STOCK PICKERS NO AR Halving: o Bitcoin vai explodir ou implodir? Entenda o que realmente deve acontecer

Halving: o Bitcoin vai explodir ou implodir? Entenda o que realmente deve acontecer

Fechar Ads

Yellow, Itaú e ciclovias: o mercado como amigo das políticas públicas

Empresas com fins lucrativos foram cruciais para tornar úteis as ciclovias de São Paulo. A interação entre a política urbana e serviços privados como a Yellow, Grin e BikeItaú é útil para entender como o mercado pode ser um grande parceiro das políticas públicas.
Por  Pedro Menezes
info_outline

Importante: os comentários e opiniões contidos neste texto são responsabilidade do autor e não necessariamente refletem a opinião do InfoMoney ou de seus controladores

Ao longo do Rio Pinheiros, nas margens da Avenida Brigadeiro Faria Lima, há o centro financeiro do Brasil e um engarrafamento de bicicletas. A ciclovia da avenida, instalada há poucos anos como um símbolo da gestão de Fernando Haddad, foi tomada em 2018 por bicicletas e patinetes elétricos, ofertados por empresas que surgiram recentemente para atender à demanda.

A Yellow, start-up que está na última capa da VejaSP, oferece bikes e patinetes elétricos por aluguel, a preços módicos. A bike custa um real a cada quinze minutos. O cliente pode pegar e deixar em qualquer calçada de determinada região da cidade. Uma trava impede o roubo das bicicletas e um design único dificulta venda de peças roubadas. A trava pode ser desbloqueada por qualquer smartphone.

Pouco a pouco, as bicicletas amarelinhas tomaram a região. A Grin, exclusivamente dedicada a patinetes elétricos verdes, tem um sistema semelhante. Em 2019, o Uber deve entrar nesse mercado, com bicicletas elétricas que podem ser desbloqueadas por smartphone e deixadas em qualquer lugar da cidade. Outras empresas estrangeiras mostram interesse em entrar no mercado paulistano.

O BikeItaú é outro serviço de sucesso na região, com expansão frequente das estações. A Rappi, empresa de entregas por aplicativo, tem feito parcerias para permitir que os entregadores usem bicicletas da Yellow e BikeItaú. Dentro dos bairros, especialmente em Pinheiros, surgiram diversas empresas dedicadas à produção e venda de bikes elétricas, como Vela e Lev.

A ciclovia adentra os principais bairros próximos, da Lapa ao Brooklin, passando por Vila Madalena, Pinheiros, Jardins, Itaim Bibi e Vila Olímpia. Inicialmente, pouca gente circulava e as faixas vermelhas vazias se tornaram um motivo de piada. Pouco a pouco, o cenário mudou. O capitalismo foi crucial para os sucessos da política urbana de um petista.

Em resumo, São Paulo vive um bom exemplo de como o mercado pode se tornar amigo das políticas públicas.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O mercado é uma plataforma de trocas, de equilíbrio entre interesses, oferta e demanda. O Estado é o agente com maior influência no modo como essas trocas se dão.

O equilíbrio de mercado se dá sempre após alguma influência do Estado, mesmo nos países mais livre-mercadistas. Se o Estado dedicar-se a construir estradas, pontes e viadutos, as pessoas vão usar carros. Assim ocorria em São Paulo e no Brasil.

O carro ganhou das bikes, calçadas e trens porque as pessoas foram incentivadas a usar carros desde sempre. Os efeitos colaterais daí resultantes, como cidades piores e altos custos de transporte pelo país, não são falhas de mercado, mas resultados ruins incentivados pelo Estado.

Tanto não era uma falha de mercado que a mudança na direção de um transporte não-poluente, barato e útil para o cidadão só foi viabilizada pelo mercado. As ciclovias construídas por Haddad dependeram de empresas com fins lucrativos para se viabilizarem.

Vale notar que essa é uma via de mão dupla. Yellow, Grin e dezenas de empresas só se tornaram viáveis por conta das ciclovias construídas pelo Estado. Essa interação construtiva ensina muito a certos preconceitos ideológicos.

À esquerda, é importante notar que a intervenção do Estado dependeu do mercado, da busca pelo lucro. Tentar planejar a mudança de preferências dos milhares de paulistanos que trocaram carros por bicicletas seria inútil. O Estado seria incapaz de um projeto tão ambicioso. O que ele pode fazer é fornecer uma plataforma para que soluções privadas surjam.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Aos liberais, a experiência ensina que política pública não é a mesma coisa que socialismo. Uma ação do Estado na busca por transporte limpo e barato não precisa ser anticapitalista.

O Estado sempre interfere, a grande questão está em como isso é feito. Se não fosse com ciclovias, seria com viadutos e pontes que consomem muito mais dinheiro público com menor retorno social. Mesmo considerando a polêmica em torno do custo das ciclovias paulistanas, em grande parte distorcidas pela conflação entre o custo das ciclovias e o das intervenções viárias simultâneas que ocorreram, trata-se de uma política urbana mais barata do que a expansão das viaspara carros.

A boa política é aquela capaz de convencer os interesses privados a solucionarem um problema público. Como bem sabia Adam Smith, a melhor face do capitalismo está nas famílias alimentadas pelo egoísmo de um padeiro. Se o Estado fizer bem feito o que a iniciativa privada não pode fazer, o egoísmo com fins lucrativos pode ser um grande parceiro do interesse coletivo.

Seja sócio das maiores empresas da bolsa com TAXA ZERO de corretagem! Clique aqui e abra uma conta na Clear! 

 

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Pedro Menezes Pedro Menezes é fundador e editor do Instituto Mercado Popular, um grupo de pesquisadores focado em políticas públicas e desigualdade social.

Compartilhe
Mais sobre

Mais de Pedro Menezes

Pedro Menezes

Guedes ataca a IFI. O Senado aceitará calado?

Paulo Guedes inventa erros que a Instituição Fiscal Independente não cometeu e pede intervenção numa instituição de controle subordinada ao Senado. A IFI tem como missão produzir informações que podem o contrariar o governo. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, ouviu calado
Real, Brazilian Currency - BRL. Dinheiro, Brasil, Currency, Reais, Money, Brazil. Real coin on a pile of money bills.
Pedro Menezes

A volatilidade do real revela uma economia dominada pela incerteza

Além de ter se desvalorizado ao longo do ano, o Real é uma das moedas mais voláteis entre economias emergentes. O ambiente interno é fonte de diversas incertezas, que colaboram para a volatilidade da moeda brasileira. Portanto, uma dúvida se impõe: a política brasileira vai contribuir para diminuir as incertezas que agitaram o mercado de câmbio em 2020?
Pedro Menezes

Relator do PL 2630 tentou censura generalizada, mas falhou

Substitutivo elaborado pelo senador Angelo Coronel tentou exigir comprovante de residência para cadastro em rede sociais, exclusão de conteúdo após a mera abertura de processo judicial, dentre outros absurdos. A confusão envolvendo o relatório acabou adiando a votação do PL, que era prevista para hoje