Por que o algoritmo não é um vilão de novela mexicana

Dados não matam a criatividade. Dados iluminam o caminho para que ela alcance mais gente. Números não são jaulas; são bússolas

Rafa Tuma

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Existe uma tese muito popular entre criadores de conteúdo: “números não importam”. É quase um mantra motivacional repetido como quem tenta afastar um fantasma. A ideia é bonita, poética… e completamente desconectada da realidade. Porque, sim: números importam, e MUITO.

É curioso como esse discurso se parece com aquele constrangimento de admitir a importância que o dinheiro tem. O dinheiro tem um baita peso na nossa vida, mas muita gente age como se fosse proibido dizer isso em voz alta.

Criadores não devem cometer esse erro com suas métricas. Não podem tratar likes, comentários e views como se fossem uma vaidade fútil, quando na verdade são o termômetro básico de um negócio que se sustenta em atenção e performance.

E não, números não são tudo. Respeito do público, consistência criativa, postura profissional, qualidade das marcas com quem você se associa… Tudo isso constrói autoridade. Isso diferencia um criador sério de alguém que só posta por postar. Mas assumir que números não importam é como um atleta de alto rendimento dizer que não liga para o cronômetro.

Outra tese comum (e igualmente problemática): “Me preocupo com originalidade, não com engajamento.” Como se uma coisa anulasse a outra. Criatividade é o motor. Engajamento é o volante. Você não dirige só com um deles. Números não são uma massagem no ego — são a prova concreta de que seu conteúdo está funcionando. Principalmente se você vende esse alcance. Quando uma marca contrata o meu trabalho, é claro que ela pode gostar da minha personagem, do roteiro ou do humor. Mas ela contrata porque quer atenção.

E atenção é o ativo mais caro da economia atual. Agora vamos ao ponto que muitos evitam: Números comprados. Sim, eles existem. Sim, estão cada vez mais descarados. Tem aquele “cheiro de bolsa falsa”. Quem conhece minimamente o mercado sabe distinguir o que é orgânico do que é inflado artificialmente. Se você depende de bot para parecer relevante, a métrica pode até subir, mas a credibilidade desaba.

E já que estamos falando de fantasias, vamos ao maior delírio coletivo da creator economy: “O algoritmo não gosta de mim.”

O algoritmo não é um vilão de novela mexicana. Não acorda de mau humor para boicotar o seu post. Ele simplesmente responde as sinalizações humanas.

Interação baixa? Público desinteressado? Conteúdo repetitivo? É isso que o algoritmo está te dizendo — e é exatamente por isso que números são aliados, não inimigos.

Criadores têm acesso a dados que ninguém mais vê: alcance, retenção, quedas de performance, picos, virais, proporção de publis vs. orgânicos. Ignorar esses sinais é como dirigir à noite com o farol apagado. Pelas métricas você enxerga tendências antes delas virarem crises.

“Mas analisar números demais tira a espontaneidade.” Só se você estiver analisando errado. Dados não matam a criatividade. Dados iluminam o caminho para que ela alcance mais gente. Números não são jaulas; são bússolas.

No fim, é simples: quem cria conteúdo profissionalmente precisa tratar números como parte do ofício. Sem tabu, sem paranoia, sem romantizar a própria cegueira. Ignorar métricas não é profundidade artística. É descuido da estratégia.

A creator economy é enorme, competitiva e veloz. E, nesse cenário, você pode até não gostar de números. Mas eles continuam, silenciosamente, dizendo muito sobre você.

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Rafa Tuma

Designer há mais de dez anos, Rafaella Tuma decidiu adaptar animações e ilustrações próprias para atrair mais facilmente o público das redes sociais, acostumado a vídeos curtos e divertidos. Cerca de um mês depois, conseguiu um rápido crescimento em seus perfis, conquistando mais de um milhão de seguidores no Instagram e ampliando o número de fãs no TikTok, onde alcançou a marca de quase 20 milhões de curtidas. Rafaella passou a ilustrar áudios engraçados, sempre priorizando um humor leve. Positiva e fã de comédia, a paulista de Ribeirão Preto faz esses traços se refletirem no conteúdo que compartilha. Formada em Design Gráfico, também cursou Administração e Marketing e possui especialização em Motion Graphics.