Copel: energia de sobra para brilhar na bolsa

Rodrigo Glatt, da GTI, explica sua tese de investimentos nas ações da estatal paranaense

Matheus Soares

Funcionários da Copel

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O megainvestidor Peter Lynch, responsável pelo fundo Fidelity Magellan, que rendeu 29% ao ano durante 13 anos, acredita que investidores ‘normais’ têm a capacidade de fazer melhores negócios que os próprios analistas setoristas. Basta dedicação, tempo e estudo naquilo que você já conhece muito bem e consiga enxergar até onde a empresa poderá crescer.

Para Lynch, um corretor imobiliário ou construtor teria condições de entender como está o mercado de imóveis e escolher ações entre as construtoras ou imobiliárias listadas. Isso é apenas um exemplo.

A verdade é que subestimamos nossa capacidade de entender um negócio. E um deles é o de energia elétrica.

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Estamos tão acostumados que esquecemos tudo aquilo que ela propicia. Sabe o Magazine Luiza? Empresa que multiplicou mais de 360 vezes na bolsa? O que seria dela sem energia elétrica? Não teríamos nem internet! O crescimento dela também depende de energia elétrica.

Estou sendo radical, mas o que quero dizer é que, por ser algo que todos precisam e utilizam no dia-a-dia, as elétricas são empresas que tem probabilidade enorme — ou quase total — de continuar existindo nos próximos séculos.

Além disso, este é um setor conhecido pela menor volatilidade e menos sensível às incertezas econômicas. Dada a previsibilidade de receitas (seu consumo é vital para a sociedade), geração de caixa previsível e baixa necessidade de investimentos, as ações do setor são conhecidas por serem boas pagadoras de dividendos.

Fiz essa introdução sobre o setor de energia elétrica por que a empresa do Stock Pills (ouça abaixo) dessa semana é Copel, estatal de energia elétrica controlada pelo Governo do Paraná. Convidamos para destrinchar a tese de investimentos na companhia, Rodrigo Glatt, sócio da GTI Administração de Recursos, gestora fundamentalista focada em Value Investing e cujo principal fundo da casa, o GTI Dimona, valorizou-se 323% contra 70% do Ibovespa ao longo dos seus 12 anos de existência.

Sobre a Copel

Os principais negócios de Copel são: distribuição, geração e transmissão de energia elétrica. Além disso, a empresa também atua no segmento de telecomunicações e tem participação na Compagas, de distribuição de gás natural. Por mais que a ação tenha subido 74,8% em 2019, bem acima dos Benchmarks comparáveis (Índice Bovespa +22% e Índice de Energia Elétrica +34%), Glatt afirma que ela é a ação mais barata da bolsa.

Explicando sobre os segmentos: distribuição é possivelmente o mais arriscado dos três, uma vez que é o mais sensível a volatilidade da demanda dos consumidores e ainda lida com inadimplência do usuário. O de geração se destaca por apresentar necessidade de investimentos relevantes para iniciar a operação. Já o segmento de transmissão, diferentemente dos dois anteriores, garante uma receita mais previsível uma vez que a empresa é remunerada pela disponibilidade do serviço e não pelo volume transportado.

Eficiência – dívidas = mais dividendos

Como costuma acontecer com empresas estatais, as ações da companhia tradicionalmente negociam a desconto em relação ao setor devido a ineficiências de custo e alocação ineficiente de capital. Diante desse panorama, Rodrigo afirma que a empresa vem melhorando muito os resultados de distribuição ao longo dos últimos anos por conta de um esforço grande para reduzir os seus custos. Além disso, a maturidade dos investimentos realizados no segmento de geração nas usinas de Baixo Iguaçu e Colider somados a potenciais ganhos com a venda da Copel Telecom devem permitir a empresa acelerar a redução de seu endividamento e elevar o percentual de pagamento de dividendos.

