Opinião: Trader, cuidado com o que você deseja

Geralmente, informações que geram desconforto emocional são bloqueadas, distorcendo a percepção, que deixa de identificar as oportunidades do mercado
Por  Danuza Machado -
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A mitologia serve para exemplificar as atividades humanas, dando sentido racional e compreensível dos problemas da existência. Segundo ela, Póthos é símbolo de um desejo impreciso e representa a ânsia do inalcançável. Ele contempla apenas a plenitude como promessa de seu imaginário, o que gera sofrimento pela ausência do inalcançável. Fato bem parecido com um dos maiores problemas do trader: seu próprio desejo.

Frequentemente, traders e investidores(as) planejam suas metas nas negociações baseados(as) naquilo que precisam ou querem retirar do mercado. Até aí, nenhuma novidade. Porque age-se no mercado com a mesma lógica utilizada para pagar despesas e traçar metas financeiras.

A maior parte faz isso pela ausência de educação financeira, herança de grande parte da população. Algumas das atitudes decorrentes da ausência de educação financeira são um consumismo baseado em desejos e não em possibilidades, e a cobiça por maiores recursos, sem um plano sólido ou justificar o imediatismo em detrimento do patrimônio.

Olhar para o desejo nas negociações implica na elaboração de cálculos e a adoção de estratégias pouco ou nada alcançáveis: administrar um faturamento fora dos recursos disponíveis, estabelecendo alvos baseados nas contas a pagar ou no carro que se deseja comprar, por exemplo. Essa atitude não traz consistência ao longo do tempo.

Como tantos psicólogos economistas já relataram, a tendência do ser humano é evitar a dor emocional. Mas a dissonância entre o querer e a realidade pode gerar dor emocional.

Na tentativa de evitar a dor emocional, a mente cria artifícios e defesas emocionais. Consequentemente, as informações que geram dor e desconforto emocionais serão distorcidas ou bloqueadas, alterando a percepção, que deixa de identificar as reais oportunidades apresentadas pelo mercado.

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Essa distorção cognitiva, na maior parte das vezes, só é percebida tardiamente, acompanhada de apelos como: “e se…”, “como pude…”, “não consegui segurar a operação…” ou “não confiei no alvo…”.

Certamente, a emoção que motiva essas frases reflete a problemática de Póthos: “anseio por aquilo que nunca consigo alcançar”. Desse modo, a quebra da maldição de Póthos estará em aprender a aceitar as consequências das negociações e os próprios recursos.

A expectativa estará alinhada às probabilidades e às oportunidades, configurando um(a) negociador(a) sem convicções contraditórias e com consciência funcional.

Danuza Machado Psicóloga há 25 anos e trader há quase 10 anos. Já trabalhou como Oficial Psicóloga nas Forças Armadas no Controle Emocional para Pilotos do Exército Brasileiro, também como facilitadora no processo de Desenvolvimento de Comportamentos Empreendedores para Empresários no SEBRAE-SP

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