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Cuidado com a sopa quente, você pode se queimar

No universo cheio de siglas que é a Bolsa de Valores, o IPO tem ganhado destaque. Ainda que as ofertas pareçam tentadoras, é preciso cautela para que nada caia mal
Por  Aline Tavares -
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Quando eu era criança, simplesmente amava tomar sopa de letrinhas, o famoso prato cujo macarrão tinha formato de letras do alfabeto.

Era o maior barato tentar “pescar” as letras para formar meu nome e algumas palavras. Claro que, enquanto eu fazia isso, minha mãe brigava comigo para comer logo porque a sopa ia esfriar.

Anos depois, entrei em um universo que me remete a esses tempos: a Bolsa de Valores. Digo isso porque o que não faltam aqui são siglas, como em uma verdadeira sopa de letrinhas. Tanto que muitos investidores e investidoras ainda se perdem com tantas que aparecem.

E hoje vim falar especificamente de uma delas, que você deve já ter visto aparecer em algum momento: o IPO.

Quem está nesse mundo da Bolsa já reparou que, em 2020, tivemos muitas empresas fazendo o famoso IPO, que nada mais é que a oferta pública inicial de ações, ou seja, a primeira vez que a empresa oferecer ao público suas ações.

E por que as empresas estão fazendo isso?

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O mercado acionário é uma das formas mais baratas de as empresas conseguirem levantar capital para realizar projetos de expansão e investimentos.

Em vez de ir ao banco ou utilizar alguma linha de crédito e fazer uma dívida (que implica também em pagamento de juros), as empresas preferem vender uma parte delas para outras pessoas para que estas se tornem suas sócias e, assim, as companhias consigam levantar o capital necessário para investir.

Existem ainda outras vantagens, como a melhora da imagem institucional da companhia, por ter que dar mais transparência aos negócios; maior referencial de valor, já que a empresa será avaliada constantemente no mercado; e mais benefícios e facilidades em momentos de fusões e aquisições, nos quais poderão oferecer as ações como parte do pagamento sem precisar utilizar o caixa da empresa.

E nada melhor do que aproveitar o momento de felicidade e euforia dos investidores e investidoras na Bolsa para fazer uma estreia, não é mesmo? Afinal, um pedaço de uma empresa está à venda, e as empresas querem tentar vender pelo melhor preço possível.

Eu acho maravilhoso que o leque de opções de ações na Bolsa brasileira esteja aumentando. Mas é necessário que nós tenhamos atenção em alguns pontos para não entrarmos em ciladas.

Existia uma “lenda urbana” entre investidores, principalmente pessoas físicas: a de que em todos os IPOs os preços das ações sobem. Mas não é bem assim que funciona.

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E aqui já chamo atenção para o primeiro ponto: abrir capital na Bolsa não é garantia de sucesso. Já tivemos exemplos de empresas que, em sua estreia, apresentaram quedas expressivas nos seus preços, como foi o caso de Mitre (MTRE3), Moura Dubeux (MDNE3) e Allpark (ALPK3).

Como as empresas normalmente não divulgam um histórico longo de resultados (em geral, são os últimos três exercícios), fica mais difícil fazer uma avaliação concreta do seu valor justo.

E não é incomum que a empresa faça algumas alterações positivas nos resultados, ou, como se diz no jargão, “embeleze a noiva antes do casamento.”

Para evitar isso, uma coisa que o investidor pode fazer é uma análise que envolva a comparação de múltiplos da empresa em questão com a de seus concorrentes, além das perspectivas do setor em que atua. Também vale observar o desempenho das companhias do mesmo setor que já possuem ações em circulação na Bolsa.

Além disso, é importante se familiarizar com os riscos que aquele negócio gera e qual será o objetivo da empresa com o dinheiro levantado na operação. Por isso, leia atentamente o prospecto, um documento em que você vai encontrar as principais informações e características da empresa.

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Outro ponto relevante do IPO é prestar atenção na faixa indicativa de preço estabelecida e o preço fixado.

É comum encontrar companhias que tenham seus preços ajustados “à perfeição”, ou seja, em um cenário que pareça mais bonito do que ele realmente é. Em outras palavras, a empresa pode estar “cara”.

Isso não quer dizer que, em todos os IPOs, as empresas estarão caras ou serão ruins. Mas é importante que você entenda que não existe ganho certo.

Quando temos uma quantidade tão grande de estreantes, devemos olhar com mais cuidado para o que está nos sendo oferecido. Afinal, não é pelo simples fato de que determinada companhia está vindo para o mercado que ela é realmente um bom negócio.

E tem mais: existe outro fenômeno mais perigoso nos IPOs que pessoas pouco habituadas ao mercado podem não conhecer, a “flippagem”.

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Essa estratégia consiste, basicamente, em pessoas que entram no IPO para adquirir as ações a um menor valor durante o período de reserva e logo as vendem (geralmente no dia do seu lançamento), em uma operação de curtíssimo prazo, para tentar capturar lucro num possível movimento de valorização das ações em sua estreia.

Isso gera alta volatilidade nas ações logo na estreia. Estima-se que quase metade das pessoas físicas que entram em IPOs usem essa estratégia.

Em uma tentativa de diminuir a volatilidade nos preços das ações nos primeiros dias de negociações, as companhias têm oferecido a alternativa de reserva com “lock-up”.

Essa condição significa que o investidor ou a investidora terá um período de “carência”, ou seja, de bloqueio de negociações das ações por um tempo mínimo antes de vendê-las.

E por que escolher essa opção? Quem aceita essa condição tem prioridade na oferta, e, no caso de uma demanda muito alta, sofre um rateio menor.

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Em compensação, caso venha a conhecimento do público outros fatores que façam com que as ações desvalorizem, quem investiu não poderá fazer nada com suas ações até que o período de carência termine.

Novamente deixo aqui meu alerta: atente-se às opções oferecidas, às restrições que elas apresentam e ao que realmente você está comprando.

Fique de olho nos riscos e nos fundamentos da empresa, assim como em prós e contras. E, principalmente: não se deixe levar pela euforia geral.

Da mesma forma que escolher as letras certas da minha sopa era uma árdua missão na minha infância, selecionar as empresas recém-abertas que sejam interessantes para montar sua carteira também pode ser desafiador, mas tende a render bons frutos se a estratégia for bem executada.

E lembre-se: mesmo que a sopa pareça linda e fumegante diante dos seus olhos, vale sempre a pena ter parcimônia e esperar que ela esfrie. Do contrário, você pode se queimar.

Abraços,

Aline Tavares

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Aline Tavares Aline Tavares é analista de ações da Spiti. Analista CNPI e formada em Economia pela Universidade Federal Fluminense (UFF), tem MBA em Finanças pelo Ibmec-RJ e MBA de Gestão de Investimentos pela PUC-Rio. Atuou na área de análise fundamentalista da Ágora Corretora e, por quase sete anos, esteve na área de gestão de investimentos do Infraprev, o fundo de pensão da Infraero. Acredita que conhecimento tem que ser compartilhado e, consequentemente, o acesso aos investimentos, democratizado. Tem como missão desmistificar a Bolsa de Valores e mostrar que todo mundo pode, sem medo, investir em ações.

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