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Microsoft e Alphabet acirram disputa por Inteligência Artificial após balanços do 1º tri

Ambas empresas se esforçaram para demonstrar o longo histórico de atuação no campo de IA e assegurar investidores de que serão líderes nessa onda de inovação
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Microsoft e Alphabet, conglomerado dono da Google, divulgaram seus resultados trimestrais no último dia 25 após o fechamento do mercado.

É imediatamente evidente a centralidade de IA nos discursos de ambas companhias, que correm para monetizar aplicações de inteligência artificial em seus produtos e serviços – e a Microsoft constrói um esforço direcionado para desafiar o monopólio de buscas da Google. Ambos times de executivos, durante as conferências de resultados, se esforçaram para demonstrar o longo histórico de atuação das companhias nesse campo e assegurar investidores de que serão líderes nessa onda de inovação.

A Alphabet já havia anunciado recentemente a junção de seu time de pesquisa em IA, o chamado Brain Team ou formalmente Google Research, com o time da DeepMind, empresa de IA adquirida pelo conglomerado em 2014. No tocante à presença de IA em seus produtos, o time de executivos foi pouco específico, o que parece compreensível na medida em que suas aplicações para busca têm sido implementadas gradualmente buscando melhorias incrementais sem causar uma disrupção do modelo – como propôs o Chat GPT.

Nesse sentido, é importante lembrar que relatórios do NY Times afirmaram, em janeiro, que os fundadores da companhia, Larry Page e Sergey Brin, voltaram a participar mais ativamente de decisões estratégicas relacionadas à IA. Movimento esse que pode ser interpretado como uma falta de confiança na liderança do CEO Sundar Pichai ou simplesmente um envolvimento de dois dos mais importantes inovadores das últimas décadas no assunto que promete ser o centro da próxima revolução tecnológica. De qualquer forma, a presença dos maiores acionistas no dia-a-dia da empresa, ainda que em parte específica dela, pode ter impacto relevante.

No todo, o resultado da Alphabet foi em linha com o consenso, mas se beneficiou de novidades contábeis – uma das razões pelas quais não atribuímos muito peso ao fato de que o Google Cloud gerou lucro pela primeira vez em sua história. A nossa percepção é de que a divisão ainda não parece pronta para gerar lucro de forma sustentada, tendo gerado prejuízo de US$ 2.9 bilhões no ano de 2022 e em estágio de franca expansão tentando reduzir o gap que a separa do AWS e do Azure. Ainda, vale notar que no primeiro trimestre deste ano fiscal, a companhia incorreu em US$ 2,5 bilhões de custos relacionados a demissões e remanejamento de sua estrutura de escritórios. O anúncio de um plano de recompras de US$ 70 bilhões, por sua vez, consideramos animador.

Uma das medidas, essa já anunciada nos resultados do último trimestre foi a revisão da estimativa de vida útil dos servidores. A Alphabet não está sozinha nessa iniciativa, com grandes nomes também fazendo o mesmo movimento nos últimos anos:

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A implicação dessa mudança contábil é que a companhia reduz a cifra de depreciação e consegue aumentar margens, porém, não causa impacto no fluxo de caixa livre uma vez que continuarão tendo gastos com capex independente da alteração na depreciação; já que esta representa apenas uma estimativa da deterioração do equipamento. Nesse trimestre, a prática concedeu um benefício de US$ 988 milhões à Alphabet.

Outra mudança contábil que impactou o resultado da Alphabet foi a transferência da data do pagamento da remuneração de funcionários, o que não altera o resultado do ano, mas significa que o primeiro trimestre do ano não sofreu o efeito desse número, que é bastante significativo.

No lado da Microsoft, o resultado superou as expectativas especialmente – exceto na geração de caixa. No entanto, a reação do mercado foi mais efusiva, com a ação subindo mais de 7% no pregão seguinte ao resultado. A estabilização do segmento de cloud computing, assim como um discurso mais otimista sobre o nível geral de gastos com TI por parte de seus clientes e uma animação com as perspectivas de integração das ferramentas desenvolvidas pelo OpenAI nos produtos da Microsoft impulsionaram o otimismo com a ação.

A queda menor do segmento de More Personal Computing, de 9% (vs -19% no trimestre passado), suavizada pela queda menos drástica na venda de devices, também foi uma surpresa bem recebida pelo mercado.

A aquisição da Activision, no entanto, sofreu um baque relevante logo antes do anúncio dos resultados: o órgão regulatório britânico bloqueou a transação alegando que configuraria uma competição desleal, mais especificamente no campo de cloud gaming, o que representou um retrocesso frente aos acontecimentos recentes que foram divulgados pela imprensa. Vale ressaltar que esse campo ainda é muito incipiente, mas a Microsoft parece ter vantagens.

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Na semana anterior, relatórios foram divulgados especulando que a Microsoft buscaria firmar o deal mesmo com o processo do FTC ainda pairando sobre ele. Com essa decisão do Reino Unido, os próximos passos da compra estão indefinidos. Por enquanto, os acionistas da Activision têm sido os mais afetados, com as ações da Microsoft intocadas por essa notícia.

No lado de Google, a lucratividade do segmento de Cloud permanece elusiva, os gastos com share-based compensation seguem altos e passíveis de uma redução, a monetização mais eficiente do Youtube precisa ser endereçada e a resposta da companhia ao avanço da Microsoft no campo de busca segue um ponto de interrogação. Por enquanto, o Google segue monetizando sua parcela de mercado que excede 90%.

Enquanto isso, a Microsoft usa o navegador Edge para ameaçar o Google Chrome e turbina o Bing para competir diretamente com o mecanismo de busca do Google. Esse desafio não esbarra apenas no enorme domínio do Google sobre esse mercado, mas também sobre o questionamento do modelo atual de monetização de buscas, para o qual o Chat GPT por enquanto não tem resposta.

A colocação do CEO Satya Nadella resume bem esse movimento e a atitude afrontosa da Microsoft: “Google is the 800-pound gorilla in search, I want people to know that we made them dance”.

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