Barata demais para ignorar, mas ainda incompreendida: até onde os novos ventos levarão a Braskem na Bolsa?
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SÃO PAULO – Uma ação mal compreendida pelo mercado, alvo de ‘preconceitos’ e que, apesar do forte desempenho recente, segue longe do seu potencial. Mais claramente, “barata demais para ser ignorada”.
São essas as avaliações recentes feitas por diversas casas de análise para a Braskem (BRKM5) que, além dos fundamentos, ganhou mais um importante catalisador em meio a diversas notícias sobre a sua reestruturação societária – e que pode destravar ainda mais valor para a petroquímica. Desta forma, os papéis enfrentam uma grande virada de percepção: controlada pela Odebrecht e pela Petrobras (PETR3;PETR4), ela também esteve no olho do furacão da Operação Lava Jato, com acusações de pagamento de propina para firmar acordos com a Petrobras que a beneficiava.
Mas, aos poucos, vem conseguindo superar o baque a tantas confusões. Em dezembro do ano passado, a companhia firmou um acordo de leniência com o Ministério Público Federal para colaborar com as investigações da Lava Jato, além de pagar uma multa de R$ 3,1 bilhões. Desde então, os progressos em suas operações e novidades sobre mudanças na sua estrutura vêm ganhando mais espaço no noticiário sobre a empresa.
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A última informação sobre esse evento foi divulgada pelo Valor Econômico na manhã de ontem, ao apontar que a companhia faria um programa de conversão de ações de PN em ON. Esse seria o primeiro passo para que as controladoras anunciassem a reorganização e seria positivo para a Petrobras, que está em busca se desfazer do ativo.
Vale destacar que, em julho, as sócias anunciaram que estavam conversando sobre a revisão do acordo de controle, uma vez que o contrato atual tem se mostrado um empecilho para a Petrobras de desfazer de sua fatia no negócio dado o poder limitado da estatal na empresa. A Odebrecht tem 50,1% das ações ordinárias e controla a gestão da companhia, enquanto a Petrobras possui 47%. Considerando o capital total, Braskem e Petrobras têm, juntas, cerca de 75%, sendo o restante é negociado em Bolsa.
Essa mudança seria ganha-ganha para as duas companhias uma vez que a percepção é de que a Petrobras exigirá um múltiplo mais elevado para vender as suas operações, o que gera incentivos para que a Braskem aumente o seu apelo para ser melhor precificada pelo mercado. Assim, enquanto a estatal terá progresso no seu programa de desinvestimentos, a petroquímica poderia se beneficiar de um ambiente de melhor governança corporativa.
Contudo, na noite de ontem, a petroquímica prestou esclarecimentos sobre a matéria ao dizer que está constantemente analisando operações que tenham o potencial de agregar valor à empresa. Porém, não existe, até o momento, nenhum estudo aprofundado acerca da alegada reestruturação acionária. Mesmo com essa negativa, a reestruturação segue no radar dos analistas. Para a equipe de análise do Citi, que já trabalhava com a possibilidade de unificação das classes de ações mesmo antes da matéria do Valor, a operação seria positiva do ponto de vista de governança e pode se refletir em valorização da empresa.
