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Ômicron, a economia e a pergunta que não quer calar: mais ou menos inflação?

Com o surgimento de mais uma cepa do vírus que abalou a economia global nos últimos dois anos, surgem também novas perguntas sobre o que podemos esperar à frente
Por  Rachel de Sá
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Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Pela velocidade em que as informações correm, você já deve saber que os dois motivos que geram maior preocupação com a Ômicron, a nova variante da Covid-19, são:

– Tudo indica que ela é mais transmissível do que outras cepas conhecidas até então, incluindo a Delta;
– Ela possui diversas mutações no vírus: 50 no total, e 30 apenas na proteína S – justamente a que serve de base para diversas vacinas, o que coloca dúvidas sobre a eficácia dos imunizantes existentes.

Quais os impactos na economia?

Com o surgimento de mais uma cepa do vírus que abalou a economia global nos últimos dois anos, surgem também novas perguntas sobre o que podemos esperar à frente.

A primeira e mais sensata resposta neste momento é: não há como saber. Isso porque ainda não há tempo hábil para a coleta de dados suficiente para entendermos se as suposições mencionadas acima são verdadeiras, especialmente sobre a eficácia das vacinas existentes.

Mas algumas discussões já ganham força. Em especial, no campo da política monetária, ou seja, como a Ômicron pode afetar o movimento das taxas de juros no mundo, com destaque para os Estados Unidos. Para entender esse movimento, é preciso saber o que está acontecendo com a inflação no mundo.

A cadeia de suprimentos e a inflação alta

Para a economia, um dos impactos mais duradouros da pandemia tem sido nas cadeias de suprimentos globais. Com a produção paralisada (total ou parcialmente) por diferentes períodos, fronteiras, pontos centrais de logística fechados e um verdadeiro “entra e sai” de trabalhadores no mercado de trabalho, começou a faltar de tudo um pouco na produção de bens ao redor do mundo.

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A escassez, que começou com semicondutores para carros e computadores, se expandiu para insumos no geral, como: vidro, plástico, algodão e até na mão de obra. Com ela, foi também o preço de bens intermediários, e a inflação global – impulsionada por uma demanda forte, fruto de benefícios fiscais, juros baixíssimos e estímulos monetários como compra de ativos no mercado. O resultado? Inflação em níveis historicamente altos ao redor do mundo.

A Covid-19 e os juros

Diante de uma realidade de preços bastante pressionados por mais tempo do que o esperado, e de economias em recuperação, os Bancos Centrais ao redor do mundo começaram a reduzir seus estímulos vigentes.

Assim, a atenção se voltou aos Estados Unidos, onde o Banco Central (Fed) anunciou recentemente a redução de seu programa de compra de ativos no mercado – processo conhecido como tapering – e a expectativa crescia para uma elevação de juros tão logo quanto o ano que vem.

Logo, a chegada da Ômicron trouxe a seguinte dúvida: os efeitos da nova variante serão inflacionários (ou seja, que pressionam ainda mais a inflação) ou deflacionários (ou seja, levam à perda de força da alta de preços)?

Por um lado, a queda na demanda e o desaquecimento da economia causada por mais uma onda de medidas de restrição e de mobilidade no mundo pode retirar a pressão dos preços. Por exemplo, o menor número de voos internacionais reduz a demanda por gasolina, impactando os preços de petróleo – que registraram alta de mais de 50% desde o início da pandemia.

Nesse contexto, os defensores da manutenção dos juros baixos por mais tempo (por verem a inflação atual como majoritariamente temporária) ganharam força dentro do Fed, uma vez que a economia potencialmente perdendo força empurraria os preços para baixo.

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Por outro lado, o recrudescimento da Covid-19 no mundo poderia acabar por piorar ainda mais os problemas nas cadeias globais de suprimento, pressionando ainda mais a inflação, mesmo diante da queda do preço de certos insumos mais relacionados ao forte crescimento econômico global, como commodities energéticas.

Afinal, com o mundo entrando no “modo abre e fecha” novamente, o desequilíbrio entre oferta e demanda por bens e matérias primas poderia muito bem piorar.

Neste cenário, quem ganharia mais força lá dentro do Banco Central da maior economia do mundo seriam aqueles que defendem uma redução ainda mais rápida dos estímulos monetários. Ou seja, bora subir os juros mais cedo, pois ninguém vai segurar essa inflação que vem por aí!

Só sei que nada sei (?)

A reação praticamente “desencontrada” vista nos mercados, especialmente de renda fixa nos EUA, ilustra a falta de consenso sobre o tema – com juros de longo prazo caindo logo nas primeiras notícias, subindo em seguida, e depois caindo novamente.

Aqui no Brasil, o impacto poderia também ter algumas “caras” diferentes:

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O adiamento da elevação de juros poderia ser positivo para países emergentes, que teriam mais alguns meses/ano de liquidez abundante. Dito isso, a aversão ao risco causada pela dúvida sobre o crescimento global em uma nova onda pandêmica poderia anular esses efeitos – afinal, emergentes são também mais arriscados, apesar de oferecerem potenciais maiores retornos (como nós aqui, no Brasil).

Já a aceleração da alta de juros poderia ter o efeito contrário, com a redução da liquidez no mundo pressionando nossa moeda e nossos juros. Isso porque, quanto maiores os juros por lá, menor a entrada de dólares aqui (logo, mais desvalorizada nossa moeda), o que por sua vez impacta nossa inflação. Contribuindo assim, para maiores juros por aqui também.

Em resumo, gostaria de dizer que: “só sei que tudo sei”. Mas a verdade é: assim como outros momentos recentes dessa crise pandêmica, nos resta aguardar as cenas dos próximos capítulos sempre com muita cautela, não entrando em movimentos de pânico ou manada, e tendo a diversificação como melhor amiga nos seus investimentos!

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Rachel de Sá Formada em Relações Internacionais em 2011 pela PUC-SP com passagem pela Universidade Sciences-Po, em Paris.Entrou na XP Investimentos em 2019 como analista de macroeconomia e, em junho de 2021, assumiu o desafio de ser a nova Chefe de Economia da Rico Investimentos (XP Inc.). Rachel é responsável pela análise econômica e política da casa, destacando o que de mais importante está acontecendo no cenário econômico do país e do mundo. Nas redes sociais, é ela quem conta tudo sobre o que está rolando na economia, na política e no mercado. Sempre com uma linguagem “gente como a gente”. Nas horas vagas, anda de bike, surfa e canta em uma banda amadora de rock. Compartilha conteúdos pelo canal @raborgesdesa no Instagram

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