Investir no exterior é uma estratégia essencial para diversificação

As recentes evoluções regulatórias vão acelerar o passo rumo ao caminho da diversificação no exterior

Zeca Doherty

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Não é novidade para ninguém que flutuações no câmbio e nas taxas de juros, além de instabilidades políticas, impactam os mercados financeiro e de capitais e, consequentemente, as estratégias de investimentos. Uma das formas de proteger o patrimônio contra essas e outras incertezas é a diversificação, definida pelo antigo e sábio ditado popular: “não coloque todos os ovos na mesma cesta”. Por que não expandir essa máxima e diversificar a carteira para além das fronteiras brasileiras?

É fato que a nossa indústria de investimentos é madura e robusta, contando com uma enorme gama de produtos. Recentes mudanças regulatórias fortalecem ainda mais nosso mercado, empoderando e colocando o investidor no centro dos negócios, além de facilitarem o acesso ao mercado internacional. Exemplos dessa transformação incluem as novas regras para ofertas de valores mobiliários, o marco regulatório dos fundos de investimento e a maior transparência na distribuição de produtos.

No entanto, ainda é grande a disparidade entre o valor aplicado pelos brasileiros aqui — que chega à casa dos R$ 7,2 trilhões — e no exterior, que soma R$ 1,1 trilhão, segundo dados da Receita Federal de maio deste ano. Embora nosso país seja continental, tanto territorialmente quanto em tamanho populacional, ele contribui com apenas 1,5% dos investimentos globais. Diante desses números, é impossível não perguntar: quais barreiras impedem a expansão dos investimentos além das nossas fronteiras?

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Aplicar no exterior não é apenas para clientes com muito dinheiro, e o avanço da tecnologia, juntamente com a maior competição entre as instituições, vem barateando o processo e ampliando o acesso dos brasileiros ao mercado internacional. Mas ainda há resistência em colocar dinheiro fora do país — e isso se deve a uma série de fatores.

Um deles é a falta de conhecimento; até mesmo alguns investidores mais experientes desconhecem as oportunidades internacionais. Somam-se a isso os mitos de que o mercado internacional é mais arriscado ou que é vantajoso apenas para quem já investe há bastante tempo e tem mais experiência.

Passou da hora de eliminar esses vieses para que os brasileiros aproveitem as oportunidades que o investimento no exterior proporciona. É claro que nenhuma aplicação é 100% livre de risco, mas a diversificação geográfica reduz possíveis perdas associadas a um único mercado, protege o portfólio contra incertezas internas e permite aproveitar os ganhos de ciclos econômicos e políticas monetárias mais maduras. É possível, ainda, acessar uma gama mais ampla de ativos e setores, como empresas de tecnologia inovadoras, saúde e energia renovável, que podem não estar disponíveis no mercado brasileiro.

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Por essas razões, a ANBIMA (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) é uma forte defensora da internacionalização há bastante tempo. Temos uma ampla agenda que inclui iniciativas para facilitar o acesso dos brasileiros ao exterior, descomplicando processos e garantindo segurança, assim como para atrair mais investimento estrangeiro para o Brasil. Para isso, estamos sempre em contato com reguladores e organismos internacionais.

Uma grande e importante frente é a disseminação de conhecimento sobre a importância de diversificar lá fora. No início de outubro, demos mais um passo nessa jornada de sensibilização e disseminação de conteúdo. Promovemos o ANBIMA Global Insights, nosso primeiro evento voltado exclusivamente para debater o tema com profissionais da linha de frente da distribuição. Recebemos cerca de 400 gerentes, bankers, planejadores, assessores e consultores financeiros.

Esses profissionais exercem um papel essencial na cadeia de distribuição de investimentos. Afinal, são a ponte entre o mercado e o investidor e possuem tanto a perspectiva dos negócios quanto a dos clientes. Tão importante quanto os avanços regulatórios para aumentar, de forma saudável, as possibilidades de diversificação no exterior, é ter profissionais da linha de frente aptos a explorar esses caminhos de acordo com o melhor interesse e perfil do investidor.

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A internacionalização não acontecerá de um dia para o outro. Uma transformação como essa não é trivial e exige tempo, ainda mais tratando-se de brasileiros, que, acostumados a conviver com longos ciclos de juros altos, veem na renda fixa local um porto seguro.

Mas essa cultura de investimento está mudando, e estou certo de que as recentes evoluções regulatórias vão acelerar o passo rumo ao caminho da diversificação no exterior. É questão de tempo para que os distribuidores se sintam mais confortáveis com a oferta desses produtos e os investidores enxerguem a internacionalização como mais uma estratégia eficaz e necessária para rentabilizar e proteger o patrimônio.

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Zeca Doherty

Diretor-executivo da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) desde 2012.