Além do acordo Mas a visão positiva sobre a Braskem vai além da perspectiva sobre o acordo. Nesta semana, o Santander elevou o preço-alvo das ações da petroquímica para o fim de 2018 de R$ 42 para R$ 51,50, (ou seja, um potencial de valorização superior a 16% em relação ao patamar atual) com recomendação mantida para compra, de olho principalmente nos melhores tempos que estão por vir. “Temos mantido uma postura positiva em relação à Braskem desde o início de 2015, e, apesar de seu forte desempenho acima do mercado desde então, mantemos nossa posição”, afirma o analista do banco, Gustavo Allevato. Para ele, os fundamentos da companhia ainda permanecerão sólidos, com base em spreads atrativos, na recuperação da demanda doméstica e na diversificação internacional positiva em curso por parte da empresa. Para ilustrar o quanto a ação está descontada e é “mal compreendida” pelo mercado, o analista da XP Investimentos Marco Saravalle utilizou o múltiplo EV/Ebitda, um dos mais trabalhados pelo mercado. “Desde que foi instalada a Lava Jato, o papel vem sofrendo e o mercado não vem dando o prêmio para essas ações em bolsa, pelo contrário, vem reduzindo a precificação, com múltiplos mais baixos desde 2015”, apontou Saravalle no XP Connection. De acordo com os cálculos do Santander, há um desconto injustificado de 36% frente aos pares com base no múltiplo previsto para 2018. Além disso, tanto Saravalle quanto Alevatto apontam que a Braskem pode distribuir dividendos novamente, de pelo menos R$ 1,2 bilhão neste ano, relativos aos resultados operacionais de 2017. Para Alevatto, alguns catalisadores vão impulsionar a perspectiva de fundamentos sólidos para 2018. A expectativa é de que os spreads petroquímicos possam continuar a trazer surpresas positivas, na esteira da demanda doméstica em contínua recuperação. Outro catalisador é a apresentação de sólidos resultados operacionais, apesar da valorização do real e, por fim, a diversificação internacional segue dando frutos positivos. Porém, o analista do Santander ressalta alguns riscos para o papel. Para ele, apesar dos riscos menores, o mercado deve seguir monitorando a Operação Lava Jato. “Apesar de acreditarmos que os riscos diminuíram após a conclusão de um acordo global de leniência, acreditamos que é necessário um monitoramento cuidadoso do fluxo de notícias, em especial no que se refere a questões como: PIS/Cofins da nafta, diminuição das tarifas de importação, e redução nas medidas anti-dumping”. Outro fator de risco é o suprimento de matérias-primas no projeto do México. Para o Santander, o suprimento de etano da Pemex no México precisa ser monitorado, uma vez que a oferta mostrou alguma instabilidade desde o início do projeto. “Se a Pemex deixar de suprir a quantidade predeterminada de etano, terá que pagar uma multa por não cumprir o ‘contrato de delivery-pay’ e, a nosso ver, a Braskem teria que aplicar essa multa com rigor”, explica o analista. Contudo, balanceando os riscos e os retornos, a visão dos analistas de mercado é de que o melhor ainda está por vir, visão compartilhada os analistas do UBS, Luiz Carvalho e Julia Ozenda em relatório. A percepção é de que a companhia tem bons fundamentos e que, caso a mudança no acordo de acionista vingue, o cenário pode ser ainda melhor para a empresa – e também para a estatal. Inclusive, a Petrobras teve uma outra boa notícia ontem, em meio às declarações do ministro de minas e energia, Fernando Coelho, o valor da “transferência de direitos” dos blocos de petróleo offshore, um dos grandes catalisadores para a companhia, poderia chegar a cerca de US$ 12 bilhões. Segundo o Citi, um crédito neste montante para a Petrobras poderia significar um ajuste de 20-25% ao preço de aquisição de 2010 e impactaria o NAV (valor presente líquido) em US$ 1,55 por ADR (American Depositary Receipt), adicionando mais potencial de valorização em um cenário em que os papéis já estão descontados. Porém, o impacto final para as ações vai depender dos detalhes de pagamento. “Esperamos que o governo brasileiro mantenha o valor como um crédito para a Petrobras”, apontam os analistas. Para saber mais sobre o que trata esse acordo e por que ele é tão importante para a Petrobras, clique aqui. Desta forma, após muita turbulência com a Lava Jato, a Braskem e a Petrobras voltam a se encontrar com os bons fundamentos – e com a avaliação de que ambas podem ter ainda mais espaço para subir. E, caso a venda da fatia da estatal na Braskem se concretize, os sinais é de que o melhor dos mundos pode acontecer para as duas companhias. No XP Connection, Saravalle comentou as perspectivas para Braskem e Petrobras. Confira no vídeo abaixo a partir do 11min20: Se o vídeo não reproduzir normalmente, desabilite seu bloqueador de anúncios (adblock). A transmissão começa com o volume no “mudo”, clique no ícone de som para acioná-lo Gostou desta análise? Clique aqui e receba-as direto em seu e-mail!