Para saber mais detalhes da tese de investimentos da GTI em Copel, ouça abaixo (ou leia a transcrição):

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Transcrição do áudio enviado para o Stock Pills:

Boa tarde a todos, eu sou o Rodrigo Glatt, sócio da GTI Administração de Recursos. A GTI é uma das casas mais longevas de investimento em renda variável, tem cerca de 12 anos e segue a estratégia de longo prazo, de análise fundamentalista com foco em valor e eu estou aqui hoje para falar de um dos nossos casos de investimento, que é a Copel. A Copel é uma empresa paranaense de energia elétrica que atua em três principais áreas hoje: distribuição, geração e transmissão, e alguns ativos na área de Telecom.

Na área de distribuição a gente vê a empresa melhorando muito os resultados ao longo dos últimos anos por conta de um esforço grande para reduzir os seus custos, fazendo programas para demissões incentivadas visando atingir o que a gente chama de Ebitda [sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization ou lucro antes de juros, impostos depreciação e amortização, traduzindo para o português] regulatório, que é o retorno esperado para uma concessão de distribuição. Ela está atingindo o Ebitda regulatório este ano e deve continuar melhorando os seus resultados na distribuição daqui para a frente.

Na área de geração, vemos a empresa colocando dois projetos importantes este ano: que são as usinas de Colider e de Baixo Iguaçu, essa última em parceria com a Neoenergia, além do complexo eólico de Cotia. Esses projetos tiveram Capex [sigla para Capital Expenditure ou investimentos em bens de capital, traduzindo para o português] relevantes nos últimos anos, mas que estão maturando apenas a partir deste ano – entraram em operação ao longo do primeiro semestre. Outra coisa que a gente vê de positivo na empresa é que ela vai passar a focar mais os seus recursos no Core Business, que é a geração e transmissão. Então os ativos de Telecom devem ser vendidos até o final do primeiro trimestre do ano que vem, em que estima-se que a empresa faça um caixa de aproximadamente R$ 1,5 bilhão.

Além disso ela também tem ativos no segmento de gás: metade da Compagas, que é a empresa distribuidora do Paraná, provavelmente deve passar por alguma alienação também, mas provavelmente num futuro mais distante, após a aprovação da lei do gás e/ou de uma melhora do arcabouço regulatório.

E com isso, o que a gente vê de positivo nesse case? Na verdade, com essa venda dos ativos de Telecom a vemos a empresa saindo de uma alavancagem que esteve acima de 3 vezes nos últimos anos, provavelmente migrando mais para a faixa de 1,5x ou 1x o Ebitda, em que isso provavelmente vai beneficiar a empresa, transformando ela em uma empresa bem menos alavancada e com possibilidade não só de investir em novos projetos, como também de elevar potencialmente a distribuição de dividendos.

Hoje é um questionamento que o próprio management faz, é se deveria elevar a distribuição de dividendos do atual patamar de 25% para algo mais próximo a 50%. Se isso, de fato, se concretizar no ano que vem, a gente ta projetando um Dividend Yield [rendimento de dividendos, que seriam os proventos distribuídos divididos pelo número de ações negociadas na bolsa] na casa de 6%, que a gente acha que é um Dividend Yield bastante atrativo dado o cenário de queda de juros e mesmo comparando com outras empresas do setor que também se apreciaram e que também tem retornos bons, mas menores do que esse.

Vemos uma empresa gerando um lucro na casa de R$ 1,7 bilhão para esse ano, e R$ 1,9 bilhão para 2020, negociando em torno de 7x lucro, o que a gente acha barato tanto para o setor dela como comparando com qualquer outro ativo na bolsa. É um dos ativos mais baratos que a gente consegue enxergar. Então é um case interessante de desalavancagem e de potencial elevação de pagamento de dividendos. É assim que a gente vê. Obrigado a todos e um grande abraço.

Matheus Soares

Matheus Soares é analista da Rico Investimentos e um dos responsáveis pela Carteira Rico Dividendos 8+