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A carne é fraca e a fé também: o mercado desistiu da BRF após mais uma má notícia?

Companhia já vinha de um 2016 bastante ruim, e chegou a esboçar uma reação neste último mês com notícias positivas. Mas o "inferno astral" da BRF deve estar apenas começando
Por  Rodrigo Tolotti
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SÃO PAULO – Ano passado já não foi nada bom para a BRF (BRFS3), que viu 2017 começar de forma bastante negativa com a divulgação de um resultado fraco. Mas desde o começo deste mês, o cenário caminhava para uma melhora diante das notícias envolvendo a gripe aviária nos Estados Unidos, e que poderiam favorecer a empresa. Mas o noticiário desta sexta-feira (17) mostra que o “inferno astral” da BRF pode estar apenas no começo.

Tudo isso porque a companhia está entre os principais alvos da maior operação da história da Polícia Federal, deflagrada hoje. A novidade derrubou as ações da BRF, que já estavam entre as piores do Ibovespa em 2017 e agora assumiram o posto de maior queda do ano, recuando 23,5%, a R$ 36,71 – o que também é a mínima histórica dos papéis. Apenas neste primeiro impacto, com as ações caindo 7,8% hoje, a BRF está perdendo R$ 2,7 bilhões de valor de mercado, para R$ 29,8 bilhões.

Na operação, batizada de “Carne Fraca”, foram cumpridos mais de 300 mandados judiciais em 7 estados, com 27 mandados de prisão preventiva, 11 de prisão temporária, 77 de condução coercitiva e 194 de busca e apreensão. A ação investiga envolvimento de fiscais do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (Mapa) em um esquema de liberação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos.

Segundo jornais, entre os presos estão executivos da BRF como Roney Nogueira dos Santos, gerente de relações institucionais e governamentais, e André Baldissera, diretor da empresa para o Centro-Oeste. A JBS também está entre as empresas que foram alvo da operação.

Adeodato Volpi Netto, estrategista-chefe da Eleven Financial, afirmou que sua equipe “está avaliando a extensão dos danos, incluindo todas as variações possíveis em todas as esferas e, assim que houver uma conclusão, irá se manifestar”. Segundo ele, é hora de avaliar a situação para entender até onde isso pode afetar a companhia.

Por outro lado, ele ressalta que existe uma ponderação importante a se fazer, e que pouca gente está falando. “É a necessidade de se responsabilizar o regulador, considerando que a companhia tinham todas as licenças para operar. Como você mitiga o risco de que você tem um regulador que chancelou tudo isso?”, questiona o estrategista.

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Em coletiva, o delegado Mauricio Moscardi Grillo afirmou que empresas como a BRF e JBS foram “corruptoras” e “incentivaram” o que parece ser um gigantesco esquema de corrupção no Ministério, diferente do que aconteceu com a Petrobras, por exemplo, que tem sido tratada como “vítima” da corrupção. “Não era uma relação de extorsão. Os empresários incentivavam [o esquema]. Eram corruptores, não extorquidos”, afirmou.

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Este gigantesco problema de hoje, bem apenas somar ao já caótico ano de 2016 que a companhia teve. Abílio Diniz, presidente do conselho da BRF, já havia dito que erros foram cometidos na gestão da empresa no ano passado, mas parece que aquele não foi o fundo do poço.

A declaração do executivo ocorreu durante a divulgação do resultado do quarto trimestre da companhia, em 24 de fevereiro. Na ocasião ele explicou que a BRF foi deficiente no marketing estratégico e que não havia como garantir um resultado no curto prazo. Mesmo assim, ele tentou passar uma mensagem positiva, de que aquele poderia ser o momento de virada da empresa. “Não vamos garantir resultado de curto prazo, mas não vamos mais fazer o mesmo”, disse o megaempresário de 80 anos, que está na BRF desde 2013.

Também fazendo “mea culpa”, o presidente-executivo da companhia, Pedro Faria, disse que 2016 mostrou que o modelo de negócios da BRF não estava preparado para agir sob impacto de um ambiente mais adverso. “Na busca genuína de preservar parâmetros diferentes de rentabilidade, perdemos perspectiva do todo”, disse Faria durante a teleconferência com analistas após o balanço.

Esboçando uma reação
E, por um momento, parecia que a empresa passaria a seguir novos ventos no mercado. No início deste mês, surgiu a notícia do primeiro caso positivo do vírus da gripe aviária em uma granja nos Estados Unidos, e tão logo isso foi confirmado os analistas passaram a apontar os efeitos positivos disso para a indústria brasileira de carne de frango, especialmente para a BRF.

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Em relatório, os analistas Antonio Barreto e Thomas Budoya, do Itaú BBA, disseram que a companhia seria a maior beneficiada desta situação. Para eles, o foco de gripe nos EUA pode favorecer a BRF principalmente no Oriente Médio, Coreia do Sul e África do Sul. Nesse contexto, o processo de recuperação de margens da BRF, que sofreu em 2016 com a alta do milho, poderia ser acelerado, segundo os analistas.

Os preços do milho, aliás, já tinham sido foco de análise durante a divulgação do resultado. Na ocasião, os analistas Luciana Carvalho e Victor Penna, do BB Investimentos, disseram que o valor da commodity estava dando sinais de queda diante de uma previsão positiva para a safra no Brasil, o que já poderia aliviar a pressão sobre as margens nos próximos trimestres. “No entanto, a fraca competitividade da BRF tanto nas exportações quanto no mercado interno, que é provável que continuem, permanecem como os principais pontos de preocupação”, alertaram.

O resultado
A BRF encerrou o quarto trimestre com prejuízo líquido de R$ 460 milhões, revertendo um lucro de R$ 1,42 bilhão um ano antes. Segundo a companhia, esta piora foi reflexo de um cenário de custos mais elevados, combinado com prática de preços menores para defender participação de mercado em regiões-chave. 

Para a dupla do BB, a queda contínua dos preços médios e a menor competitividade da exportação impactaram as vendas – a receita líquida caiu 4,1% ante o 4º trimestre de 2015, para R $ 8,6 bilhões. Mas um dos principais problemas foi a estratégia de manter os preços baixos em algumas regiões, o que pressionou as margens da companhia. Adeodato chegou a falar na ocasião que a ação havia caído demais e poderia se recuperar, enquanto a XP Investimentos apontou que o papel não estava tão barato. Análises que devem mudar daqui para frente.

Apesar de toda a crise gerada com a operação da Polícia Federal, parece ser cedo ainda para uma análise sobre os reflexos na companhia. Ainda não se sabe se fábricas serão fechadas, os processos que poderão ser abertos diretamente contra a empresa e muitos outros problemas que poderão surgir. Mas se a BRF já passava por um momento de mudança, em que precisava se provar para o mercado, agora a luta para conseguir mostrar tudo isso será muito mais complicada.

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Rodrigo Tolotti Repórter de mercados do InfoMoney, escreve matérias sobre ações, câmbio, empresas, economia e política. Responsável pelo programa “Bloco Cripto” e outros assuntos relacionados à criptomoedas.

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