vão além do preço.

“O streaming tem um fator social muito forte, pois as pessoas querem ver o que todo mundo está comentando”, explica. “As pessoas vão escolher o serviço que querem assinar, mas, ao não assinar um serviço, é possível que  acessem esses conteúdos de forma ilegal. É algo que aconteceu com a TV a cabo quando pessoas não assinavam os canais premium e os seus conteúdos era alvo de pirataria”, analisa.

Conteúdo

Em busca de novos públicos, as plataformas investem em produções próprias para bater de frente com a Netflix, que possui mais de 4.000 títulos disponíveis, de acordo com o JustWatch – plataforma de busca de conteúdo em sites de streaming.

A Apple TV+, apesar do acervo menor, estreia no país com séries como “The Morning Show”, protagonizada por Reese Witherspoon, Jennifer Aniston e Steve Carrell; o infantil “Snoopy in Space” e a parceria com Oprah Winfrey para pelo menos dois documentários.

Já o streaming da Amazon consegue disputar com a Netflix em relação ao número de filmes em sua plataforma. São 2.569 títulos disponíveis no Prime Vídeo contra 2.780 da concorrente.

A variedade de séries é um dos pontos fortes da Netflix, que conta com o maior número de produções, mais de 1.500, segundo o JustWatch.

Totalmente brasileiro, o GloboPlay, plataforma do Grupo Globo, custa mensalmente R$ 21,90 e possui filmes e séries internacionais e nacionais, incluindo produções antigas que fizeram sucesso entre o público brasileiro, como as novelas “Avenida Brasil”, “Da Cor do Pecado” e a série “Os Normais”.

Buscando expandir a plataforma, Jorge Nobrega, presidente da Globo, afirmou em entrevista para o Valor Econômico, que a empresa pretende investir R$ 1 bilhão no produto, projetando também um aumento de 80% no número de assinantes em 2020.

Futuro: segmentação ou caldeirão?

Com tantas opções disponíveis e acervos diversos, Arnaut vê nos VoDs de nicho o novo grande sucesso do mercado. Essas plataformas, diferente das maiores, disponibilizam conteúdos segmentados para atrair um público específico e especializado, a exemplo da brasileira PlayKids – de conteúdo infantil -, o streaming de documentários Philos e a Crunchyroll, de animes e doramas.

“Ser pioneiro lançando um serviço que não existe foi o que fez a Netflix dar tão certo no Brasil, em um momento que faltou coragem de players locais em lançar seus aplicativos de VoD mesmo tendo direito de exibição dos conteúdos”, opina.

Já Cury acredita que as empresas vão precisar reavaliar seu modelo de negócio para criar estratégias que dialoguem com o comportamento do consumidor, sobretudo com o fenômeno de divisão de contas. Para o pesquisador, alguns serviços podem ser criados com o intuito de articular o conteúdo de diferentes streamings em um único espaço.

“Seremos obrigados a notar uma mudança de mercado para acompanhar esse comportamento dos usuários, porque o foco nesse momento está indo em uma questão de conteúdo. Com mais gente atuando no segmento, as pessoas vão sentir a necessidade de ter algo que agregue tudo isso”.

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Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios