Comprar um carro bicombustível vale a pena?

A gasolina está, em média, 58% mais cara que o álcool, mas esta diferença já foi de 75% em 2001; ao fazer as contas, considere a diferença de desempenho

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SÃO PAULO – As compras de carros bicombustíveis são cada vez mais populares no País. De acordo com a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), com dados de maio de 2005, a participação dos automóveis flexfuel nas vendas internas de automóveis nacionais e importados deu um salto de 19,8% para 43,3% no último ano, ou seja, mais do que dobrou sobre maio de 2004.

Mesmo assim, o litro de gasolina custa quase 84% mais caro que o de álcool e 33% a mais do que o litro de diesel. Esta diferença foi calculada com base no preço médio praticado em território nacional entre os dias 19 e 25 de junho de 2005.

Tal fato tem levado muitos consumidores a optarem pela compra dos modelos bicombustíveis, que permitem o uso de álcool ou gasolina. Porém, apesar da diferença para se abastecer o tanque de um veículo com álcool ou gasolina, é preciso lembrar que veículos movidos a álcool têm um desempenho inferior em termos de consumo de combustível. E isso deve ser levado em consideração no cálculo da economia potencial.

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Diferença de desempenho

De maneira geral, estima-se que haja uma diferença de cerca de 70% no desempenho dos dois combustíveis. Portanto, se o veículo à gasolina consegue rodar 8,5 km por litro, o equivalente movido a álcool rodaria apenas 5,95 km por litro. Vamos imaginar o caso hipotético de um motorista que precisa encher o tanque de seu veículo de porte médio, cuja capacidade é de 60 litros. Com este tanque ele consegue rodar 510 km na semana.

Por outro lado, se, ao invés da gasolina, utilizasse o álcool como combustível, para rodar os mesmos 510 km precisaria de 85,7 litros de combustível. Em nossos cálculos vamos tomar como base o preço médio da gasolina em território nacional, que se encontra R$ 2,225 por litro, e o do álcool que está em R$ 1,212 por litro.

No caso do motorista acima, que roda 510 km por semana, isso seria equivalente a gastar R$ 133,5, no caso de um veículo a gasolina, e R$ 103,9, no caso de um modelo a álcool, uma diferença de quase R$ 30 por semana, ou cerca de 29%. Caso o motorista mantenha este consumo por todo o ano, isso implicaria em uma economia de R$ 1.540 no período de um ano.

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Em SP, diferença chega a 118%

É importante lembrar que estes números refletem cálculos baseados no preço médio nacional. Porém, se analisarmos a discrepância entre o preço da gasolina e do álcool nos vários estados do País, o que se constata é que existe uma grande flutuação de preços. Se a diferença média é de 84% como mencionamos acima, no Estado de São Paulo ela chega a quase 119%, enquanto no Pará a diferença de preço é bem menor, de apenas 17%.

Neste contexto, comprar um carro bicombustível no Estado de São Paulo pode valer mais a pena, já que a economia potencial pode ser ainda maior. Isso porque, voltando ao exemplo acima, a economia semanal, devido à diferença de preço, seria de R$ 44,5, o que em um ano equivale à cerca de R$ 2,3 mil. Por sua vez, no Pará, como a diferença de preço é abaixo da perda no desempenho estimada com o uso do motor a álcool, pode valer mais a pena manter o veículo a gasolina.

Somente em três Estados a diferença de preços supera 60%, são eles: Paraná (88,7%), Goiás (85,7%) e Mato Grosso (61,7%). No Rio de Janeiro a diferença é de 58,8%, enquanto em Minas Gerais (48,3%), Distrito Federal (44%), Rio Grande do Sul (38,1%) e Bahia (38%) ela é ainda menor.

Diferencial flutuou muito

É bem verdade que os determinantes do preço do litro do álcool e da gasolina são muito distintos. Enquanto o álcool é um produto essencialmente agrícola, e tem seu preço mais atrelado a este mercado, a gasolina é um produto mineral cujo preço depende da cotação internacional e, portanto, ainda sofre com a flutuação do câmbio.

Não há como garantir que a atual situação de preço entre álcool e gasolina irá se manter. Na verdade o que se constata nos últimos anos é que a diferença entre o preço médio da gasolina e do álcool no território nacional variou muito nos últimos anos. Se ao final de 2001 ela estava em 73%, em dezembro de 2002 caiu para 52%. Desde o final de 2004, com a alta do petróleo no mercado internacional esse diferencial vem aumentando, e depois de bater 69% em maio, atingiu um novo recorde em junho, quando ficou em 84%.

Esta flutuação, contudo, só favorece ainda mais os veículos bicombustíveis, pois permitem que o motorista se adapte à situação que mais lhe interessa. Tanto é que muitas montadoras estão optando por oferecer alguns de seus modelos somente na versão bicombustível. Na prática isso deve favorecer a revenda destes veículos, já que a procura por modelos bicombustíveis deve aumentar em detrimento aos modelos de um único combustível.