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É muito difícil mudar?

Você quer mudar algum hábito? Espero que sim. É fácil mudar? Não, mas é possível. Conheça as três grandes dimensões do hábito que podem ajudá-lo nessa jornada
Por  Thiago Godoy -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

SÃO PAULO – O que você gostaria de mudar em você? Você já tentou mudar algum comportamento e não conseguiu? Para você, quão difícil é mudar?

Eu posso te ajudar a responder. Para você e para qualquer ser humano, mudar é um processo difícil. E essa é uma questão biológica, física mesmo. Para entender isso, bastam alguns dados científicos.

O principal agente para qualquer mudança que você queira empreender em si mesmo é o seu cérebro. Essa máquina gigantesca e absurdamente complexa que pesa apenas 2% do seu peso total, mas que gasta mais de 20% da energia de que você dispõe.

Essa máquina complexa é composta por circuitos, chamados neurônios. E são muitos. Em cada célula você encontra em torno de 100 bilhões deles. E cada neurônio faz entre 1.000 e 10.000 conexões entre si. Agora tente imaginar o número de combinações que todos esses circuitos fazem entre si, em apenas um único cérebro.

Os cientistas estimam que há mais combinações entre os circuitos cerebrais do que o número de átomos em todo o Universo. Percebe o quão complexo é?

Bom, se você está lendo este texto significa que suas combinações estão funcionando e que a sua máquina está em dia. Só por aí, já é um grandioso motivo para agradecer.

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Em Economia Comportamental, estudamos o processo de tomada de decisão econômica dos indivíduos. Seja um investidor analisando em qual fundo de investimento vai entrar ou que café vai tomar na padaria da esquina, essa ciência mostra que todos nós, seres humanos, tomamos decisões financeiras o tempo todo.

Sair da zona de conforto dói

Para essas tomadas de decisão que não são automáticas (como por exemplo mudar a marcha do carro) usamos o córtex pré-frontal. É essa parte, que fica na frente do nosso cérebro, a responsável por tomar as decisões que envolvem o futuro. É a parte responsável por frear seus impulsos que podem te prejudicar. É a dona do famoso autocontrole.

Cada cérebro é uma máquina complexa e única. Tão única que é realmente impossível sabermos como um outro cérebro vê, sente e percebe a vida. Nem a pessoa mais empática do mundo consegue saber realmente o que outra pessoa está sentindo.

E é tão difícil para nós percebermos a realidade do outro que tendemos a achar que as pessoas pensam como a gente pensa. Pior ainda, costumamos achar que as pessoas deveriam pensar da mesma maneira que nós pensamos!

De fato, o nosso cérebro busca poupar energia o tempo inteiro. Por isso, ele vai focar no que já sabe, já conhece e entende como seguro, confortável. Esse papo de “sair da zona de conforto” é realmente doloroso, pois é um processo não-natural.

Aí, chegamos nos hábitos. Os hábitos são essa zona de conforto que o seu cérebro já entendeu que são boas para você, mesmo quando são péssimas.

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Sim, pois o seu cérebro não sabe a diferença entre um hábito bom e um ruim, ele sabe apenas o que são hábitos! Se você ensina para seu cérebro os bons e os maus hábitos, ele vai se viciar neles.

As três dimensões do hábito

Voltando à pergunta lá do início. Você quer mudar algum hábito? Com certeza sim, eu espero que sim. Seria um pouco triste se você não quisesse ou, pior ainda, se achasse que não precisa mudar em nada.

Agora, é fácil mudar? Não, mas é possível. E para isso você precisa desenvolver mais autorresponsabilidade e realmente se sentir a única pessoa responsável por aquilo. Do contrário, você vai cair em outro “auto” – o autoengano.

A reação mais fácil que as pessoas têm quando não conseguem mudar algo em si é apontar um culpado. Fazendo isso, você tira o peso de si mesmo. O peso realmente doloroso de encarar algum processo de mudança.

Agora, se você quer mudar, saiba de uma coisa preciosa. Todo hábito tem três grandes dimensões. A dimensão mais óbvia é a do comportamento em si. Mas todo comportamento gera uma recompensa, certo? Então você faz aquilo já esperando essa recompensa.

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Agora, antes da recompensa e antes do comportamento você tem o gatilho. O gatilho é aquilo que desperta o seu comportamento. Se você quer mudar algum hábito, você precisa focar exclusivamente em mudar o gatilho!

Se o comportamento que você quer mudar tem a ver com consumo, por exemplo, descubra qual o gatilho que te leva a consumir. Eu conheço gente que ficava endividada pois tinha o hábito de almoçar no shopping e, naquele passeio digestivo, acabava sempre encontrando uma “promoção”. Para essa pessoa, por exemplo, gastar menos significava deixar de almoçar no shopping.

O que te faz poupar menos dinheiro que você poupa? Ataque os seus gatilhos e mude seus hábitos. Mude um gatilho de cada vez pois você precisa de tempo para conseguir mudar cada coisa.

E seja simples. Quanto mais energia você tiver que gastar, mais difícil vai ser incorporar esse novo hábito.

Não espere aprender a mexer em uma planilha complexa para controlar suas finanças. Não espere aprender tudo sobre investimentos para começar a investir. Comece e confie no seu poder de mudança. É mais fácil do que você pensa!

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Thiago Godoy É head de educação financeira da XP Inc. e especialista em psicologia do dinheiro e bem-estar financeiro. É mestre pela FGV – Tese em Educação Financeira, especialização em Sustentabilidade (University of British Columbia), tem MBA em Marketing (FGV) e graduação em administração (UFJF). Foi diretor de mobilização de recursos e relações governamentais da Associação de Educação Financeira do Brasil, atuando especialmente com populações de baixa renda e escolas públicas. Também atuou com desenvolvimento institucional na Dialogue Direct e Children International (EUA), Fundação Vida Plena (Bolívia), Projuventude e Comitê para Democratização de Informática (Brasil). Instagram: @papaifinanceiro

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