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O real está caindo pelo exterior e não por causa das eleições: e agora?

A depreciação recente do real reflete em maior medida o ambiente internacional do que as idiossincrasias brasileiras
Por  Stephan Kautz
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

“In a strong wind, even turkeys can fly.” – Mark Suster

 A frase acima representa a visão expressada por Warren Buffet, dita de outra maneira (“Only when the tide goes out do you discover who’s been swimming naked”). E ambas refletem a perspectiva de que momentos de bonança atrapalham a interpretação da realidade. E a bonança acabou nos últimos anos, com a desaceleração da China, fim das políticas expansionistas nos EUA e a perspectiva de normalização das taxas de juros nos países desenvolvidos ao longo dos próximos anos. E quem estava nadando pelado? Pela reação recente dos mercados, os países emergentes, que aproveitaram para expandir suas políticas fiscais e monetárias, na ânsia de manter o crescimento observado na década que se encerrou em 2010.

Por maior surpresa que possa causar, a depreciação recente do real reflete em maior medida o ambiente internacional do que as idiossincrasias brasileiras. Em recente estudo do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia da FGV, de autoria do economista Lívio Ribeiro, os fatores externos contaram pela totalidade da depreciação do real em 2018. Por mais incertas que essas estimativas possam ser, diversos estudos recentes apontam para a mesma conclusão, um forte componente externo na determinação da movimentação do real. Mas quais seriam esses fatores, e mais importante, o que esperar à frente? E os fatores domésticos, notadamente a eleição, não serão relevantes?

Em termos externos, um primeiro fator relevante foi o pacote de estímulo fiscal implementado nos EUA no início do ano. Essa expansão fiscal, via corte de impostos e aumento de gastos, levou a revisões altistas para o crescimento do PIB, e por consequência à necessidade de continuidade nas altas de juros pelo Banco Central americano. O aumento no diferencial de juros em relação ao resto do mundo fez com que o dólar se apreciasse, similar ao que ocorreu com o pacote fiscal do presidente Reagan entre 1981 e 1984. Outro aspecto foi a imposição, pela administração Trump,  de tarifas de importação para combater o déficit comercial. A possibilidade de redução do déficit comercial, bem como a alta de juros, de novo, pela aceleração do crescimento, levaram a uma apreciação da moeda americana. Finalmente, as vulnerabilidades das economias emergentes, em especial Turquia e Argentina, acabaram contaminando as moedas de outros países nessa categoria.

E o que esperar para o próximos meses? Em relação à política monetária americana, o Banco Central anunciou essa semana, dia 26, que continuará subindo a taxa de juros nos próximos trimestres, observando uma economia com forte crescimento e inflação ao redor da meta. O crescimento projetado para 2019 é de 2,5%, acima do potencial, e por isso não deverá haver alívio desse lado. Quanto às restrições comerciais, a derrota nas eleições de novembro para o Congresso podem levar o presidente Trump a focar ainda mais sua atenção ao tema comercial. Em relação aos Emergentes, alguma racionalidade econômica está sendo observada na Turquia e Argentina mas as taxas de juros e os apertos fiscais começaram em outros países, em diferentes regiões. Uma velha máxima, países sem crescimento não têm moedas fortes. Em resumo, a apreciação recente do real para o patamar perto de R$ 4,00 parece motivada por algum alívio nos fatores supra-citados, mas não deve ser duradoura.

 Finalmente, e quanto aos fatores internos? A eleição e os eleitos terão uma tarefa importante em sinalizar quais são seu planos efetivos para a economia brasileira nos próximos anos, dado que os planos anunciados nas campanhas ainda são superficiais ou trazem dúvidas sobre a implementação. O foco das atenções do mercado serão as perspectivas fiscais. A dívida pública deverá subir nos próximos meses, independente do ajuste de 2019. Quanto tempo mais o mercado estará disposto a nos financiar? E a qual taxa? O fator interno ainda não fez preço no real, mas as incertezas e riscos da eleição indicam que esse efeito ainda deverá ocorrer.

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