Opinião: Trader, cuidado com o que você deseja
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A mitologia serve para exemplificar as atividades humanas, dando sentido racional e compreensível dos problemas da existência. Segundo ela, Póthos é símbolo de um desejo impreciso e representa a ânsia do inalcançável. Ele contempla apenas a plenitude como promessa de seu imaginário, o que gera sofrimento pela ausência do inalcançável. Fato bem parecido com um dos maiores problemas do trader: seu próprio desejo.
Frequentemente, traders e investidores(as) planejam suas metas nas negociações baseados(as) naquilo que precisam ou querem retirar do mercado. Até aí, nenhuma novidade. Porque age-se no mercado com a mesma lógica utilizada para pagar despesas e traçar metas financeiras.
A maior parte faz isso pela ausência de educação financeira, herança de grande parte da população. Algumas das atitudes decorrentes da ausência de educação financeira são um consumismo baseado em desejos e não em possibilidades, e a cobiça por maiores recursos, sem um plano sólido ou justificar o imediatismo em detrimento do patrimônio.
Olhar para o desejo nas negociações implica na elaboração de cálculos e a adoção de estratégias pouco ou nada alcançáveis: administrar um faturamento fora dos recursos disponíveis, estabelecendo alvos baseados nas contas a pagar ou no carro que se deseja comprar, por exemplo. Essa atitude não traz consistência ao longo do tempo.
Como tantos psicólogos economistas já relataram, a tendência do ser humano é evitar a dor emocional. Mas a dissonância entre o querer e a realidade pode gerar dor emocional.
Na tentativa de evitar a dor emocional, a mente cria artifícios e defesas emocionais. Consequentemente, as informações que geram dor e desconforto emocionais serão distorcidas ou bloqueadas, alterando a percepção, que deixa de identificar as reais oportunidades apresentadas pelo mercado.
Essa distorção cognitiva, na maior parte das vezes, só é percebida tardiamente, acompanhada de apelos como: “e se…”, “como pude…”, “não consegui segurar a operação…” ou “não confiei no alvo…”.
Certamente, a emoção que motiva essas frases reflete a problemática de Póthos: “anseio por aquilo que nunca consigo alcançar”. Desse modo, a quebra da maldição de Póthos estará em aprender a aceitar as consequências das negociações e os próprios recursos.
A expectativa estará alinhada às probabilidades e às oportunidades, configurando um(a) negociador(a) sem convicções contraditórias e com consciência funcional.