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Você não precisa estar cronicamente online para já ter ouvido falar sobre brain rot. O termo descreve a sensação de esgotamento mental causada pelo consumo constante de conteúdo raso e reflete um certo cansaço coletivo diante do scroll infinito e da enxurrada de estímulos digitais. No fundo, é um espelho de uma fadiga coletiva diante da superprodução de conteúdo (muito dela, hoje, feita por IA). Com mais criadores, mais conteúdo e mais opções do que nunca, o público está sendo consumido por esse estado de paralisia. A verdadeira escassez não é mais de conteúdo, é de atenção.
Mas falar em Economia da Atenção – um sistema em que o tempo das pessoas virou o ativo mais disputado do planeta – a essa altura, em 2025, parece um pouco datado. Em um artigo sobre viralismo, os teóricos culturais Andre Alves e Lucas Liedke, da Float Vibes, investigam o colapso emocional e simbólico das redes sociais, impulsionados pelo brain rot, e apontam como esse sistema foi dando lugar à uma nova Economia: a da Tensão, em que o conteúdo busca provocar e não mais explicar, alimentando o ruído, o histrionismo e o superlativo. Se a batalha pela atenção ficou mais acirrada, os criadores precisariam se tornar ainda mais apelativos para provocar algum tipo de emoção e curiosidade no público.
Mas antes que o algoritmo nos engula por completo, com tantos estímulos, tanta IA, levando a produção de conteúdo a níveis nunca antes vistos, vemos a ascensão de uma nova era: uma economia impulsionada para que marcas e produtores de conteúdo respondam às reais intenções das pessoas, em vez de disputar a sua atenção. Dessa forma, o conteúdo passa então a ser feito sob medida para comunidades e não mais para suprir algoritmos. Estamos falando da Economia da Intenção.
Uma virada de chave cultural em que o valor do conteúdo não está mais em capturar olhares, mas em direcionar movimentos. As pessoas não querem só assistir, querem participar. O criador que entende isso deixa de performar em busca de likes e se torna, acima de tudo e antes de mais nada, um curador: alguém que guia, orienta e inspira, em vez de apenas entreter.
Nesse novo sistema, as métricas de vaidade — likes, views, alcance — cedem espaço a indicadores de profundidade: taxa de abertura, engajamento real, conversas na inbox. Mais volume pode até significar mais views. E no limite, até mais receita. Mas não significa mais relevância. Em um cenário dominado por feeds que ditam o que vemos, plataformas como o Substack, por exemplo, simbolizam um movimento, ainda tímido, mas ascendente: a migração da descoberta para a escolha. E, aqui, vale um parênteses: a Era da Intenção claramente traz um novo olhar sobre o modelo de negócios do influenciador. Hoje, os criadores têm múltiplas fontes de receita, desenvolvem IPs como ativos de longo prazo, e passam a ter métricas de um business real. Mas eles não vendem apenas atenção, eles monetizam o relacionamento com as suas comunidades.
Existe um lugar onde em vez de disputar espaço em timelines caóticas, criadores constroem relações diretas, intencionais e recorrentes com suas audiências. O público paga por uma certa proximidade e um senso de exclusividade. E o criador retribui com uma promessa mais simples (e mais potente): se você me escolheu, eu te entrego algo que vale o seu tempo.
Na Era da Intenção, o ponto de convergência entre criadores de conteúdo e suas comunidades passa a ser o propósito compartilhado. E as marcas que conseguem entrar nessa equação de forma genuína estão largando na frente. O público está mais atento, crítico e vigilante em relação aos movimentos que consomem e, por isso mesmo, cobram coerência e postura das marcas e dos criadores.
O próximo movimento dessa virada é a integração entre o digital e o físico — um novo estágio em que as comunidades passam a existir em ambos os territórios, sem fronteira entre o que acontece na tela e o que acontece fora dela. A influência se torna phygital: o conteúdo ganha corpo, textura e presença. Do live podcast que se transforma em turnê ao jantar temático inspirado em um feed, das collabs que viram objetos de desejo às experiências imersivas que nascem de um post, o criador deixa de ser apenas voz e se torna espaço. É a cultura saindo do digital e voltando para o mundo, mas carregando consigo o poder da conexão construída online.
A quantidade de informação que a gente recebe todos os dias não vai respeitar qualquer escala do que é possível absorver. O mundo não vai diminuir de ritmo. É natural que a alternativa a essa enxurrada passe por menos estímulos, menos telas, até menos consumo. É a pausa como novo luxo. O conteúdo anti-scroll: que não tenta disputar o ritmo, mas criar um respiro dentro dele.
Estamos entrando em uma nova fase da Creator Economy. As marcas, agências e criadores mais maduros já entenderam: não basta estar presente. É preciso estar posicionado. Agora, não é sobre produzir mais, é sobre produzir com propósito e intenção.