Com crise na Rússia, vendas do mercado de peles de Dubai despencam

Os russos não estão vindo e isso causa dor aos mercados de varejo, turismo e imóveis que sustentam a economia de Dubai, impulsionada por estrangeiros

Bloomberg

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SÃO PAULO – Vendedores de fala russa sentam ociosos nas dúzias de lojas em fila no mercado de peles de Deira em Dubai, esperando que alguém entre e olhe as prateleiras cheias de abrigos de marta, zibelina e arminho. Este era para ser o momento mais agitado do ano.

“Nós sabíamos que a tormenta estava chegando, mas não percebemos quão forte ela seria”, disse George, um gerente que diz que as vendas caíram cerca de 70% neste ano. A loja não vende abrigos pelo preço máximo de US$ 100.000 desde que vários foram comprados em 2013, disse ele, pedindo não usar seu sobrenome para evitar ajudar a concorrência.

Os russos não estão vindo e isso causa dor aos mercados de varejo, turismo e imóveis que sustentam a economia de Dubai, impulsionada por estrangeiros. As turvações econômicas da Rússia acarretam para Dubai a perda de uma das maiores fontes de clientes no momento em que eventos como a queda dos preços do petróleo e restrições sobre empréstimos hipotecários já estão pressionando esses mercados.

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“Com o declínio do rublo, uma propriedade que teria custado US$ 1 milhão agora custa US$ 2 milhões”, disse Anna Kochetulim, corretora de imóveis com sede em Dubai. Sua empresa, que atende principalmente russos, sofreu uma redução de cerca de 90% dos negócios nos últimos meses.

O rublo se desvalorizou 38% frente ao dólar desde o começo de junho, quando os preços do petróleo alcançaram seu mínimo em cinco anos. Assim, bens estrangeiros e viagens ao exterior dobraram seu valor para aqueles que são pagos em rublos. O dirham dos Emirados Árabes Unidos está ligado ao dólar.

Desaceleração da economia

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A economia de Dubai cresceu 4% neste ano, segundo estimativas, disse o Departamento de Desenvolvimento Econômico em 16 de dezembro. O FMI projetou um crescimento de 5% em 2014, comparado com 4,6% no ano passado.

Normalmente, o número de visitantes russos em Dubai cresce rapidamente no fim do ano e no começo de janeiro, quando muitos deles tiram suas férias mais prolongadas. A agitação econômica do país piorou em dezembro quando o petróleo afundou e a desvalorização do rublo acelerou.

O número de hóspedes russos em hotéis de Dubai diminuiu 16% até o final de outubro em comparação com o mesmo período um ano antes, segundo Issam Abdul Rahim Kazim, CEO da Dubai Corporation for Tourism and Commerce Marketing.

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Os compradores russos de imóveis quase desapareceram, parados pelo declínio da moeda e sanções internacionais que dificultam a transferência de dinheiro para o exterior. Desenvolvimentos em Dubai como Jumeirah Beach Residence e a ilha artificial Palm Jumeirah são há muito tempo populares entre russos ricos em busca de casas de férias, disse Zhanna Yerkozhanova, sócia-gerente da corretora BEBO Real Estate.

Os russos foram o sexto maior grupo de estrangeiros compradores de casas em Dubai nos doze meses até 15 de novembro; no ano passado, eles foram o quinto maior grupo. O total de transações no período foi de 2 bilhões de dirham, comparado a 3 bilhões de dirham para o total de 2013.

Declínio sentido

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Os varejistas em Dubai estão sentindo o declínio. O gasto dos turistas russos recuou cerca de 10% neste ano, segundo Nikola Košutic, gerente de pesquisa da Euromonitor. Os visitantes do país gastaram 3,3 bilhões de dirhams no ano passado.

Turistas respondem por até 35% dos gastos em Dubai e o declínio dos russos tem tido seu impacto, disse David Macadam, CEO do Conselho Internacional de Shoppings. O emirado também experimentou uma diminuição dos gastos de visitantes da Arábia Saudita e do Kuwait, disse ele.

“Trata-se de uma situação assustadora porque nós não sabemos com que compará-la”, disse Dennis Dolmatov, diretor de desenvolvimento comercial da Destinations of the World. Esperava-se o declínio econômico mundial depois da crise hipotecária, mas “agora a situação é mais medonha. Não só a economia mundial não se recuperou completamente, mas também há aspectos políticos ligados ao rublo e ao petróleo”.